Por: Julio Marinho
Hoje temos o prazer de trazer uma entrevista exclusiva com o militante e ativista pelos direitos humanos, Carlos Tufvesson. Além de renomado estilista, Carlos milita há anos no movimento LGBT e há dois anos é coordenador da CEDS (Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual). Também é importante destacar que Carlos foi o criador da campanha "A Moda na Luta Contra o HIV" com o intuito de dar mais visibilidade na campanha de prevenção a AIDS.
Hoje temos o prazer de trazer uma entrevista exclusiva com o militante e ativista pelos direitos humanos, Carlos Tufvesson. Além de renomado estilista, Carlos milita há anos no movimento LGBT e há dois anos é coordenador da CEDS (Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual). Também é importante destacar que Carlos foi o criador da campanha "A Moda na Luta Contra o HIV" com o intuito de dar mais visibilidade na campanha de prevenção a AIDS.
"Conhecido por seus modelos glamurosos, o estilista Carlos Tufvesson teve uma trajetória profissional bastante intensa desde jovem quando já criava e produzia para a sua marca de streetwear Strada e participava do Mercado Mundo Mix . Pós graduado pela Domus Academy, na Itália, Tufvesson chegou ao Brasil em 1999 e logo montou seu primeiro atelier, após desfile histórico realizado no Museu Nacional de Belas Artes, fixando assim seu nome no segmento da alta costura nacional. Suas criações foram vistas nas passarelas da Semana de Moda Leslie, Semana Barrashopping de Estilo, Fashion Rio e São Paulo Fashion Week." (Site pessoal).
Carlos como vai o trabalho na Secretaria da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio?
Completamos 2 anos no dia 2 de fevereiro. Me sinto orgulhoso dos resultados alcançados pela minha equipe em tão pouco tempo de um órgão público.
Para você qual é o maior desafio do movimento LGBT brasileiro?
Ter uma linha de atuação puramente de direitos civis e humanos e isso passa ao largo do partidarismo que hoje vemos as bandeiras LGBT envolvidas. Por uma única razão: o fracasso dos últimos 10 anos é sinal que NÃO DÁ CERTO essa subserviência de nossas bandeiras, ao menos em nosso pais com realidades partidárias tão distintas de um estado para outro. Como diz um ditado antigo 'não se serve bem a dois senhores' e muitos militantes preferem bater cabeça antes para seu partido do que para os direitos civis de nossa comunidade, daí o porquê da ausência de resultados dos principais pleitos da militância orgânica (PLC 122, Escola sem Homofobia).
Você desistiu de se candidatar ao cargo de vereador no Rio de Janeiro, pensa em um dia retomar esse projeto?
Nunca digo que "dessa água não beberei" pelo menos sem provar (risos) mas sinceramente vi que me candidatar não bastava boa vontade e me faltou experiência para isso. Mas essa experiência me fez entender a urgência que temos numa AMPLA reforma politica em nosso país que sinceramente não entendo porque não saiu até hoje. Não é possível os custos de uma campanha e se candidatar deveria ser uma prerrogativa de quem quer contribuir com seu estado cidade ou pais, profissionais bem-sucedidos etc. passando sua experiencia profissional. E não uma profissão.
Existem muitas críticas, inclusive dentro do próprio movimento LGBT, em relação as Paradas de Orgulho Gay, muitas pessoas consideram as paradas festivas demais e políticas de menos. Qual sua opinião sobre o evento?
Acho necessária, mas creio que o correto formato seria nos moldes do Stonewall. Acho que já tínhamos de ter repensado esse formato da Parada que foi muito importante num momento de crescimento das mesmas. E não ficar na disputa de qual Parada tem mais gente na avenida, já que está mais do que comprovado que essas pessoas depois não representam força política! Assustadores 74% dos cidadãos numa pesquisa que fizemos na Parada Rio não sabiam o nome de uma ONG LGBT no país! E isso na Parada!
O fato de pertencer a uma classe social mais favorecida, te torna imune à homofobia?
A homofobia e todos os tipos de preconceitos são nojentamente muito democráticos. Atingem a TODOS os cidadãos independente de raça, credo, orientação sexual. Por isso na CEDS temos o 'Programa Rio sem Preconceito' para chamar toda a sociedade para essa luta contra esse mal do século. Se eu não preciso ser negro para lutar contra o racismo, ninguém precisa ser gay para lutar contra a homofobia.
Já pensou em ir embora do Brasil e ir viver num país mais tolerante, como a Holanda por exemplo?
