Teatro: Espetáculo "Amém!" (um grito pela diversidade sexual)


Introdução

"Amém!" é um espetáculo solo de teatro, um drama cômico, movido por forte ideologia e ativismo, que o aproximam do "Teatro Engajado" ou do "Teatro Político". Entretanto, em momento algum relega a qualidade artística e beleza estética a um segundo plano. Um texto forte, ora seco e direto, ora de uma poesia ímpar.

A bandeira que se levanta em "Amém!", escrito e interpretado por Laerte Silva Júnior, e codirigido por Alexandre Melinsky, é pelo respeito à diversidade e por um país realmente laico.

A história foi escrita a partir de fatos reais (inspiradores ou literalmente inseridos no espetáculo) e é revelada aos poucos.


A personagem principal, Clara, tem um quê de mistério e androginia. É careca, tatuada, usa maquiagem escura (de gata) e figurino fashion em tons neutros que deixa seus eios inexpressivos à mostra. Uma aparência pouco provável para quem se apresenta como fundadora de uma nova igreja. O cenário tem estética surreal, com predomínio da cor branca. Pires espalhados simetricamente pelo espaço, ávidos por receberem o "leite racional" (uma metáfora bíblica para o conhecimento).

Leite, aliás, que acaba sendo o fio condutor do espetáculo. Existe uma simbologia bastante forte em relação a ele nas diversas épocas da humanidade, além da ligação com o universo feminino, do ser mãe e da amamentação. Entre os cristãos, nos primeiros tempos do cristianismo, o leite era servido em rituais de batismo como símbolo de purificação. Entre os hebreus, o leite é utilizado ora como símbolo de vida e fertilidade, ora como de fartura. Na mitologia grecoromana, o leite é fator de união entre o divino e o humano, entre o mortal e o eterno e, além disso, o gerador de vida no céu e na terra. No Alcorão, a exemplo da Bíblia, o leite goza de grande respeito. É citado como uma bebida do Paraíso, e para os mulçumanos sonhar com ele é sinal de conhecimento e sabedoria. As cores estão presentes em alguns adereços, nas projeções e na iluminação em tons inspirados na bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBT, e lavanda-rosáceos. Clara abusa do humor crítico, irônico e ácido em sua "pregação". Desmitifica passagens bíblicas, a nudez, o aborto, as palavras rotuladas de baixo calão e a homossexualidade. 

Alguns filmes serviram de inspiração para o espetáculo, como "Orações para Bobby", "Assim me diz a Bíblia" e "Latter Days". Também foram pesquisados mitos, lendas e simpatias relacionados ao leite e à amamentação. O monólogo ocorre em um cenário surreal, clean, com farta utilização de recursos audiovisuais.

O texto é bastante atual, dinâmico e provocativo. Um grito pela laicidade. Uma valsa pelo respeito à liberdade de pensamento, sentimento e penteado. Um espetáculo para rir, chorar, divertir, refletir e pôr à prova nossos conceitos e comportamentos “engessados”, na maioria das vezes herdados e reproduzidos sem nenhum crivo.

Objetivo


Além do objetivo de encantar, envolver, provocar e saciar o público com a riqueza de detalhes (textuais e da encenação), com a beleza visual e auditiva, com a interpretação apaixonada, com as múltiplas referências oriundas de uma forte pesquisa, o espetáculo também é uma poderosa arma contra o preconceito e a intolerância:

 Um alerta para os pais que não aceitam seus filhos como eles são, chegando ao extremo de dizer que preferem ter um filho morto a ter um filho gay. Um dia esse desejo poderá se tornar realidade e eles terão que aprender a lidar com a culpa e o arrependimento.

 Um alento aos jovens que se descobrem gays, especialmente aos que estão se sentindo inferiores ou sofrendo bullying em casa, na escola ou nas ruas. O espetáculo mostra que há ESPERANÇA em um mundo melhor (palavras de Harvey Milk) e que eles não estão sozinhos. Muitos estão lutando pela causa LGBT. 

