O Brasil é laico! Será?


Por: Julio Marinho

Somos um Estado laico, entretanto, nossas lideranças políticas são religiosas. Até ai seria absolutamente normal, o problema é que essas lideranças se baseiam em suas crenças religiosas ao tomarem decisões políticas. E, mesmo que a obediência ao que dita nossa Carta Magna seja uma prerrogativa do cargo, nossos governantes não conseguem separar uma coisa da outra. Tanto é assim, que nas questões dos direitos civis dos cidadãos LGBTs, por exemplo, as decisões  tendem a ter um viés confessional. 

Prova disso é o uso de símbolos religiosos em espaços públicos, como no Congresso Nacional, por exemplo, e as inúmeras declarações de líderes políticos, inclusive da nossa Presidente Dilma Roussef, que já declarou ser favorável a União Civil entre pessoas do mesmo sexo, MAS, contra o casamento, já que esse é um ato religioso, esquecendo-se(?), convenientemente, que existe o casamento civil e é este que deveria ser levando em cosideração nesse caso, já que em NENHUM momento o movimento LGBT brasileiro busca o direito ao casamento religioso. Existem várias declarações como essa, e até piores, ditas e reditas por várias lideranças, uma pesquisa rápida pela net prova isso.

Infelizmente, uma fatia importante e muito influente dos nossos parlamentares, continua a encarar o Brasil como um Estado criado por razões religiosas e para finalidades religiosas, mesmo, e apesar, da grande diversidade religiosa brasileira. Por conta dessas visões deturpadas dos nossos governantes, não é de se estranhar que, nem o casamento homossexual, ou o projeto de lei que criminalize a homofobia, sejam votados no Congresso nacional.   

É inconcebível que no Brasil, crenças religiosas ainda se intrometam em questões políticas, até porque, sabemos que essas intromissões já aconteceram no passado e sabemos bem os males que nos causaram. Mas não devemos aceitá-las novamente, jamais. Convicções religiosas não podem, e nem devem, ser colocadas acima dos direitos civis dos cidadãos. E para que isto seja possível, é preciso que vigore, realmente, o Estado Laico.

O laicismo - ou secularismo - é imprescindível para que haja uma democracia de fato. Leis e políticas devem resguardar todas as pessoas, independente de seus preceitos morais ou crenças religiosas. O laicismo de fato - e não o que vemos hoje no Brasil -, deveria ser um dos requisitos básicos para a existência de uma sociedade plural com base no reconhecimento e o respeito à diversidade. Por ser laico, o Brasil não deveria permitir que os princípios teológicos fossem levados em consideração no ato de governar ou legislar, pois, cabe ao Estado Laico garantir, a todos os cidadãos e cidadãs, o exercício da liberdade de consciência e o direito de tomar decisões livres e responsáveis.

Há algumas exceções de países não-laicos (confessionais) onde os direitos civis dos cidadãos são assegurados. A Dinamarca é o melhor e maior exemplo disso. Mesmo lá, onde a Igreja Evangélica Luterana é a oficial do Estado dinamarquês desde 1989, as Uniões Civis entre pessoas do mesmo sexo são aceitas. Em Junho desse ano também foi aprovado o Casamento, inclusive religioso, deixando a opção de celebrar ou não a cerimônia para os pastores das Igrejas. Outros exemplos de Países não-laicos, onde há o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, são: Argentina, Islândia, Noruega e Reino Unido. Nota-se que nesses Países os direitos civis dos cidadãos foram assegurados, apesar de não serem laicos, nesse caso, prevaleceu o bom senso, a ética e a justiça.  

O espaço público, em relação as crenças religiosas, deveria ser sempre neutro. Só que aqui não é. Talvez algum dia o Brasil deixe de conceder subsídios a certos grupos religiosos e priorize os direitos civis de todos os cidadãos. Até lá, teremos que conviver com essas arbitrariedades. Até lá, viveremos esse estado de absoluta hipocrisia.

Comentários

  1. RICARDO AGUIEIRAS06/10/2012, 07:46

    Achei o texto perfeito e completo, coloca vários lados da questão. Religiões, na verdade, deveriam se limitar aos templos e só lá dentro. Vai quem quer, ouve quem quer, sem proselitismo. Odeio veementemente todas as formas de proselitismo e de tentar fazer a cabeça de alguém, uma tragédia e um desrespeito grave com o próximo, isso. Tenho que entender que o outro deve pensar, refletir, portanto não posso impor a ele um caminho, não aceito isso nem mesmo na política, também proselitista em suas ideologias. São Paulo , por exemplo , caminha para uma tragédia, perderemos a pouca laicidade que nos resta, se o Celso Russomanno for eleito. Já vivemos o insuportável, viveremos o morrer!
    Beijos,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  2. Penso que a Presidente Dilma referia-se ao casamento religioso, e não civil. No texto, isto não ficou claro, e se assim for, toda a tônica do artigo precisa ser revista.

    Sou a favor do casamento civil homossexual, pois garante direitos humanos, legais e constitucionais.

    Quanto ao casamento religioso, isto vai depender dos fundamentos teológicos da religião, dos fies, e dos sacerdotes, os quais o direito de aceitar ou rejeitar, e isto é democrático .. não será o Estado que regulará, pois é laico.

