Identidades de plástico

Por: Walter Silva

Quando eu comecei a escrever em redes sociais eu escolhi ser eu mesmo; dentro desse mundo efêmero, mutante e ambíguo, das imagens construídas artificialmente, do exército de anônimos e avatares de fantasia, eu escolhi fazer de mim o meu próprio personagem. Fiz isso porque supunha naquela época e ainda agora, que falar honestamente de si para os outros, mesmo para os estranhos, é o mesmo que beijar um espelho e curvar-se diante dele. A imagem refletida irá devolver o beijo e a reverência. E acho que estava certo, dado que há algum interesse no que eu tenho escrito.

Então por causa disso eu me surpreendo com a falta de honestidade das pessoas em redes sociais.

Eu sei, é tão clichê falar sobre este assunto...

É que recentemente descobri que um bom amigo, de uns dois anos(?), amigo virtual, aqueles que você quer e precisa encontrar pessoalmente, simplesmente não existe.

Sim, ele não é real, eu não sei quem ele é, nem onde mora, nem seu nome, nem quais suas intenções ao se aproximar de mim.

Mas era meu amigo, porra. E eu gostava dele.

Ele era engraçado, leve, atencioso, caridoso comigo. Ele me ouvia (e tem coisa mais chata que ouvir lamúrias dos outros? tem não. Só um amigo de verdade para aturar isso.). 

Pois ele não existe, e fiquei pasmo. Não vou dizer que sou totalmente ingênuo; havia momentos em que eu desconfiava de algo. Tinha um bicho que me picava no coração, mas eu não sei o que era.

Hoje, observando uma árvore de natal, de plástico, me lembrei dele novamente. Que significado tem uma árvore de plástico meu deus do céu?

É uma árvore morta, uma coisa que já nasceu sem vida, é uma ilusão muito pobre da vida. Mas eu sei que no futuro árvores de plástico (e pessoas de plástico?) terão um aspecto mais realista.

E isso me deixa ainda mais angustiado.

Ah, querido... seja lá quem você for, ofereço-te essa canção, em razão da grande tristeza que sua ausência pré fabricada me deixou.


Comentários

  1. Já passei por algo parecidíssimo, mas dei a sorte de manter contato com a pessoa depois. Foi um tanto estranho, sobretudo porquê conheci um rapaz naquela comunidade (e ainda era época de orkut) e depois de alguns meses de contato, soube que era uma garota, ela chegou até a me enviar presentes como pedido de "desculpas"... E é uma grande amiga até hoje. É estranho mesmo, mexe muito com a gente, é como uma puxada de tapete, parece faltar chão. Mas desejo toda a força. Grande abraço.

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  2. acho que esse é um risco que todos nos corremos o tempo todo

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  3. ricardo aguieiras09/12/2012, 14:01

    texto impressionante e triste do amado Walter Silva....ele foi quem melhor traduziu nosso sentimento de perda e de luto... estamos de luto por algu´me, um belo personagem, que nunca realmente existiu... e isso doi..
    Beijo,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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