Governo espanhol corta 66% do orçamento de ONGs que lutam contra a AIDS


Não foi um bom ano para a luta contra o HIV/AIDS na Espanha. Os números falam por si: 4.000 novas infecções, 46% delas detectadas tardiamente, três milhões a menos para financiar pesquisas, e uma redução de 66% no orçamento para as ONGs de combate, prevenção e tratamento da doença.

Jancho Barrios é presidente da OMSida, uma organização de Zaragoza que nos últimos meses tem sido afetada pela falta de recursos. "Estamos cortando custos e reduzindo pela metade o pessoal remunarado, de seis passamos para três. A parte destinada às ONG's do Plano Nacional sobre a AIDS este ano foi zero, estamos cortando custos e eliminado serviços. Agora temos que trabalhar mais e buscar parceiros e financiamentos privados. Ainda assim temos sorte, porque muitos outros tiveram de fechar ou remover programas, como troca de seringas, palestras, prevenção, etc."

Jancho convive há 22 anos com a infecção e durante esse tempo já viu mudar muito a qualidade de vida dos pacientes. "Nós viemos de um período de ditadura e nos anos 80 e 90 estávamos desencantados com a política. Não se falava sobre isso (infecção), porque havia um grande estigma, éramos marginalizados pela ignorância. Hoje existe menos, mas ainda há discriminação".

Por essa razão Jancho considera que o trabalho das ONG's ainda é necessário. "Ameaçar não funciona. Você tem que ser positivo, realizar campanhas em faculdades e universidades, promover a educação sexual para evitar doenças sexualmente transmissíveis, porque os jovens estão perdendo o medo e a infecção pelo HIV esta aumentando nesse grupo."

O "Projeto de Parceria", lançado em 2006, e realizado pela OMSida de Zaragoza serve para avaliar as necessidades das pessoas com HIV. "Nós trabalhamos com eles em sessões individuais a questão da autoestima, de hábitos saudáveis, os efeitos colaterais das drogas, a importância da adesão... e tudo o que fazemos é sob a coordenação de médicos e enfermeiros dos hospitais da cidade. São eles que encaminham os pacientes que acreditam precisar de nossa ajuda. A OMSida também oferece atendimento psicológico ou social por profissionais da área.

Jorge Garrido, coordenador geral da Associação de Apoio positivo de Madrid, também comenta sobre as dificuldades que tem de enfrentar em rezão dos cortes. "Não concordamos com os critérios de concessão de auxílio do Plano Nacional de Aids. Sabíamos que haveria cortes, no entanto, não foi feita nenhuma análise ou previsão." A associação deixou de receber um financiamento de 25.000 €, que seria usado num programa de prevenção.

Outro serviço que é oferecido por muitas associações é o teste de diagnóstico de infecção pelo HIV. Santiago Redondo, coordenador de saúde da Federação Estadual de Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais (FELGTB) explica que, "muitas vezes os jovens nos procuram porque tiveram um relacionamento de risco e além do teste, damos conselhos sobre a infecção. Acreditamos que isso pode reduzir o comportamento de risco no futuro. Se o resultado do teste for positivo, damos orientação para onde eles devem ir, como proteger a sua saúde e como prevenir novas infecções."

Redondo explica que as campanhas empreendidas pelo Ministério da Saúde ("que passou vários anos sem nada fazer") são destinadas à população em geral. "As ONGs insistem em mensagens específicas dirigidas a grupos específicos. Julgamos que continuar trabalhando nisso e continuar a dar dinheiro para essas instituições de saúde, para que se faça a prevenção, é muito mais barato do que não fazer."

Santiago sugere também quais foram os critérios para tais concessões. "Foram aleatórios. Projetos pioneiros não são mais financiados e não sabemos o porquê. Eu me pergunto como eles planejam combater a epidemia."

Para Carlos Varela, presidente da CESIDA, estes cortes do governo são "irresponsáveis, este é um terreno fértil para o aumento das infecções. A crise não justifica esta redução de recursos, porque são quantidades muito insignificantes em comparação com outros orçamentos que não têm o mesmo interesse. Esta é uma questão de saúde pública."

Comentários

  1. ricardo aguieiras03/12/2012, 16:57

    Triste notícia... Espanha andando na contramão... e depois pararão um preço ainda maior, mais adiante.
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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