Nicola Okin Frioli |
Justo no México, país com fortes traços machistas e homofóbicos, há uma localidade que se distingue nitidamente de suas cercanias: é Juchitán, a cidade com mais do que dois sexos.
Em algumas comunidades perto da cidade de Juchitán, existem homens que assumem os papéis tradicionais das mulheres, eles são conhecidos como "Muxes". Um Muxe, ou Muxhe (termo usado para todos os gays na região e que é derivado do vocábulo espanhol, usado no século XVI, para se referir às mulheres.), é um indivíduo biologicamente masculino que se veste e se comporta de maneira feminina; geralmente são vistos como um terceiro gênero em vez de uma orientação sexual, embora ambos os indivíduos, gays e transgêneros, são aceitos na comunidade. Los Muxes (pronunciado MOO-shays) não só são aceitos, são também acolhidos e vistos como símbolos de boa sorte.
Juchitán em particular e o estado de Oaxaca têm uma influência muito marcante para a cultura mexicana, marcada especialmente pela cultura indígena (especificamente Zapoteca), que outras regiões do país não tem.
Muxes são considerados também um amparo na velhice dos pais pois, ao contrário das filhas e filhos que se casam e vão embora, eles permanecem em casa. O filho Muxe também preenche o vazio afetivo da mãe, deixado pelo marido ausente ou morto.
A maioria dos homens tem suas primeiras experiências sexuais da adolescência com um Muxe, muitos retornam a essa experiência reiteradamente na idade adulta, algo em geral acompanhado por um alto consumo alcoólico. Por mais que seja raro, também há homens que vivem numa relação estável com um Muxe, sem que isso altere seu status de "macho". Do mesmo modo, também há casos igualmente raros de Muxes que vivem numa relação fixa com uma mulher e têm filhos, sem que isso altere em nada seu status de Muxe. Em contrapartida, o contato sexual entre Muxes é mal visto e considerado uma quebra de tabu no sistema de regras sexuais.
Segundo um motorista de taxi local, existe um homossexual em todas as famílias. Ele também afirma que Muxes "caíram de um bolso furado de San Vicente Ferrer", o santo patrono de Juchitán, durante sua peregrinação pela cidade. É sorte para um homossexual nascer em Juchitán, onde a população de 160 mil pessoas, em sua maioria, respeita os Muxes. Eles ganharam espaço na economia e atividades políticas que são normalmente reservadas para homens heterossexuais. Eles são donos de lojas, trabalham em hospitais, são estilistas de sucesso de vestimentas típicas do local, entre outros.
Segundo o antropólogo Lynn Stephen, eles "podem fazer certos tipos de trabalho de mulheres, como bordados ou altares domésticos de decoração, mas outros fazem o trabalho masculino de confecção de joias. Muitos agora fazem trabalhos braçais e estão envolvidos em política."
Muxes sãos estilistas, cozinheiros, coreógrafos, desenham e confeccionam os trajes regionais femininos e os acessórios para os cabelos, os vestidos de gala para casamentos e datas religiosas, comemorações de quinze anos, os carros alegóricos em papier mâché para os desfiles e festas, dirigem os bailes e fabricam a comida tradicional das "Velas" (festivais) de San Antonio, San Jacinto e a Vela Agosto, dedicada à Imaculada Conceição.
O fotógrafo Nicola "Okin" Frioli, que já teve seus trabalhos publicados por vários anos em revistas e jornais como National Geographic (Alemanha), Time Magazine, The New Yorker, Geo, The Guardian, Internazionale, Glamour, Vanity Fair etc., viajou para Juchitán para capturar esta cultura através de sua lente para a série, "We are Princesses in a land of Machos". Veja abaixo algumas fotos de Nicola
Maravilha!!!! Por isso que eu amo viver, mesmo com os problemas gerados pela discriminação. Q gente acaba sabendo de coisas e lugares maravilhosos como esse, como Juchitán, anos luz à nossa frente.... que maravilha!!!!
ResponderExcluirricardo aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br