Por: Claudinei Sampaio
No Facebook existem vários tipos de grupos direcionados ao publico GLBT, a intensão destes grupos é, a principio, fazer com que as pessoas se conheçam e até que encontrem o amor de suas vidas. Normalmente os posts e comentários nesses grupos são rasos e de gosto duvidosos.
Dias desses, um dos integrantes desses grupos postou o seguinte questionamento:
"Moro com meu namorado há dois anos, sempre fui o ativo da relação. De uns dias pra cá, ele está querendo que eu faça passivo com ele e isso tem mexido com minha cabeça, pois nunca transei passivo. O que vocês acham que eu deva fazer, ceder ou terminar a relação?"
Foi um burburinho danado, os que se diziam ativos protestaram e diziam que jamais cederiam a uma loucura dessas (sic), os passivos se dividiam entre apoiar o autor do post e aos ativos dos comentários e eu, ali lendo, achando tudo aquilo muito patético, resolvi relatar então uma experiência minha, que também vou relatar aqui:
"Eu sempre fui preferencialmente ativo (comecei a usar o termo preferencialmente depois desse episódio em minha vida). Quando tinha 26 anos, fui morar com o meu namorado. Depois de um tempo que estávamos juntos, ele me disse que ultimamente vinha imaginando que estava me penetrando e que já até havia se masturbado pensando nisso. Quando ele falou isso pela primeira vez, eu ri, não levei a sério, mas ele foi demonstrando que queria ser ativo comigo. De imediato a minha cabeça entrou em parafuso. Eu já havia experimentado ser passivo ainda quando adolescente e havia odiado, para mim é muito desconfortável ser penetrado. Tentei fazer com que ele desistisse da ideia, mas contra tesão, não há argumento! O resultado disso é que ele começou a ficar distante e nossa vida sexual foi ficando morna. Comecei então a me questionar, por que não? Eu o amava e não o queria perder, será que eu não poderia considerar o desejo dele? Que droga de parceiro que eu estava sendo? Cedi. Não vou negar que para mim, era um tanto desconfortável ser penetrado, mas era para o cara que eu amava e não existe relacionamento saudável se não há concessões. Terminamos por outros fatores, continuo curtindo ser ativo, mas, mais experiente, menos radical. Em uma transa casual eu sou ativo e ponto final. Dentro de uma relação onde haja amor, as coisas tomarão o rumo que o amor assim desejar."
Fui apedrejado no grupo (risos), a maioria ficou indignada! Chamaram-me de "falso ativo" de "passivo enrustido" entre tantos outros adjetivos. Na hora eu ri muito com comentários, mas depois comecei a questionar a reação das pessoas.
Acho que essa história de ter a bunda como algo sagrado e intocável não é papo de hétero, mas de gay mal resolvido. Sexo não é só realizado onde se encontra as partes intimas. Sexo é todo o corpo, mente e coração, mesmo sendo casual, caso contrário estaremos nos colocando e colocando o outro como objeto, o que definitivamente não é legal.
Muitos casais gays se separam por que a relação, o amor e a cumplicidade escorregam na lama do conceito. Em uma relação estável não se pode ter medo de se questionar e ceder, é isso que faz uma relação ser estável, a confiança do questionar e a leveza do ceder.
Hoje eu acredito que o que eu mais adoro no fato de ser Gay é justamente a liberdade sexual que a condição me permite. Tem muito gay assumido que tem problemas com sua sexualidade, que tem medo de quebrar as regras estabelecidas por eles mesmos e ai se rotulam e reclamam dos rótulos, isso é incoerente e até cruel consigo mesmo.
Por isso, faço minha as palavras de meu amigo Julio Marinho em um dos seus maravilhosos textos: "Esse conceito de 'ativo' e 'passivo' nem sempre se enquadra nesse arranjo de quem penetra e de quem é penetrado. Muitas vezes o 'passivo' (penetrado) pode ter uma atitude ativa (de controle) da situação.".
Portanto, da próxima vez que for para a cama, vá buscando o seu prazer e não se preocupando em respeitar conceitos equivocados criados por gente que pensa pequeno. Para que você possa se considerar um gay genuinamente assumido, o primeiro passo é se livrar dos conceitos de ordem sexual. Faça valer sua luta! Faça com que ela termine em gozo e não em uma neurose descabida.
O importante é ser bem resolvido e transar bem a sexualidade. Ora, de que adianta enfrentar o mundo, os preconceitos e na hora de ir para cama se limitar por questões conceituais e sair frustrado? Acredito que o maior prazer em ser gay, é justamente a de não limitar o desejo, caso contrário, toda nossa luta, todas essas dificuldades pela qual passamos, não teriam sentido.
Já me aconteceu experiência semelhante no Facebook, não exatamente pelo mesmo motivo, mas igualmente pelo "império do senso comum". Veja: http://diversidade100fronteiras.wordpress.com/2013/01/28/postando-e-debatendo-no-facebook/
ResponderExcluirSimplesmente perfeito... nos mesmos nos as vezes nos tornamos prisioneiros de nossas próprias regras sendo que numa relação saudável sempre tem de haver concessões de ambas as partes em várias questões... preferência não é obrigatoriedade
ResponderExcluirPois.... concordo com tudo escrito aqui....
ResponderExcluirMe abisma a falta de flexibilidade das pessoas e como a 'comunidade gay' ainda reproduz essa coisa sexista atrasada. Macho = Ativo = Superioridade... oi? Triste!
o mais engraçado disso tudo é saber que para os ativos ser passivo é ser inferior, é ser dominado, é ser humilhado. Seria melhor aos ativos voltarem a ser heteros e procurarem se enquadrar, pois estas pessoas não são gays de espirito.
ResponderExcluirConcordo com os argumentos do artigo, mas infelizmente ele não atinge a cabeça da maioria dos homens, sejam eles heteros ou homossexuais. Reproduzimos em nossas relações um comportamento machista, reflexo de nossa realidade que exige comportamentos rígidos e programados. Poucos são os que ousam romper com essas barreiras. Já conheci gays ativos que por se considerarem "machos", não chupam e nem pegam no pau de outro homem!!!
ResponderExcluirMas fico feliz que esse assunto esteja sendo colocado cada vez mais nas pautas de discussão. Sinal de que mudanças estão acontecendo…e as cabeças estão pensando!