Em 2010 o novo Papa pediu uma "guerra de Deus" contra o casamento homoafetivo na Argentina


O argentino Jorge Mario Bergoglio, ou Papa Francisco, como é conhecido agora e que foi escolhido nesta quarta-feira (13) para suceder Bento 16, já sofreu duras críticas da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, após ele liderar uma campanha contrária a união de pessoas do mesmo sexo. As críticas foram feitas em julho de 2010, quando o Senado argentino aprovou o casamento homoafetivo.

Na época, o novo pontífice mostrou uma oposição clara e firme ao reconhecimento legal do casamento igualitário pelo governo Kirchner, que, apesar das duras críticas da igreja e de setores conservadores da sociedade, acabou sendo aprovado.

Vários integrantes de grupos religiosos que enfrentavam o frio portenho profetizaram o "Apocalipse", que ocorreria de forma "iminente", decorrente do "castigo divino" que cairia sobre a Argentina por causa da aprovação da lei. Dois dias antes da votação – e do eventual fim dos tempos (pelo menos, no território argentino) – o cardeal Jorge Bergoglio, primaz da Argentina, chamou o projeto de lei de "movimento do diabo" contra o qual era preciso declarar "a guerra de Deus".

O então arcebispo de Buenos Aires, afirmou: "O povo da Argentina irá enfrentar nas próximas semanas, uma situação cujo resultado pode ferir gravemente a família. Este é o projeto de lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo". "Não sejamos ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é a pretensão destrutiva ao plano de Deus", disse Bergoglio pouco antes da sanção da lei.

Ele também disse que a adoção de crianças por casais homossexuais era uma maneira de discriminá-las. "O que está em jogo é a vida de tantas crianças que são discriminadas com antecedência, privando-as de crescimento humano. Deus quis que fosse  dada à criança um pai e uma mãe. O que está em jogo é uma rejeição direta da lei de Deus, também gravada em nossos corações."

Nessas mesmas declarações, Bergoglio disse: "Lembre-se que o próprio Deus disse ao seu povo em um momento de grande angústia: "esta guerra não é sua, mas de Deus".

"Está em jogo uma rejeição frontal à lei de Deus… a cobiça do demônio… astutamente quer destruir a imagem de Deus: o homem e a mulher que recebem a incumbência de crescer, de se multiplicar e de dominar a Terra… Não se trata de um mero projeto legislativo… mas sim de uma querela empreendida pelo mestre do engodo que pretende confundir e enganar os filhos de Deus", escreveu Jorge Bergoglio, numa carta às freiras carmelitas de sua arquidiocese, no dia 22 de junho de 2010, e que conclui desta forma: "Miremo-nos no exemplo de São José, Maria e o Menino… que eles nos socorram, nos defendam e nos acompanhem nesta guerra de Deus…".

Após as declarações, o então arcebispo de Buenos Aires, sofreu uma reprimenda pública da presidente, que estava em Pequim, na China, em viagem oficial. Kirchner acusou as lideranças religiosas contrárias ao casamento entre pessoas do mesmo sexo de estarem nos "tempos das cruzadas". "Eles estão retratando isso como uma questão religiosa e moral e uma ameaça à 'ordem natural', quando o que estamos fazendo é olhar para a realidade", disse Kirchner.

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