Circuncisão: Mutilação genital masculina?


Circuncisar ou não circuncisar, eis a questão... Na verdade, quando se trata de judeus e muçulmanos, essa não chega a ser uma questão, mas uma imposição. Pior, uma imposição bastante cruel, já que o procedimento é feito em crianças que não tem o poder de decidir ou se defender. Não, eu não estou questionando a prática religiosa, mas sim o fato dela ser feita numa pessoa que sequer sabe do que se trata. Qualquer religião deve, antes de mais nada, ser uma escolha, nunca uma imposição. 

A circuncisão (exérese do prepúcio, peritomia ou postectomia) é um procedimento cirúrgico no qual se remove o prepúcio, a pele que recobre a glande (cabeça do pênis), utilizada - ou pelo menos deveria ser - para corrigir a fimose patológica, ou seja, a ausência de retratilidade do prepúcio em crianças mais velhas e adolescentes. E para deixar bem claro, as principais Sociedades de Pediatria do mundo não recomendam a realização rotineira da circuncisão sem indicação médica.

Pesquisas recentes mostram os poucos - ou nenhum - benefícios do procedimento que não passa de um tipo de mutilação irreversível e que pode ter efeitos colaterais, além de diminuir a sensibilidade numa área onde a mesma é essencial. Não há razões, além de crenças religiosas, de cortar um prepúcio - perfeitamente saudável -, e ​​que pode ser mantido completamente limpo desde a infância, com um treinamento adequado e fácil.

Também não há razão para que crenças religiosas imponham a um bebê inocente, ou uma criança, tal mutilação. Devemos escolher o que fazer com o nosso próprio corpo, e por isso a circuncisão masculina é cada vez mais comparada às mutilações genitais femininas que, ainda, são realizadas em várias regiões da África. Sim, mutilações genitais femininas são muito mais cruéis, perigosas, graves e incapacitantes, e é por isso que elas foram consideradas inaceitáveis e foram criminalizadas, sem nenhuma consideração à cultura ou crenças religiosas. Mas se a mutilação genital feminina é um ataque aos direitos humanos individuais, por que não a circuncisão masculina?

É necessário dizer que, o tratamento cirúrgico da fimose (anomalia congênita ou enfermidade adquirida. Afecção bem definida, caracterizada pela presença de uma constrição no extremo distal do prepúcio) deve seguir alguns critérios como: idade da criança, condições anatomoclínicas do prepúcio, grau da fimose, complicações ou sequelas da fimose.

Outro ponto relevante diz respeito a circuncisão como meio de prevenção a transmissão do vírus HIV. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UnAids), a circuncisão masculina pode ser usada como uma importante intervenção adicional para reduzir o risco de infecção do HIV. No entanto, a assessoria técnica do Programa Nacional de DST/Aids diz que não há consenso sobre o assunto e que estudos não revelam impacto do método em mulheres, sendo o ato cirúrgico impraticável no Brasil, com o método de prevenção, nos moldes propostos pelas duas instituições internacionais.

"É no mínimo uma colocação desastrosa, dois órgãos de tamanha importância tomarem uma decisão precipitada sem esperar um debate mais conclusivo. A questão ainda é polêmica demais e nem mesmo a Fundação Bill Gates ainda tem um parecer final sobre o assunto", criticou o ativista e coordenador da AFXB Brasil, José Araújo de Lima.

"Não sou especialista no assunto, mas acho que isso pode ser um pouco perigoso, principalmente porque as pessoas podem usar a ideia para abolir a camisinha", ressaltou o presidente do Fórum de ONG/Aids do Rio de Janeiro, Roberto Pereira.

De qualquer forma, esse procedimento deveria ser feito apenas em pessoas adultas, onde há o poder de decisão.

Recentemente um tribunal da cidade alemã de Colônia proibiu a prática da circuncisão por qualquer motivo, incluindo crenças religiosas, considerando que isso seria uma violação aos direitos humanos de crianças que não podem escolher por si mesmas e que sofrem uma perda irreversível. Algo parecido aconteceu em San Francisco no ano passado, ativistas da cidade lutaram para que a população local pudesse votar em uma proibição à circuncisão de menores, no entanto, um juiz decretou que o referendo não poderia ser realizado por motivos técnicos. Parece que há uma tendência em favor da integridade física e contra as superstições religiosas. Menos mal!

Em contra partida, judeus e muçulmanos na Alemanha ficaram revoltados e acusaram o governo de discriminação, racismo e anti-semitismo, mas obviamente não foram essas as motivações que levaram os juízes a decidirem, mas sim os direitos humanos dos indivíduos que estão sujeitos aos caprichos de seus pais. Não existem proibições para que adultos cortem seus próprios prepúcios, como não há proibição de participar de um culto, portanto, não vejo onde a decisão dos juízes alemães possa ser considerada discriminatória, muito pelo contrário.

Estas decisões são extremamente saudáveis, um passo na direção certa, porque quando os pais não têm o direito de mutilar seus filhos fisicamente, talvez as pessoas, finalmente entendam, que elas não têm o direito de mutilar mentalmente seus filhos com suas crenças e superstições.

