Declaração de funcionária do governo alemão contra casamento gay provoca revolta na internet

BERLIM - Que a Alemanha é um dos lugares mais tolerantes do mundo no que se refere aos direitos civis dos cidadãos LGBTs, isso ninguém discute, entretando, esta semana um novo debate sobre esses direitos ganhou força depois que Katherina Reiche, membro de um partido conservador alemão, fez comentários polêmicos sobre as "Uniões Civis" entre pessoas do mesmo sexo.

Katherina, que faz parte da União Democrata Cristã (CDU), fez observações em apoio das posições conservadoras do seu partido sobre os "valores familiares tradicionais", semelhantes às opiniões dos grupos anti-gays dos EUA. "Nosso futuro está nas mãos da família, não nas uniões civis entre pessoas do mesmo sexo", disse ela, reagindo a um recente debate alemão sobre direitos de casais gays às uniões civis. "Depois da crise do euro, a mudança demográfica é a maior ameaça à nossa prosperidade", acrescentou, em uma referência ao fato de que a taxa de natalidade da Alemanha deverá diminuir drasticamente nas próximas décadas. A CDU, disse ela, "deve dizer claramente que defende a família, os filhos e o casamento."
 
Esses comentários provocaram uma onda de protestos e uma quantidade impressionante de crítica através da Internet. Várias pessoas chamaram Reiche de "homofóbica" e "pregadora do ódio contra os homossexuais", o que a levou a excluir sua página do Facebook na terça-feira passada. Entretanto, logo em seguida ela mesmo lançou uma nova página no Facebook chamada "Sem Futuro Com Katherine Reiche", que recebeu mais 6.000 "curtidas" um dia após ter sido criada. Uma carta aberta endereçada a Reiche na página dizia: "Seus comentários são um tapa na cara de todas as famílias que não correspondem às suas normas tradicionais".

A Federação de Gays e Lésbicas da Alemanha (LSVD) criticou Reiche e outro membro conservador do Parlamento por seus comentários: "Há dias políticos conservadores estão polemizando contra gays e lésbicas de modo inaceitável, em uma linguagem que normalmente esperamos apenas de populistas e extremistas de direita".

Reiche também enfrentou críticas de dentro de seu próprio partido. "Não denigra indiretamente a mim e à minha vida como uma 'ameaça à nossa prosperidade'", escreveu Jens Spahn, membro do Parlamento pela CDU, no Twitter. "Isso está indo longe demais". Já a ala jovem da CDU no distrito eleitoral de Reiche, em Potsdam, próximo de Berlim, também expressou sua "indignação com os comentários". Tino Fischer, chefe da ala jovem de Potsdam, em comentários para o jornal "Märkische Allgemeine" disse: "A visão de mundo humanista da Sra. Reiche parece terminar na cerca de seu próprio jardim".

Após aos comentários de Reiche, Franz Josef Wagner, um antigo comentarista e ex-editor-chefe do "Bild", tablóide sensacionalista de grande circulação na Alemanha, escreveu na quinta-feira passada um editorial de segunda página onde dizia: "O Ministério da Justiça deseja tornar as uniões civis iguais aos 'Casamentos-Papai-Mamãe-Bebê'. (...) Isso faz-me sentir enjoado." E continuou: "Anteriormente, os homossexuais eram sentenciados a penas de prisão. Que tempos gloriosos para você. Ninguém mais prende você, você pode amar seus parceiros e você é autorizado a amá-los".
 
A mensagem é clara: Seja feliz por poder viver fora da prisão!

Além de observar que os gays na Alemanha não só tinham sido presos em tempos passados, mas também foram ASSASSINADOS em campos de concentração como O "Sachsenhausen", Christian Mentz, editor da "Siegessäule", uma revista de Berlim voltada para o público gay, escreveu: "Eu não fico apenas enojado, eu quero vomitar quando penso nos gays e lésbicas, incluindo aqueles que têm a responsabilidade de criar filhos, lendo suas palavras".

Comentários