Adoro Amsterdam. Acho o símbolo de que uma sociedade onde todos se respeitam é possível sim, e que isto não é uma utopia hippie. Só que entendo que Amsterdam é mínima e o Brasil é maior que toda a Europa tornando mais complexa essa questão, entretanto, isto não justifica as incitações públicas de ódio contra minorias que temos assistido ultimamente, algumas violando inclusive nosso código penal. Já morei fora para minha pós graduação. Mas, sou de família militar, meu avô lutou por esse país na guerra e não desisto do meu país ou de minha cidadania por quem quer que seja. Esse é um direito de solo!
Você concorda que, ao sair do armário, pessoas públicas estariam contribuindo para que o preconceito diminuísse?
Concordo. Mas nem por isso acho que devamos forçar alguém a fazê-lo. Ao sair do armário e assumir minha orientação sexual publicamente sei bem o que estou fazendo e do preconceito que estarei sujeito. Mas é uma opção pela liberdade. De ser, de amar. De ser feliz!
O que posso fazer é dedicar minha vida para que possamos viver num mundo onde ninguém mais precise esconder sua orientação sexual e abdicar de sua felicidade.
O que você acha da ideia do "outing" forçado no caso de homofóbicos militantes?
Acho péssimo. Uma coisa quase anos 80. Se lutamos contra o preconceito não podemos instrumentaliza-lo para fazer valer nossa luta. Até porque nossa bandeira é de direitos civis e humanos e isso é um frontal desrespeito ao próximo!
Minha ÚNICA exceção é no caso dos homofóbicos. Tipo, até posso tentar entender alguém se omitir. Sentir pena por alguém mentir. Mas um homossexual ser homofóbico e perseguir seus pares, jamais!
Quais seus planos para o futuro?
Se você me fizesse essa pergunta há 2 anos não estaria incluso estar no poder público. Hoje sou além de Coordenador Especial da Diversidade Sexual, presidente da Comissão DST AIDS do Conselho Municipal de Saúde que integro como membro, e presidente do Conselho Municipal de Moda. Vejo estar no poder publico uma oportunidade para lutar pela minha cidade e para que ela seja cada vez mais maravilhosa para todos nós que nela vivemos e os que nos visitam.
Antes de encerrar, que conselhos você daria aos jovens ativistas que estão surgindo no movimento LGBT?
Entender que nossa bandeira é de direitos civis e humanos e essa é uma causa suprapartidária. Digo isso por 15 anos de experiência de militância autônoma (aliás, quase cunhei esse termo). Militar é necessário, para mim é um oxigênio de vida entender que você faz parte de um processo por uma sociedade melhor e mais justa onde o direito de TODOS são respeitados. Mas não se milita apenas "curtindo uma página no Facebook" muito menos atrás de um avatar. Mas se cada um de nos mudar o que esta ao nosso redor estaremos mudando o mundo aos poucos. Acredite nas tuas ideias. Se hoje temos o direito à união estável e de nos casar por conversão, foi sim pela ADPF 132, mas foi porque 4 militantes autônomos do Rio acreditaram e viram tecnicamente uma oportunidade de ação e foram lá. Mesmo contra todos do movimento organizado na época, agindo com a legitimidade de luta pelos seus direitos, pediram liberação de um texto parado na Procuradoria Geral da República há anos e agindo tecnicamente fizeram história.
Digo isso para que nós entendamos que somos sim responsáveis por essa transformação e que somos mais fortes do que imaginamos. Precisamos voltar às ruas, lutar por nossos direitos. Voltar a frequentar os grupos, torná-los "lugares nossos" de novo. Infelizmente a beligerância da militância orgânica com os fundamentalistas pôs nossos direitos como se fosse uma guerra quando não é e nem deve ser e que na maioria das vezes nem é nossa. Mas como toda monarquia acaba o sol pode voltar a brilhar e podemos sim ainda construir um mundo melhor. Para as próximas gerações ao menos.
Eu quero agradecer ao Carlos pela entrevista e lembrar que, é importante que todo cidadão LGBT exerça sua cidadania e denuncie os casos de violação dos seus direitos. A Coordenadoria conta com uma Assessoria Juridica para que todos possam ser auxiliados. Os contatos podem ser feitos através do telefone (21) 2976-9138 ou pelo site www.cedsrio.com.br
A pedido do Carlos coloco abaixo o link do vídeo completo da participação do militante no programa "Na Moral", apresentado pelo jornalista Pedro Bial.
Para assistir clique AQUI
Que lindo, Julio Marinho!!! E que honra voce ter nas paginas do Nossos Tons, que voce cuida com tanto carinho e luta, um militante do porte do Carlos Tufvesson, tao primordial e tao transparente. Clap , clap e clap mil vezes!!!!! Queremos mais entrevistas com essa gente que faz a diferenca!
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