EUA: Grupo católico afirma que resgate de cão "gay", condenado à morte, é discriminação contra héteros

William A. Donohue 

O presidente de um grupo católico, que visa defender as liberdades religiosas, e que já afirmou, entre outras coisas, que as crianças abusadas por padres pedófilos não são vítimas, disse que o resgate de um cão que estava ameaçado de ser sacrificado, porque sua proprietária achava que ele era gay, tem um viés anti-heterossexual.

Em um comunicado enviado a imprensa em 31 de janeiro, intitulado "‘Euthanizing Gay Dogs", o presidente da "America’s Catholic League for Religious and Civil Rights", William A. Donohue, comparou a iniciativa de resgatar "Elton" (nome dado pela nova dona do animal) do sacrifício, com os suicídios medicamente assistidos de Washington e dos Países Baixos, argumentando que os gays já recebem tratamento melhor do que os heterossexuais ou pessoas com deficiência.

Para deixar bem claro, nem a Holanda nem o Estado de Washington praticam a eutanásia contra a vontade das pessoas. Portanto, uma comparação, no mínimo, equivocada.

"Esta semana, no Tennesse um cão foi resgatado de ser sacrificado... porque a condição da morte do cão era a sua alegada homossexualidade", escreveu Donohue em um comunicado publicado no site do grupo.

"O lugar onde Elton foi abandonado ... incentiva adoção de cães, mas também promove a eutanásia do cão. Entretanto, não no caso de Elton. O abrigo não teve 'estômago' para sacrificar o cão em razão da orientação sexual."

"É preciso dizer, porém, que o abrigo não é exatamente inclusivo em suas políticas. Se não... pobre Elton, foi identificado como um homossexual. Entretanto, sua heterossexualidade não teria sido suficiente para salvar sua pele."

"Moral da história, ser gay não é apenas um bônus para os humanos nos dias de hoje, é uma clara vantagem para cães também. Já para os héteros, os solitários e os deficientes, isso é outra história."

No entanto, a versão Donohue sobre os eventos é incorreta. O abrigo (superlotado) em Jackson (Tennesse, EUA), onde o cão foi abandonado, não desistiu de sacrificar o animal. Elton foi salvo porque foi adotado pela veterinária, Stephanie Fryns, poucas horas antes de ser abatido.  

Depois de acompanhar pelas redes sociais a história dramática do cachorro e o apelo de internautas pela adoção do animal, Stephanie resolveu resgatar o cão horas antes do sacrifício. "Ele está com muito medo de tudo, o que é compreensível. Mas é muito amigável", disse a veterinária.

Fryns também levantou suspeita de que Elton - um cruzamento de pitbull e bulldog americano - esteve envolvido em brigas ilegais, pois apresentava hematomas na região das orelhas.

Pois é meus amigos, agora nem os animais estão livres da homofobia, nem eles.