Um tribunal em Cartum, capital e maior cidade do Sudão, começou a deliberar sobre o caso de nove homens que foram presos e espancados por serem gays.
Segundo ativistas de direitos LGBT's do Sudão, a polícia sudanesa invadiu um encontro privado entre amigos gays no apartamento de um conhecido cantor (não identificado). Os participantes foram presos, espancados e ficaram gravemente feridos.
Em audiência no tribunal, os policiais afirmaram que o apartamento, localizado no bairro de Al-Safia, em Cartum, foi invadido depois que vizinhos ficaram "irritados" com os trajes dos homens. Segundo eles, após a emissão de um mandado, o apartamento foi invadido pelo chefe de polícia da delegacia de Al-Safia, juntamente com oficiais e detetives.
Um dos policiais afirmou que o cantor estava usando roupas femininas e outros dois suspeitos estavam usando apenas cuecas. Ele também disse que a polícia encontrou em posse dos suspeitos cremes para esfoliação corporal, henna, cremes para o rosto, utensílios para fazer café e um cachimbo "shisha" (Narguilé).
Os homens foram acusados pelos policiais de cometer atos indecentes, uma acusação negada pelos suspeitos.
Os advogados de defesa protestaram contra o julgamento no tribunal acusando a mídia sudanesa de ser sensacionalista e utilizar informações imprecisas descrevendo o encontro privado como um "casamento gay". Eles disseram que isso levou os homens a sofrerem ainda mais abusos em público. Os advogados pediram que os meios de comunicação ajam de forma responsável e relatem o caso com precisão dos fatos.
Infelizmente o conteúdo homofóbico é comum nos meios de comunicação do país Africano. Os ativistas locais dos direitos humanos argumentam que este caso está sendo usado para dar mais ênfase numa palestra pública sobre o alegado caráter "imoral dos homossexuais".
O presidente do Grupo "Rainbow" do Sudão, Mohammed, declarou: "Foi apenas uma reunião de um casal de amigos em um apartamento privado e os vizinhos fizeram reclamações à polícia. Isso é violar totalmente um direito humano básico à privacidade, a polícia invadiu uma propriedade privada, prendeu e espancou estes homens. Como os cidadãos LGBT's do Sudão podem se sentir seguros em suas próprias casas? Infelizmente isso acontece com frequência no Sudão e a imprensa faz o seu melhor para retratar gays negativamente. O caso agora está sendo usado como uma prova de como pessoas gays são uma 'influência negativa', rotulando-nos como 'transgressores imorais'."
Ali, advogado do grupo "Freedom LGBT" do Sudão, disse: "O que não foi divulgado na imprensa é que a polícia fez uma emboscada no complexo de apartamentos. Eu também não tenho certeza do que foi relatado sobre os objetos encontrados na casa do cantor, podem apenas ter inventado para "incriminar" ainda mais os homens. Os suspeitos negaram explicitamente ter em sua posse esses itens. Esta, infelizmente, não é o primeiro de tais casos no Sudão, e as sentenças regularmente incluem chicotadas, prisão e, por vezes, a pena capital. Mesmo que os homens sejam punidos 'levemente' com chicotadas, nenhum deles será capaz de ter mais uma vida normal. Eles serão demitidos de seus empregos, sofrerão preconceito em suas famílias e comunidades e terão que se esconder do público por vergonha. Envergonhar uma família ou comunidade é o mesmo que ser assassinado no Sudão.
"Estamos tentando ajudá-los em todos os sentidos que podemos agora. Entrei em contato com a ONU e esperamos por uma resposta positiva. Não só para eles, mas também para casos futuros."
O Sudão é um dos países mais rigorosos do mundo quando se trata de criminalizar a homossexualidade. Sexo entre pessoas do mesmo sexo é ilegal e, de acordo com o artigo 148 do código penal sudanês (Sodomia), a pena capital se aplica a um homem ou a uma mulher que "cometer" tais atos. As punições variam de chicotadas e prisão à sentença de morte.
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