Elke Maravilha e a cagação de regra

Por: Julio Marinho

"Respeito os gays, e acredito que todos devem ter os mesmos direitos. Mas casamento? Não! Eu pensava que gay era inteligente, mas querer cometer os mesmos erros dos héteros? (risos)"

A frase acima foi dita por Elke Maravilha - uma pessoa que, até então, eu julgava inteligente - em entrevista à revista "Junior" deste mês. Mas ela não é a primeira a meter o bedelho na vida alheia e tentar ser engraçada ao mesmo tempo. Aliás, via de regra, essas tentativas toscas de se fazer humor com a vida alheia sempre se mostram desastrosas e patéticas. Há quem diga que ela foi irônica, pode ser, mas ainda assim foi uma bola fora. Varias outras pessoas, personalidades até, já incorreram no mesmo erro. O problema é que, quando isso sai da boca de uma pessoa com a capacidade intelectual e de personalidade libertária (pelo menos é o que eu achava), como a da citada, ai a coisa muda de figura, o peso é maior e fica até mais assustador.

Não sei de onde a Elke tirou a conclusão de que o casamento é uma "burrice", talvez pelo fato de não ter dado certo para ela, não sei, o fato é que isso não lhe dá o direito de sair julgando todos os casamentos, tomando como base as suas experiências pessoais, isso sim me parece ser uma burrice. Se não deu certo para ela, a única coisa eu eu posso fazer é lamentar. Se ela acha uma burrice, e tem todo direito de achar, que isso seja um parâmetro para ser usado nos seus próximos relacionamentos, passou disso é cagação de regra. A opinião dela, ou de outra pessoa qualquer, não irá afetar a decisão de quem acha que merece e tem o direito de viver essa experiência, uma ou quantas vezes lhe der na telha. O que as pessoas precisam urgentemente aprender é que, a vida do outro é exatamente isso, DO OUTRO, portanto, a menos que a pessoa lhe peça uma opinião, você deve guardá-la para si, a não ser que queira passar o recibo de intrometido(a) e/ou fofoqueiro(a).

Casamentos são experiências únicas, o que dá certo para um, pode dar super errado para outro e vice-versa. O meu relacionamento com meu parceiro, pode até parecer semelhante com o casal ao lado, ou um outro na China, Nova Iguaçu, Guiné-Bissau, Alasca ou Botucatu, mas não passa disso, uma mera e aparente semelhança. Se uma pessoa é diferente da outra, por que seus relacionamentos seriam iguais?

Mas o ponto mais impactante na fala da Elke não é esse. O que ela não percebe, finge não perceber, ou percebe e mesmo assim faz uma brincadeira irresponsável sobre a vida e os direitos civis alheios, é que a questão não é se o casamento é, ou deixa de ser, como ela diz, uma "burrice". Eu tenho que ter o direito, inclusive, de ser burro ao ponto de querer me casar uma, duas, trezentas mil vezes, se é essa a questão. Para a Elke, não somos inteligentes por que exigimos direitos iguais, é isso? É burrice não querer que meus parentes tomem meus bens após eu morrer deixando meu companheiro sem nada? É burrice lutar por receber pensão após a morte do meu marido? É burrice lutar por decidir onde e como eu ou meu companheiro seremos enterrados? É burrice lutar para ter os mesmos direitos que um casal hétero? Então sim, sou burro e tenho o direito de sê-lo, Dona Elke Maravilha, lide com isso. 

Portanto, querida Elke Maravilha, precisamos equiparar nossos direitos, afinal de contas, como já dissemos inúmeras vezes, temos os mesmos deveres e obrigações civis, logo, nada mais justo que tenhamos os mesmos direitos também. Quando vamos declarar nosso imposto de renda, não existe a opção: Gay, ou não gay; Ao pagar o IPTU ou IPVA, não importa se o dono do imóvel ou automóvel seja gay ou não; nossas contas de luz, água, telefone etc., não têm desconto por sermos gays - e nem queremos que tenha -, só para citar alguns exemplos. Queremos cidadania plena Dona Elke. Simples assim!

Para concluir, se ter os mesmos direitos é "burrice", eu prefiro ser burro. E o serei com o maior orgulho e prazer, prefiro ser um "burro" com os mesmos direitos, do que um cidadão "inteligente" de segunda classe. 


Comentários

  1. Ainda bem que alguém se manifestou, também achei ridicula a fala dela.

    ResponderExcluir
  2. Enfim, mais uma desilusão e mais um ídolo que cai, junto com vários outros que eu amei e que passaram a falar bobagens. compreendo a Elke, mesmo assim não aceito. A questão é a seguinte: nos anos '60 e '70, no pós Movimento Hippie, o casamento foi algo muito questionado como uma instituição burguesa. Queríamos revolucionar o mundo e derrubar tudo que fosse considerado o "certo" para a época anterior. Junte-se a isso o feminismo, e todos os outros movimentos sociais incipientes naquele tempo. Então, ficou algo bem comum ver esse pessoal que viveu intensamente esses momentos da história questionar todo o resto. Nacha Guevara, grande cantora de esquerda da Argentina e vários outros ícones falam a mesma coisa, acham o casamento algo horrível, não deu certo para eles e elas, então repudiam, acham "burguês". O que essa gente não entende são duas coisas: uma, o tempo mudou, a época é outra e outras são as demandas atuais. Dois, todas as pessoas têm que ter DIREITOS IGUAIS. Todas! Se eu quiser, posso declinar desse direito, posso escolher se quero ou não casar. O que não aceito, acho ofensa violenta, é me tirarem o direito de escolher só por que sou homossexual ou LGBT. A minha vida e as minhas experiências só interessam a mim, se algo falhou comigo nem por isso devo militar para que meu próximo não tenha mais acesso a esse algo. Resumindo surrealmente: se um hétero tiver o direito de cagar de ponta cabeça, eu quero ter o mesmo direito, mesmo que nunca venha a usá-lo, por "n" razões, mas quero ter. Ela não quer casar, que não case. Ela acha casamento um valor burguês, problema dela, outro pode não achar e, inclusive, ser feliz. Conheço um monte de casamentos que não deram certo. E um monte que deram. Ninguém tem que deixar de casar só para agradar a ideologia da dona Elke Maravilha, que, nessa fala virou Elke Horrível.
    Cercear meus direitos? Nananinanão!
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

