"Cura" gay: Como curar o que não é doença?


Por: Julio Marinho

Religião, preconceitos e manipulação

Esta semana tivemos novamente a ultrapassadíssima discussão sobre se os psicólogos e psiquiatras devem ou não ter o direito de "curar" a homossexualidade. A Comissão de Seguridade Social e Família realizou audiência pública nesta terça-feira (6) para debater a Resolução 001/99, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que proíbe os profissionais de proporem tratamento para "curar" a homossexualidade. A norma é de 1999, mas até hoje provoca polêmica. De acordo com o CFP, um pequeno grupo de psicólogos cristãos e deputados ligados à bancada religiosa do Congresso são contrários à norma, por motivos, obviamente, religiosos.

É certo que muitos homossexuais revelam sintomas psicopatológicos, principalmente a homofobia internalizada (ou sexualidade egodistônica), mas uma análise cuidada dessas manifestações, demonstra que elas têm como pano de fundo justamente a discriminação sofrida. Afinal de contas, quem não se sentiria mal sendo alvo sistemático de humilhação e/ou agressão? O papel dos terapeutas, diante de um eventual pedido de "cura", deverá ser o de capacitar o paciente na luta contra a homofobia, fazendo assim com que eles sejam capazes de afirmar a sua orientação sexual, primeiro junto as pessoas mais próximas, depois em outros ambientes mais abrangentes.

Quando profissionais da área admitem "tratar" a homossexualidade (alinhando-se, portanto, à velha e ultrapassada ideia de "doença"), estão também manifestando intolerância contra quem é diferente. As declarações são ainda mais graves quando já se iniciou uma discussão sobre a criação de uma lei que criminalize a homofobia, porque não faltarão referências a estas posições como justificativas para as agressões e assassinatos que ocorrem diariamente no Brasil. O caso é ainda mais sério quando a posição ideológica provém de alguém com responsabilidade profissional. Todos os profissionais da área têm por obrigação ética: aprender, conhecer e respeitar a pessoa humana na sua imensa diversidade. Contudo, é importante esclarecer alguns dos erros grosseiros presentes nesse tipo de discussão.

Em primeiro lugar, a homossexualidade é considerada hoje, pela própria ciência, uma orientação sexual tão saudável quanto a heterossexualidade. Uma simples consulta das resoluções das principais organizações mundiais de saúde, incluindo muitas de psicologia, que não mais consideram a homossexualidade uma doença, distúrbio ou perversão, poderia evitar esses erros grosseiros de avaliação. 

Em segundo lugar, a aceitação social não é critério científico para a definição de normalidade biológica. Já vimos o quão desastrosa é essa avaliação, vide o exemplo dos negros e índios, que até bem pouco tempo atrás eram considerados "sem alma" - justificando inclusive a escravidão -, segundo os mesmos critérios religiosos usados hoje em relação à homossexualidade.

Por último, os médicos devem evitar a homofobia, tal como o racismo, machismo ou a xenofobia são naturalmente evitáveis. Já imaginaram como se sentirá um adolescente homossexual sabendo que o médico que está à sua frente tem a certeza que a homossexualidade não é natural e de que ele é um doente?

Comentários

  1. Tem que curar o fanatismos desse povo, isso sim tem cura.

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  2. Excelente artigo, merece ter divulgação, parabéns!

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  3. o dificil vai ser esse povinho sem educação, pois o governo quer assim, aceitar, cada vez mais estão criando essa babaquice de doença. mais sempore é bom que esse assunto venha a tona.

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