AIDS: Último relatório da UNAIDS é otimista


O mais recente relatório da UNAIDS (programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) revela uma luz no fim do túnel. A agência da ONU publicou sua análise anual sobre a situação global do HIV e, embora os dados mostrem que ainda há um longo caminho a percorrer, também dá espaço para o otimismo.

Segundo Luiz Loures, diretor do escritório executivo da agência: "Estamos lidando com uma epidemia, talvez a mais grave da história recente da humanidade, e será sempre uma história complexa. No entanto, o relatório nos mostra que estamos fazendo mais progressos do que nunca, pela primeira vez em 30 anos podemos começar a falar sobre o fim da epidemia. Em primeiro lugar, por todo o progresso científico que acumulamos, em segundo, pela mobilização social dos países."

Derrotar Aids é possível, assegurou Loures, mas para que isso aconteça, "não podemos deixar que o vírus se apoie sobre a crise para se tornar mais forte. Sem recursos não há avanços!", afirmou ele. "E não podemos baixar a guarda, porque senão vamos pagar mais caro no futuro, em termos de mortalidade e de instabilidade social".

O relatório da UNAIDS nos mostra que, em 2011 havia 34 milhões de pessoas infectadas pelo vírus HIV e 2,5 milhões de novas infecções, 20% menos do que em 2001. Segundo o executivo: "Estes são números que preocupam, mas, se olharmos para o que está acontecendo a partir de uma perspectiva holística, vemos que, pela primeira vez na história, 25 países conseguiram reduzir em 50% o número de novas infecções, graças aos desenvolvimentos e o acesso ao tratamento, isso nos permitem dizer que há mais pessoas recebendo tratamento do que as que esperam por ele."

A África Subsaariana é uma das áreas onde o progresso tem sido mais evidente, afirmou Loures. No entanto, também se concentram ali as piores notícias do relatório. Segundo os dados, a região abriga 69% das pessoas HIV positivas do mundo (o que significa que quase um em cada 20 adultos está infectado) e 71% das novas infecções que ocorreram em 2011. Além disso, 70% de todas as pessoas que morreram de Aids no mundo em 2011 viviam na região.

Igualmente preocupante é a situação no sul, leste e sudeste da Ásia, onde cinco milhões de pessoas convivem com HIV, assim como na Europa Oriental e do Caribe. Entretanto, a região do Caribe experimentou uma das maiores reduções no número de novos casos. Desde 2001, as infecções caíram em 42%. "Tínhamos medo de que iríamos encontrar lá a mesma situação da epidemia na África, mas o progresso tem sido fenomenal na luta contra a discriminação", disse Loures.

O relatório também alerta para uma tendência de aumento no contágio em algumas áreas, como no Oriente Médio ou no Norte da África, onde o número de pessoas infectadas aumentou em mais de 35%. De acordo com a análise, em vez de um aumento das práticas de risco, este aumento se deve a certas leis e práticas punitivas, que impedem um combate eficaz ao vírus.

Na América Latina eram 1,4 milhão de pessoas com Aids no ano passado. Houve no subcontinente 86 mil novas infecções e 57 mil mortes em 2011. Na América Latina, 70% dos doentes têm cobertura de tratamento contra a doença. Apesar de alguns avanços, o coordenador residente da Organização das Naçoes Unidas (ONU) no Brasil, Jorge Chediek, afirmou que ainda há dois problemas sérios que podem atrapalhar o combate a Aids. O primeiro é a crise global, que afeta principalmente os países ricos, fonte de ajuda internacional. O segundo é o preconceito. "O maior aliado desse vírus é a ignorância, o preconceito, a discriminação. Sabemos muito da natureza dessa doença, mas a identificação negativa com a doença persiste.", disse Chediek.

Quanto ao tratamento, o texto enfatiza os benefícios obtidos graças a um melhor acesso à terapia antirretroviral. Em 2011, como nunca antes na história, mais pessoas iniciaram o tratamento em nível mundial. Além disso, em relação ao último relatório da UNAIDS, o número de pacientes soropositivos em tratamento aumentou em cerca de 21%, ou seja, já são mais 8 milhões de pessoas medicadas, 1,4 milhão a mais que no ano anterior. O número, porém, representa apenas 54% das 14,8 milhões de pessoas que poderiam se beneficiar do tratamento contra a Aids.

Em seu relatório a UNAIDS também destacou que, para os avanços continuarem a dar frutos, o financiamento é fundamental. Em 2011, o financiamento para o combate ao HIV aumentou 11% em relação ao ano passado, especialmente em países com menos recursos. No entanto, o montante, que atingiu cerca de 17 mil milhões, está ainda muito abaixo dos 24.000 milhões, considerados necessários para evitar que milhões de novas infecções ocorram em 2015.

Neste sentido, a crise financeira mundial não deve ser usada como uma desculpa para interromper a prevenção e os cuidados. "Hoje sabemos melhor onde investir os recursos para sermos mais eficazes, mas também temos de expandir as bases financeiras, por exemplo, a aplicação de um imposto sobre grandes transações financeiras. Se você procurar fórmulas apropriadas, pode continuar crescendo [...] O dinheiro é essencial para conter a epidemia nos países pobres, mas também no mundo desenvolvido [...] Na Europa, devemos tomar um cuidado especial, temos de alertar que uma redução nos investimentos significaria um grande risco de expansão da epidemia no futuro.", alertou Loures.

Para Loures, depois de 30 anos convivendo com HIV, "alguns líderes políticos acreditam que a AIDS não é mais uma prioridade, o foco agora são questões como a mudança climática ou a situação econômica". "Mas, neste ponto, é hora de renovar o nosso compromisso e mudar algumas coisas que estamos fazendo. Esse é o melhor legado que podemos deixar para as outras gerações ", concluiu o executivo.

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