    ResponderExcluir
  3. Muito me espanta e mais ainda, irrita o quanto de pessoas que se "preocupam" com a vida alheia. Incomoda tanto a felicidade de outros???

    ResponderExcluir
  4. Compreendo o que a Elke Maravilha colocou e de certa forma corroboro com o pensamento dela, não estou aqui defendendo que o casamento não deva ser um Direito garantido a todxs. Aos que querem casar com homem, mulher, com dois, três e construir suas famílias como assim desejarem. O Direito à Família é um DIREITO HUMANO. No entanto se faz necessário pensar além. Buscar mais do que um enquadramento social mais do que nos enquadramos em normas, mais do que buscar ser de outra forma, buscar formas novas de ser. Descontruir as opções que nos foram ofertadas, estar à parte delas e desenharmos novas opções novas construções. Novos caminho e talvez uma nova busca.

    ResponderExcluir
  5. Livros Homoeroticos, buscar formas novas de ser e de se relacionar é um direito de todos e é justamente isso que defendemos. Mas essa é uma busca de cada um que NÃO PODE DE MANEIRA ALGUMA ser imposta ao outro, não se pode determinar, a partir dos seus desejos e anseios, o que o outro precisa ou deixa de precisar fazer com sua vida. É contra essa intromissão, esse autoritarismo que lutamos.

    ResponderExcluir
  6. A Elke em momento algum colocou que é contra o casamento, apenas fez uma crítica bem humorada aos enquadramentos sociais e essa busca que os gays tem pela reconhecimento através da assemelhação à heterossexualidade. As conquistas de Direitos são sempre bem vindas e o Direito já esta ai positivado, inclusive a partir da promulgação da Constituição de 1988. Agora devemos avançar e pensar novas formas, formas criativas de existir. O que não dá para ficar é nessa de isso pode, isso não pode, certo ou errado. Parece-me evidente que uma coisa não necessariamente excluirá a outra, no entanto o discurso propagado pelo movimento homosseuxal (gay, branco, da classe média) é esse de integração social em detrimento dos discursos periféricas. Agora que pode casar não se pode mais ser "promiscuo". Essa é a forma "correta" de vivenciar a homossexualidade, através do casamento, enquanto qualquer forma que se mostre destoante dessa continuará a ser criticado e subjugado.

    ResponderExcluir
  7. Livros rsrsrs logo se vê que vc não conhece o blog nem quem escreve aqui, como eu por exemplo. Aqui, Livros, nós primamos justamente pelas liberdades de escolha. Defendemos o direitos das pessoas serem como são e como quiserem ser. Esse "agora pode casar não se pode mais ser promiscuo" é tudo que não aceitamos aqui Livros, não fale bobagem. Nos conheça melhor antes de vir nos acusar de forma leviana, de fazermos parte de um grupo que não tem nada a ver conosco (gay, branco, da classe média) risos. Leia nossos textos, como o excelente artigo do Ricardo Aguieiras (http://www.nossostons.com/2012/05/promiscuidade-de-cu-e-rola.html), só para citar um exemplo. Eu penso assim Livros, se héteros tem direito a algo, EU TAMBÉM QUERO TER, nem que eu não vá usar esse direito, mas quero tê-lo. Mesmo sendo uma completa bobagem, EU QUERO ASSIM MESMO. E sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo aqui no Brasil, é uma decisão da justiça, não há ma lei que regulamente, e EU QUERO ESSA LEI, tenho que ter direito a ela, assim como os héteros tem, se vou me casar ou não, não importa, EU TENHO QUE TER ESSE DIREITO, SIMPLES ASSIM!

    ResponderExcluir
  8. É uma pena saber que a "tão querida pelos gays do Brasil" tem esta opinião... bem, mas não dá pra existir meia democracia ou meio direito de expressão não é mesmo? É bom que cada um possa expressar o que pensa, e viver conforme seus princípios, desde que não agrida o outro.Qualquer um de nós tb pode achar e dizer que cabelos coloridos, depois de certa idade são expressão de burrice...desce o pano.
    Athos/Rio de Janeiro

    ResponderExcluir
  9. eu concordo com elke - alguns podem até serem lá muito felizes no casamento e tals - e independente de orientação sexual/emocional - mas eu opino que casamento é uma boa merda! aí, quem quiser casar ou não, já não é mais comigo. elke te amamos sua linda, mesmo vc sendo russa

    ResponderExcluir
  10. Quando o casamento parecia a caminho de se tornar obsoleto, substituído pela coabitação sem nenhum significado maior, chegam os gays para acabar com essa pouca-vergonha. (Luis Fernando Veríssimo)

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comentários ofensivos não serão aceitos!