A derrota da Igreja!

Por: Julio Marinho


A Igreja Católica, tem sofrido várias derrotas nos últimos anos, principalmente no que diz respeito as investidas contras os direitos  dos LGBTs. Vários países, apesar da mobilização contrária da Igreja, tem aprovado leis que beneficiam os homossexuais, em muitos desses países por exemplo, os gays já tem direito ao casamento e a adoção.  Porém o  resultado dessa luta, além da derrota evidente, revela um outro dado preocupante para a Igreja. Pesquisa feita pelo Instituto Gallup revelou que, dentre os seguidores da Igreja Católica nos EUA , houve um aumento significativo da aprovação aos relacionamentos gays, de 46% em 2006 para 62% em 2010.  Um aumento de 16 pontos percentuais. Entre os que não seguem  as religiões judaico/cristã/islamica e ateus a aprovação chega a 85%. O levantamento também mostra que o nível homofóbico de uma religião influencia  diretamente a opinião de seus fiéis, quanto mais homofobia, mais  rejeição.

A derrota da Igreja Católica argentina, na semana passada, em relação a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, expõe uma fragilidade que até bem pouco tempo, seria inimaginável numa America Latina extremamente religiosa. Este tipo de revés, é um claro sinal de que a Igreja está perdendo seu grande poder de influenciar decisões políticas, como fazia com absoluto sucesso no passado.

Além do casamento, a lei dá aos casais homossexuais o direito a adoção. A Igreja, evidentemente, era contra e classificou a aprovação da lei como "perversa". Já os homossexuais, como não poderia deixar de ser, comemoraram muito a nova medida.

O Cardeal Arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, em uma carta enviada aos parlamentares antes da votação, teria dito: "Não sejamos ingênuos: esta não é só uma luta política, é uma estratégia para destruir o plano de Deus". É como se o Cardeal tivesse saido diretamente de um romance de Dan Brown.

Além da Argentina, a Cidade do México e o Uruguai, já haviam ano passado, proporcionado derrotas semelhantes a Igreja Católica. Aliás, há uma tendência muito forte de que outros países venham a aprovar leis socialmente mais justas para os LGBTs. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, também prometeu dar mais direitos a casais homossexuais.

Segundo Ana Maria Bidegain, professora de estudos religiosos da Universidade Internacional da Flórida argumenta, "Evidentemente a Igreja tem perdido presença e influência a respeito de decisões políticas, o que é parte do processo de secularização. As pessoas ainda são católicas e ainda acreditam nos fundamentos ... mas não concordam mais com o que diz (a Igreja) a respeito da moralidade", afirmou.

Uma das razões citadas por ela para a perda da influência católica é a urbanização da América Latina, onde há mais espaço para as pessoas vivenciarem o catolicismo "do seu jeito." Outro fator lembrado pela estudiosa são os casos de pedofilia envolvendo padres do mundo todo.

Já para o deputado argentino Ricardo Cuccovillo, do Partido Socialista,  o clero ainda tem forte influência sobre alguns parlamentares que "não entendem que a Igreja tem um papel apenas no campo da fé, e que os deputados têm um papel a desempenhar no campo da democracia." Lembrou também o deputado, que muitas das ditaduras militares latino-americanas da década de 1970 foram fortemente vinculadas a Igreja Católica, e que a diminuição dessa influência é parte da evolução democrática. "Outros países avançam em outras áreas, e nós avançamos nos direitos dos homossexuais, e assim complementamos uns aos outros na região. Acho que nesse caso em particular a aprovação da lei terá um efeito de atração (para que outros países façam o mesmo)", disse o deputado.

É  exatamente por ser contra essa tendência que o arcebispo de Lima, Juan Luis Cipriani, pediu esta semana aos políticos peruanos que, evitem deixar as reivindicações dos homossexuais dominar a campanha para as próximas eleições. "Acho que não há necessidade de imitar a Argentina", teria dito a  imprensa local.

É evidente o tom de desespero da Igreja, não é apenas uma luta contra os direitos LGBTs, é uma luta contra sua própria decadência. Mas o que esperar de uma instituição que abriga em seu passado a Inquisição, as Cruzadas, a alienação quanto a escravidão e ao nazismo e tantos outros erros históricos cometidos, ao longo de sua história.

É triste ver uma instituição que, apesar de seu discurso libertário, sempre esteve ligada aos movimentos mais opressores.