Gay vilão, por qual razão?

Por: Marco Trajano

Tenho visto nas redes sociais manifestações sobre se o personagem gay e o vilão da nova novela das nove "Amar à vida", Félix Khoury, interpretado por Mateus Solano representa ou não os homossexuais. A pergunta que me fiz é quem são os gays afinal de contas? Temos uma representação? Temos um modelo? Somos todos iguais? 

Félix Khoury é gay, casado com Edith (personagem de Bárbara Paz), inseguro, com muito medo de ser descoberto enquanto gay, vive lutando para ter a aprovação do pai, deseja desesperadamente ter a aprovação do pai. Félix, em razão dessa baixa auto estima, em razão dessa maldita homofobia pratica pequenas e grandes vilanias acreditando que, ao final, será aceito sobretudo pelo pai. Claro que aqui estamos presenciando uma potencialização dessas vilanias por tratar-se de novela que precisa de ibope. Há aqui o exagero clássico da ficção.

Félix talvez pense: Sou gay, mas não sou covarde; sou gay e faço tudo pra manter o patrimônio da família, sou gay, mas administro esse hospital muito bem! Nesse sentido o desejo de aceitação, o desejo de ser amado e querido pelos pais, pela família me parece ser algo comum a todos nós. É como se fosse uma compensação! 

Quanto às vilanias, será mesmo que não as temos? Não seria uma pequena vilania debochar do cabelo da outra? Não seria uma pequena vilania detonar a roupa da outra? Não seria uma pequena vilania considerar a pintosa menos desejável que a Barbie? Não seria uma vilania considerar o gay pobre um cara feio e bobo? Não seria uma vilania criticar as paradas gays como sendo algo despolitizado, mas não fazer absolutamente nada para politiza-la? Não seria uma grande vilania a comunidade LGBT que, querendo desqualificar o homofóbico, o chama de bicha incubada? Consideramos vilão aquele adolescente que solta foguetes nas comunidades para avisar aos traficantes que a policia esta chegando, mas não nos consideramos vilões quando piscamos o farol do carro, na estrada, pra avisar ao outro que mais a frente há uma blitz da policia.

Félix Khoury trás em sua alma toda a angustia, todo o desespero e todo o medo que a maldita homofobia impõe. Portanto acho que devemos pensar não se Felix Khoury nos representa ou não; mas sim o que a homofobia faz com as pessoas, sobretudo com as pessoas gays e nesse sentido Felix merece o meu apoio e não o meu repudio! 

A homofobia nos joga no armário, nos transforma em pessoas desequilibradas emocionalmente, em suicidas, em vingativos, em grandes e em pequenos vilões! A Homofobia nos transforma em pessoas triste e infelizes e Felix Khoury é resultado disso! Penso que devemos pegar essa historia de ficção e mostrar ao PSC, por exemplo, o quanto o exemplo de família feliz que ele tenta impor é uma falácia, pois desconsidera completamente o outro. Se feliz não tivesse que viver no armário seria ele um vilão? Seria ele um cara tao desesperado? tao angustiado? Dizer que ele nao nos representa nao seria tambem uma pequena vilania?

Comentários

  1. Em primeiro lugar, um texto perfeito do Marco Trajano, grande guerreiro de Juiz de Gora - MG, um dos líderes do MGM, que tem uma História com H maiúsculo. Vou compartilhar!!
    Bom, a maldade, assim como a bondade, são inerentes a condição humana e ambas parecem, no mundo, não ter limites.
    Gays são seres humanos e possuem todas as ideosincrasias do ser humano, contradições e erros, como está muito bem colocado no texto.
    Todos e todas somos "bons " e "ruins" em determinados momentos da vida, dependendo da situação, do olhar de quem olha ou é vítima, dos valores individuais, da época em que se vive. Dividir o mundo entre o "Bem" e o "Mau" gera interpretações rasteiras. Conheci pessoas capazes de grandes gestos humanitários, mass que tinham umas manias mesquinhas em suas vidas pessoais. Eu mesmo não sou um ser recomendável para ninguém...rsrsrs
    É perfeitamente compreensível para um Movimento de minorias como o nosso, tão discriminado e perseguido, que se procure pontos de afirmação. Negros, na Luta pelos Direitos Civis, nos EUA, fizeram isso, feministas idem, a gente tente a se achar melhor do que as pessoas que nos discriminam.
    Mas é preciso acabar com o "bom mocismo", por que este também cobra um preço com uma moralidade que não nos fará bem, mais adiante.
    Beijos ao Trajano e ao Julio Marinho por disponibilizar o texto aqui.
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  2. Muito bom!! Gostei da argumentação clara, do texto super bem construído!! Parabéns!

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  3. Nossa ótimo texto disse tudo parabéns

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