Desabafo em tom menor

Por: Julio Marinho

Hoje eu acordei mais cansado do que nunca, um desânimo profundo ao perceber que, nada do que se faz é suficientemente bom para um bando de gente que gasta seu tempo e energia patrulhando a vida alheia. Já perdi a conta das inúmeras vezes em que, o que fiz e faço é classificado como - "bobagens meu filho, bobagens" - algo sem valor, sem importância. 

Sim, também há o estímulo e os elogios que fazem a gente seguir em frente, mesmo quando achamos que é mesmo uma perda de tempo. Mas confesso que há dias, como hoje, onde as pedradas doem mais, não sei, talvez os escudos não sejam tão fortes quanto imaginamos, sei lá, pode ser. Confesso que a arrogância, de quem se julga mais e melhor, me machuca mais do que deveria, e hoje, não sei por que, mais ainda.

Eu nunca disse que era ativista, ou militante LGBT, nunca. O título, ou rótulo - chamem como quiser -, me foi dado por outros, talvez por minhas posições e palavras, mas a verdade é que tomei sempre como um elogio. Hoje vejo que é um fardo, uma responsabilidade que está muito acima das minhas pretensões e possibilidades. É verdade, eu nunca participei de encontros, reuniões, passeatas, protestos... Tenho minhas razões e motivos que não cabem aqui serem expostos, quem me conhece bem sabe do que falo. Não, não é por preguiça, alienação ou falta de coragem, como pensam alguns, meus motivos são reais, embora minha luta - se é que posso chamar assim - seja, apenas, virtual. Nesse ponto já posso imaginar que a maioria estará me acusado de "mimimi", coitadismo, vitimismo etc. 

Talvez essas pessoas estejam certas. Talvez eu esteja mesmo perdendo meu tempo e me metendo em assuntos que não me cabem. Talvez eu não devesse mesmo ser prepotente ao ponto de me julgar no direito de estar ao lado que gente tão bem preparada, gente que fez faculdade, estudou tanto e cita Foucault ou Rousseau a cada parágrafo. Gente que participa de vários, senão todos, os protestos e posta as fotos no Instagram com seus tablets e smartfones de última geração. Gente que conhece profundamente os viveres do povo cubano e palestino, anti-imperialistas com blogs super bem transados, com citações de Nietzsche e fotos de "Che" Guevera. Gente que usa tênis da Nike, toma Coca-Cola e faz lanches no McDonald's, talvez... sei lá... por "protesto"?

Talvez seja mesmo muita empáfia minha, logo eu que não uso nada da Nike, que tomo Coca-Cola muito de vez em quando e não faço lanches no McDonald's. Não, não é " por protesto", é que não tenho grana mesmo (risos, pálidos). E também não sei construir frases de efeitos nem faço citações profundas (tenho preguiça de procurar no Google). Aí irão me perguntar: Então porque você fica posando de militante e escrevendo bobagens em seu blog? A única resposta honesta é: Não há mais nada que eu possa fazer, essa é a única distração que ainda tenho e sem isso talvez eu enlouqueça, sei lá. Sim, eu poderia ocupar meu tempo com outras coisas, é verdade. E talvez eu faça isso mesmo. O problema é que agora as opções ainda me são tão desanimadoras, mas enfim. 

Mas vocês, os ativistas "de verdade", não precisam se preocupar tanto com os peseudo-ativistas, ou "ativistas de sofá", como vocês gostam tanto de falar, esses não são nada diante da magnitude de vossas presenças. Aliás, eu nem sei por que vocês perdem tanto tempo escrevendo textos e mais textos achincalhando os tão desimportantes "militantes de sofá". Poderiam estar agora mesmo enfrentando a polícia na desocupação do antigo Museu do Índio no Maracanã, só para citar um exemplo.

Eu vou continuar aqui, no meu "sofá", torcendo para que vocês construam um mundo melhor, um mundo que, é bem provável, eu nem chegue a ver. Mas fico imensamente feliz em saber que o futuro será, infinitamente, melhor por conta de vossas lutas. Parabéns e muito obrigado por serem tão gentis ao ponto de lutar por nós, os "ativistas de sofá" ou "revoltados do Facebook e Twitter", li isso num texto hoje - li num desses blog de gente que faz a diferença, ou pelo menos pensa que faz, sei lá.

Obs.: O texto é um desabafo, com doses cavalares de sarcasmo e ironia, se é que não ficou claro, grato.