 Uma fenda para reflexão a respeito do que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade - e, acima de tudo, sobre a incondicionalidade do amor divino e humano. Infelizmente, para não cometer-se algo que é visto como pecado, coloca-se a vida do indivíduo numa situação infinitamente pior.

- Um aperitivo para uma discussão mais ampla sobre a possibilidade real de conciliação entre as identidades gay e cristã, como o fez Gene Robinson, o primeiro bispo anglicano assumidamente gay da história.

Sinopse


Clara vê sua família ruir por culpa do fundamentalismo do padrasto pastor. Seu meio- irmão revela que é gay e é expulso de casa pelo pai, que considera a homossexualidade uma abominação. O rapaz não resiste à pressão e se enforca, deixando seu namorado arrasado. Ambos eram escoteiros e estudantes de música, incapazes de fazer qualquer mal a alguém. Anos depois, a própria Clara é vítima do "amor ao próximo" do padrasto. Engravida-se dele e é levada a fazer um aborto mal sucedido. Clara então passa a vagar, ad infinitum, como uma pastora impostora progressiva e inclusiva, ironizando com acidez e humor crítico a hipocrisia humana.

PROGRAMAÇÃO FESTIVAL DE CURITIBA
MOSTRA FRINGE 2013

27/03/2013 - 23h
28/03/2013 - 20h
29/03/2013 - 17h
30/03/2013 - 23h

Local: TEATRO CULTURA (Praça Garibaldi, 39, São Francisco)

Preço: R$20,00


Ficha Técnica

Espetáculo: AMÉM!
Gênero: Drama.
Realização: Cia. Teatral Um e Outro.
Estreia: Agosto/2012.
Autor e concepção geral: Laerte Silva Junior.
Direção: Laerte Silva Junior e Alexandre Melinsky.
Elenco: Laerte Silva Junior.
Iluminação: Alexandre Melinsky.
Sonoplastia, Cenário e Figurino: Laerte Silva Junior.
Operação de som e projeções: Anselmo Ricardo Silva.
Produção: Fernando Fado.
Duração: 75 minutos.
Recomendação Etária: 18 anos.

Prêmios

• 11º Festival de Teatro de Mogi Mirim/2012 – categorias 1º Melhor Espetáculo, Melhor Ator, Melhor Direção, Melhor Figurino e Melhor Cenografia.

• II FESTINBAU – Festival de Teatro Independente de Bauru 2012 – categoria especial criada pelos jurados, não considerando justo o espetáculo competir com os outros, denominada "Conjunto da Obra".


SOBRE A CIA. TEATRAL UM E OUTRO

Criada há 15 anos por Laerte Silva Júnior, a Cia. é conhecida pelo seu constante processo de pesquisa e investigação de linguagens através de montagens cuidadosas e textos inéditos polêmicos e provocadores. Desde sua fundação, o grupo já conquistou aproximadamente 30 prêmios em festivais de teatro pelo Brasil.

Laerte Silva Júnior - Iniciou no Teatro há aproximadamente 20 anos, após uma premiada carreira internacional como pianista. Nas artes cênicas, participou de 18 espetáculos e recebeu mais de 20 prêmios entre atuação, direção, sonoplastia e dramaturgia em festivais e mostras de teatro, além de ministrar cursos e oficinas de iniciação teatral no Departamento Municipal de Cultura.

Alexandre Melinsky - Ator, iluminador e diretor há mais de 20 anos, conquistou mais de 40 prêmios na área teatral; foi júri técnico, curador e debatedor em mais de 20 festivais e mostras de teatro pelo Brasil; ministrou cursos e oficinas de teatro em várias cidades do estado de São Paulo; fundou, dirigiu e presidiu federações, confederações e associações de teatro regionais e estaduais. Desde 2009, é também Coordenador e um dos docentes do curso de Arte Dramáticado Senac Araçatuba.

Comentários

  1. Seria interessante uma Turnê de apresentação da peça pelo Brasil. Amaria vê-la em Goiânia!

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