    Em tempo, quatro perguntas dentro do tema:

    1) O que é, e principalmente, o que não é, homofobia?

    2) Ter orientação heterossexual, é ser homofóbico?

    3) Um sacerdote, de qualquer religião, que não aceita realizar um casamento gay, pode ser levado a juízo pela acusação de homofobia?

    4) Impedir um homem travestido de mulher, cujo orgão sexual é um pênis saudável, de usar o banheiro feminino, é homofobia?


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  3. Muito obrigado Ricardo. Luiz, acho que vc não leu o texto, ou tem problemas de interpretação. Ela, a presidente, se refere ao casamento de um modo geral, JUSTAMENTE por isso eu digo: "esquecendo-se(?), convenientemente, que existe o casamento civil e é este que deveria ser levando em consideração nesse caso, já que em NENHUM momento o movimento LGBT brasileiro busca o direito ao casamento religioso." E porque deveria rever toda a tônica do texto, se esse é apenas um exemplo? Quanto as 4 perguntas, até iria responder, mas quando me deparo com a segunda, vejo que vc está brincando, não é?

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  4. RICARDO AGUIEIRAS07/10/2012, 14:55

    Bom, o Júlio tem muita classe, como eu não tenho, vou responder as perguntas do Luiz L. Maris, apesar de serem capciosas, já revelando quem é o autor e como ele pensa.
    1) Homofobia é toda a negação de DIREITOS IGUAIS aos cidadãos e cidadãs lGBT's. Que , aliás, pagam impostos iguais como qualquer cidadão heterossexual. Estudando nossa Carta Magna, que deveria ter um respeito absoluto, temos 112 Direitos negados, nós , LGBT's, perante heterossexuais... 112 não é pouco, não? ( Aqui, detalhes, mas se não gostar, tem muito mais informações sobre no Google (http://carlosalexlima.blogspot.com.br/2010/08/uma-rapida-revisao-dos-direitos-que-sao.html)
    Não queremos nada mais, nenhum privilégio, Direitos Iguais, nem menos, nem mais! Homofobia, apesar de abranger também agressões de toda forma aos cidadãos e cidadãs que diferem, é basicamente, se achar superior em direitos do que qualquer outra pessoa. Homofobia tem , também, nuances muito delicadas: se preocupar muito com o modo de vida gay, não sendo gay, pode ser um exemplo de homofobia. A vida nos prova que um hétero bem resolvida não se preocupa com gays, exceto para garantir Direitos iguais e apoio, como já colocado em outros posts, aqui, de famosos héteros que nos apoiam...Respeitar em igualdade LGBT's, por exemplo, não é homofobia. Mas o Google pode explicar mais e rapidamente.
    - Não, ter orientação heterossexual não é ser homofóbico e nunca foi, assim como ser branco não é ser racista. Agora, se um heterossexual se julga superior aos cidadãos e cidadãs LGBT's, aí, é obviamente homofóbico. Bem como se promover agressões e assassinatos aos mesmos...
    -Não! Sacerdotes, sacerdotisas, bispos, bruxas, pastores, pais de santo, mães de santo, fadas, feiticeiras, padres e etc. não tem obrigação nenhuma de realizar casamentos religiosos algum, e nem de casais LGBT's, e nem por isso é homofóbico. O Movimento LGBT BUSCA O CASAMENTO CIVIL, fora de templos, igrejas e terreiros, casamento civil é feito em cartório e perante um juiz. Juiz e formado para obedecer leis e estão todos e todas , submetidos ao STF e ao o que este determina. Juiz garante o cumprimento da Lei e é isso que nós sempre buscamos, nada a ver com religião. Religião é para dentro dos templos e para quem acredita, não pode ser imposição.
    - Não é e nem nunca foi e nunca será um pênis ou uma vagina que determinam o que é um homem e o que é uma mulher. Um pênis ou uma vagina não fazem o indivíduo e essa é uma visão ultrapassada, reacionária e que já caiu por terra perante avanços da Ciência. De novo, o google está aí para isso. Consulte-o. Um ser humano é muito mais que sua genitália e muito mais complexo que isso. E, por último, essa não é a discussão do post de hoje, o post de hoje fala claramente sobre a Laicidade do Estado. Comentários deveriam se ater à temática do post e aprofundá-la, mesmo que na discordância. |Um post não engloba toda a idiossincrasia de um universo e sociedade, senão eu perguntaria aqui se excesso da carros provocam ou não o aumento da poluição ou por que subiu tanto o preço do tomate... não fica estranho?
    Bom, espero ter respondi, mas se não respondi, Google it! Boa sorte em sua pesquisa!!!
    Ricardo Rocha Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  5. A verdade é que o Brasil nunca foi Laico e pelo jeito não está nem um pouco preocupado em vir a ser.

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  6. deixe a cruz aonde está, voces falam tanto em respeito, se esqueceram que a maioria é crista nesse país?? eu sou gay e cristao com orgulho

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  7. O fato de ser maioria não quer dizer que todos tenham que se submeter a essa, ou aquela, religião, é por isso que somos um país laico. Basta raciocinar um pouquinho para entender isso, só um pouquinho.

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