"Cura Gay": O Brasil remando contra a maré

Por: Julio marinho

Por mais que pareça incrível, e inacreditável, aqui no Brasil alguns fundamentalistas religiosos ainda insistem na possibilidade de se considerar uma "cura" para a homossexualidade. Ontem, entre gritos, bate-boca e muita confusão, foi discutido em audiência pública na Comissão de Seguridade da Câmara dos Deputados, o Projeto de Decreto Legislativo 234/2011, de autoria do Deputado João Campos (PSDB-GO), que tenta sustar a aplicação de dois dispositivos da resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que impede os psicólogos de prestarem serviços, em que a proposta seja o tratamento e/ou a cura da homossexualidade.

Entre os debatedores, estavam a psicóloga Marisa Lobo e o Pastor Silas Malafaia, que insistem em renegar a orientação do CFP. O Conselho inclusive lançou uma nota condenando a audiência. Louvável a iniciativa do Conselho, entretanto, se a orientação do conselho é essa, porque cargas d'água os profissionais, que insistem na tal "Cura Gay", não têm seus registros cassados? E, se há a impossibilidade de se reverter a orientação sexual (estudos científicos demonstram isso), não seria o caso de se considerar a prática charlatanismo? 

É impressionante que se perca tempo e dinheiro discutindo uma cura para uma doença que não existe. É impressionante que o fanatismo religioso reme contra a maré e, falaciosamente tente desmentir o que já foi amplamente divulgado por TODAS as Organizações mundiais de saúde, incluindo o nosso próprio Conselho Federal de Psicologia. 

Além do nosso CFP, a Associação Americana de Psicologia (APA), após uma revisão completa das evidências científicas disponíveis, concluiu que, algumas pessoas no máximo conseguem aprender a inibir os seus desejos sexuais. Esses estudos, no entanto, não avaliaram a duração de tais efeitos e os riscos à saúde mental. A APA também descobriu que muitos estudos são tendenciosos, metodologicamente insuficientes e não avaliam o real impacto dessas intervenções. A Associação advertiu que, entre os possíveis danos causados, estão a depressão e uma forte tendência ao suicídio.

A APA também comentou sobre os problemas colocados por homossexuais que, movidos por sua fé religiosa, procuram a Associação na ânsia de "reverter" a sua orientação sexual. Lá eles encontram um aconselhamento honesto sobre a ineficácia de tais intervenções.  A APA acredita que, o objetivo nestes casos deve ser promover a aceitação da realidade sem imposições. A presidente do comitê de peritos da APA, Judith Glasshold, diz que uma vez feita a análise, são sugeridas as possíveis estratégias para enfatizar determinados aspectos da fé religiosa, como esperança, perdão e a condenação da homossexualidade. Glasshold nesses casos sugere uma abordagem inclusiva de crenças, e em casos extremos, até avaliar a adoção do celibato como um estilo de vida, mas sem JAMAIS tentar alterar a orientação. 

Entretanto, nada disso impede que, especialmente setores das organizações religiosas americanas, lancem continuamente notas sobre "ex-gays". Esses gays que, supostamente tenham "superado" a sua orientação homossexual, são usados para promover tais terapias. O problema, para essas organizações, é que, de vez em quando, um ou outro "ex-gay" vem a público colocar em cheque essas terapias. O maior exemplo é o caso de Alan Chambers, presidente da "Exodus International", que admitiu há alguns meses, numa entrevista ao "New York Times", que apesar de ainda considerar as relações homossexuais pecaminosas, não é possível se "mudar" de orientação sexual através de terapia. Chambers também declarou que ainda se sente atraído por outros homens.