Por: Walter Silva
Os conservadores dizem que a palavra ''casal'' é inadequada para se referir às relações do mesmo sexo. É comum a maioria deles se referir aos amantes homossexuais nomeando-os como ''um par do mesmo sexo''.
Reacionários vão além e dizem que a própria ideia de um casamento do mesmo sexo é um experimento social moderno, tão moderno quanto a invenção dos celulares.
De forma análoga e um tanto bizarra, há ativistas LGBT que concordam com tais afirmações; os adeptos do dogma da ''construção social'', de modo comum, dizem que o casamento gay é ''domesticação'' e ''assimilação'' de valores heteronormativos.
Uma mentira repetida muitas vezes acaba por se tornar uma verdade; neste sentido penso que seja obrigação dos militantes LGBT não permitir que a História da comunidade LGBT sofra uma faxina étnica cultural e desapareça sob o edifício das teorias pós modernas de identidade de orientação sexual.
Por que o passado é importante para nós? Porque é nosso patrimônio, é nossa memória, é o local onde eventualmente nós iremos nos reconhecer e encontrar um antídoto para a homofobia e transfobia que mata nosso espírito e envenena nossos corpos.
Tanto o termo ''casamento'' quanto ''casal'' surgiram de ''casale'' (casario), que terminou por se transformar em ''casa''.
Casal é a denominação dada aos habitantes da casa; casamento (do latim casamentum) é o terreno onde está construída a Casa.
Absolutamente nenhuma referência a diferença de gênero, como se percebe.
Sem ferir as regras da linguística, pois, é perfeitamente justo e lícito chamar as pessoas envolvidas em uma relação amorosa do mesmo sexo de ''casal''.
E não, o casamento do mesmo sexo não é uma experiência social moderna, como o aparelho celular.
Há inúmeras referências ao casamento Gay em documentos ao longo do tempo em muitas culturas ao redor do mundo, atestando sua tradição própria, original e independente da tradição do casamento do sexo oposto. Há vestígios arqueológicos (tumbas, registros de paróquias, etc), há testemunhas históricas de que no passado casais do mesmo sexo ''se casaram'' de fato.
Em 12 de fevereiro de 1834, Anne Lister registrou em seus diários a decisão de solenizar sua relação com Ann Walker:
''Ela me deu um anel como símbolo de nossa união. Eu disse a ela que nosso relacionamento seria igual um casamento. Ela respondeu que seria muito melhor''.
Posteriormente as duas noivas lésbicas se casaram em uma antiga igreja em Halifax.
O filósofo Montaigne, séculos antes, menciona o relato de uma testemunha (um embaixador veneziano) de um casamento gay coletivo numa igreja em Roma, que ele chamou de ''uma estranha irmandade''; após a cerimônia, de acordo com Montaigne, os homens casados iriam para a sua noite de núpcias.
Eusébio de Cesaréia, no século IV, fala brevemente sobre os contratos matrimoniais entre os jovens gauleses, afirmando que eles se casavam com o mesmo sexo de acordo com a lei das suas tribos.
Na Roma pagã do tempo de Nero em diante crônicas e sátiras de Juvenal e Marcial revelam que havia uma tradição de casamentos do mesmo sexo; cerimônias sem validade jurídica, mas que incomodavam os conservadores da época. Esses rituais atestam que a aspiração ao casamento do mesmo sexo é antiga, e que havia relações homossexuais igualitárias de longo prazo. Juvenal deixa claro que os casais gays entravam nessas cerimônias com seriedade e traçando planos de longa convivência.
Excelente e esclarecedor texto!
ResponderExcluirNão conhecia a etimologia das expressões citadas, eis um ótimo argumento anti-segregação!
Perfeito! Muita gente deveria ler esse texto para esclarecer ainda mais a obscuridade em torno desse tema.
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