Vereador afirma "nunca ter visto um gay feliz"


Um dos vereadores mais votado nas últimas eleições em São Paulo, Conte Lopes (PTB), não fez a menor questão de esconder sua homofobia durante entrevista à "TV Estadão", na última terça-feira (16). Questionado sobre seu posicionamento referente ao kit anti-homofobia (apelidado levianamente de "Kit Gay" e vetado pela presidente Dilma Rousseff), o vereador deixou bem claro sua posição contraria ao Kit: "colocar crianças que ainda não têm uma formação sexual em contato com certas coisas, dessa forma seria um caminho para descoberta da homossexualidade". Ou seja, para o vereador, a heterossexualidade é tão frágil que qualquer referência à homossexualidade faria alguém "virar" gay. E o parlamentar continuou vomitando suas bobagens ao afirmar: "ser gay não é bom pra ninguém" e que nunca viu um gay feliz. Quantos gays esse cidadão conhece? O fato dele "nunca ter visto um gay feliz" serve de parâmetro para quê mesmo?

Pensou que parou por ai, não queridos, o tal vereador - autor do livro "Matar ou Morrer", escrito em resposta a "Rota 66", do jornalista Caco Barcellos, que, por sua vez, faz um levantamento de dados sistemático e demonstra a brutalidade e ilegalidade das ações em que o tenente Conte esteve envolvido e, de acordo com Barcellos, com o apoio de alguns elementos da polícia civil e membros da justiça militar - ainda tinha mais bobagens a dizer: "Qualquer cidadão quer ter um filho, se for homem, jogando bola, se for mulher, brincando de boneca". Em primeiro lugar, um homem gay continua sendo HOMEM, tanto quanto uma lésbica continua sendo um MULHER. Em segundo lugar gays podem perfeitamente "jogar bola" (inclusive profissionalmente, exemplos é que não faltam), além disso, o fato de ser lésbica não impede que uma menina (ou até mesmo uma mulher), brinque de bonecas. Não são as brincadeiras que definem a sexualidade de ninguém. 

Para finalizar, o falacioso e homofóbico vereador, do alto de sua total ignorância com o tema, declarou que: "a homossexualidade não é natural nem normal" e que os psicólogos "deveriam analisar isso aí". Alguém precisa dizer ao vereador que psicólogos e psiquiatras já fizeram essa analise, e chegaram a conclusão que a homossexualidade é tanto natural quanto normal. Afinal de contas, as principais organizações mundiais de saúde, incluindo muitas de psicologia, não mais consideram a homossexualidade uma doença, distúrbio ou perversão. Desde 1973 a homossexualidade deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria. Em 1975 a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento, deixando de considerar a homossexualidade uma doença. No Brasil, em 1984, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) posicionou-se contra a discriminação e considerou a homossexualidade como algo não prejudicial à sociedade. Em 1985, a ABP foi seguida pelo Conselho Federal de Psicologia, que deixou de considerar a homossexualidade um desvio sexual e, em 1999, estabeleceu regras para a atuação dos psicólogos em relação às questões de orientação sexual, declarando que, "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e/ou cura da homossexualidade. No dia 17 de maio de 1990, a Assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde (sigla OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação Internacional de Doenças (sigla CID). Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.

Bom, entre a opinião de especialistas e a de um achista homofóbico, eu fico, evidentemente, com a primeira.

É justamente por conta desse tipo irresponsável de declaração maldosa e infeliz, que os assassinatos de homossexuais continuam, depressões e suicídios são frequentes nesta população, as agressões, ridicularizações e zombarias se estendem grandemente nas escolas e em grupos de adolescentes. 

Mas, o que mais me espanta e causa repulsa, é saber que esse cidadãos foi um dos vereadores mais votados de São Paulo. Será que essas pessoas, que votaram nesse homem(?), sabiam realmente em quem estavam votando? 

Assista abaixo:

Comentários

  1. RICARDO AGUIEIRAS18/10/2012, 09:35

    Que pena que ele não deu essa entrevista ANTES das eleições...enfim, ando pessimista, acho que a maioria da população gosta de gente assim. Não elegeram aquele hediondo Coronel Telhada, que perseguiu um jornalista da Folha de S.Paulo com ameaças de morte a ponto do mesmo ter que sair do país com sua família?
    Será que projetamos demais avanços sociais que nunca ocorreram? Muito legal e completo seu post de hoje, você foi a fundo em cada fala desse senhor homofóbico. Agora, repara numa coisa que vem me chamando a atenção: Por que ele tinha que sair falando sobre homossexualidade, com tanto enfase? Por que o Serra e o Haddad só falam disso, do "kit gay" e etc. e tals? Por que incomodamos, óbvio! Por que polêmicas, mesmo que banais, rendem votos. E se nós, LGBT's, rendemos votos a ponto de mobilizar toda a campanha desses dois péssimos, aqui em Sampa, é por que valemos muito. A militância LGBT precisa encontrar uma forma de também capitalizar isso a nosso favor, valemos demais para deixar isso passar em branco. Ou não seríamos tão citados e usados.
    Beijo,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  2. quanta estupidez gente, que homem ignorante!

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  3. Pois é Ricardo, vc tocou num ponto crucial, precisamos virar esse jogo, pois estamos sendo usados para polemizar e angariar votos. Ainda acho que o grande problema é que a maioria dos LGBTs ainda não tomou consciência da sua realidade.

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  4. Mas se ele não é feliz, existem outros gays que o são!

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