Aqui no Brasil existe a desconfiança de que muitos desses procedimentos sejam feitos sem que haja necessidade. Algumas pessoas até acusam médicos (principalmente os de planos de saúde particular) de propor o procedimento por questões financeiras, afinal de contas, aconselhar os pais a ensinarem seus filhos noções básicas de higiene, não seria lá muito rentável...

Há também quem considere esse um procedimento meramente estético, até ai tudo bem, desde de que, a pessoa tenha consciência de todos os riscos e desvantagens envolvidos no ato cirúrgico (a perda de sensibilidade seria uma das maiores desvantagens). Enfim, como já havia destacado acima, cada um deve ter o direito de fazer o que quiser do seu próprio corpo. 

Comentários

  1. RICARDO AGUIEIRAS29/09/2012, 05:21

    Exatamente! Eu perdi 90% da sensibilidade que tinha na glande, por isso. Operei-me, por que o médico assim o quis e nem perguntou se eu queria , aos 17 anos de idade, meus pais autorizaram, tiraram pele demais, tanto que quando me excito tenho a sensação de pele esticada. Cansei-me do discurso médico, autoritário sempre, detentores do Saber, portanto o paciente que cale a boca. Decidem até mesmo se você deve viver ou morrer, como um deus, vide o que está escandalosamente ocorrendo em Portugal - mas que aqui também acontece muito! - onde um presidente de um Comitê de Ética para a Saúde, ligado ao Ministério da Saúde de lá falou que " não se deve mais gastar em remédios caros para doentes de câncer ou de aids,por que vão morrer mesmo". Ou seja, para detentores do Saber a vida vale menos que o dinheiro. Ainda bem que a internet - que muitos médicos têm raiva - veio para relativizar um pouco isso. QUE TU TENHAS TEU CORPO!
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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    1. Muito obrigado Ricardo. Um depoimento tem o poder de reafirmar um texto. Acho uma lástima que as pessoas sejam convencidas a fazer algo tão grave por conta de uma crença, má vontade ou leviandade de quem tem o dever de cuidar, não mutilar.

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  2. ISSO!! Ao contrário do que muitos apregoam, não existe justificação NENHUMA para a circuncisão. A fimose, quando não se resolve pela simples dilatação gradual ajudada com cremes, etc., pode se resolver com uma incisão mínima, não requerendo JAMAIS a circuncisão - cujo objetivo TAMBÉM é atrapalhar o acesso ao prazer para produzir seres mais facilmente domináveis.

    Como a mutilação genital feminina é praticada por muitos povos mas não pelos judeus, ela é bárbara; como a mutilação genital masculina é instituição fundamental dos judeus, padrastos da civilização ocidental, ela é um recomendável ato de higiene e saúde pública...

    ATÉ QUANDO VAMOS DEIXAR OS ETNOCENTRISMOS SE IMISCUÍREM NA VISÃO CIENTÍFICA E OBJETIVA DAS COISAS?

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    1. Muito obrigado Ralf, vc acrescentou muito a essa discussão. Seu ponto de vista ainda foi além do que propus.

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  3. Falta a essas pessoas relgiosas uma visão crítico-filosófica. Estamos vivendo ainda nas cavernas em pleno século XXI.
    Elismar

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  4. a circuncisão só se faz necessaria, quando esta causando dores no ato sexual, ou fica a criterio do proprio homem, eu conheci um rapaz já adulto que ele mesmo procurou um medico e fez a cirurgia, e diz que gostou. agora fazer isso em meninos recem nascidos eu discordo. alias sou um apreciador de prepucios longos, ok ?

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  5. Os pais precisam tomar conta do corpo dos filhos e se preparar para a maternidade-paternidade. Ficar dando ouvidos aos que os doutores ou leigos falam é falta de conhecimento puro. Os pais precisam ser autoditadas em muitas coisas, inclusive conhecendo o próprio corpo. Começa por aí. Sou contra a circuncisão, porque fui circuncidado por força física. Em 1985 tive essa grande perda (para mim foi!!) e sofri bullying a vida inteira por isso. Tenho meus motivos de sobra para abominar essa cirurgia e toda e qualquer religião. Sou ateu convicto. Depois que fui circuncidado abanminei a igreja de tal forma que até minha família estranhou. Religião, circuncisão e patriarquismo estão intimamente ligados.

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  6. Leiam, primeiro o ator Russell Crowe fez duras críticas, muito boas todas, à circuncisão, aqui:
    http://www.paulopes.com.br/2011/06/circuncidar-crianca-e-procedimento.html
    e depois, infelizmente e cedendo a pressões, ele se descupou, uma pena: http://www.haaretz.com/jewish-world/actor-russell-crowe-apologizes-for-anti-circumcision-twitter-rant-1.367095
    e assim, ora com o opressor discurso médico, ora religioso igualmente opressivo, vamos sendo mutilados..
    Beijos,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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