Segundo relatório, houve aumento de 78% de registros de ocorrências em um ano. Número pode ser maior, porque só as Delegacias Legais registram casos por homofobia
Às vésperas da inauguração do Centro de Referência da Cidadania
para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) em
Niterói, que acontece nesta terça, foi divulgado o relatório produzido
pelas Secretarias de Assistência Social e Direitos Humanos e Segurança,
em conjunto com a Superintendência de Direitos individuais, Coletivos e
Difusos e programas de Prevenção do Estado do Rio de Janeiro, com os
números de ocorrências registradas de crimes motivados pela homofobia.
Os dados foram coletados em delegacias legais da Região Metropolitana
II, que abrange os municípios do Leste Fluminense (Niterói, Maricá, São
Gonçalo, Itaboraí, Tanguá e Rio Bonito).
As informações foram apuradas de outubro de 2010 a setembro de 2011.
Os números mostram que nesse período foram registrados, em nove
delegacias da Região, 77 casos presumidos de homofobia. No ano passado,
quando relatório foi apresentado pela primeira vez, os dados foram
coletados de outubro de 2009 a setembro de 2010, em sete delegacias, com
40 registros. Em todo o Estado, no período de 2009 a 2010, o total de
ocorrências lavradas como homofobia ficou em 461 casos. Já no relatório
divulgado esse ano, os números ficaram em 825, ou seja, houve um
crescimento de 78%.
Apesar desses números significativos, os casos de agressões podem ser
maiores do que mostra o documento, pois, apenas Delegacias Legais
registram ocorrências tipificadas por motivos de homofobia, nas demais
unidades, os episódios de violência são registrados como agressão
física. Além disso, o próprio receio dos gays em procurarem o serviço da
Polícia nesses casos torna-se uma barreira.
O diretor da ONG Grupo Diversidade Niterói Victor De Wolf descreve o
acompanhamento do grupo em casos de agressões por homofobia e ressalta o
aumento no número de denúncias por parte dos homossexuais. "Quanto mais
sairmos do armário, mais os homofóbicos saem de seus armários também.
Ainda temos um longo caminho a percorrer no sentido da não agressão, mas
o fato de assumirmos uma postura positiva diante dessa realidade já é
um grande passo.", opina.
Em uma festa na cidade, em junho de 2010, um grupo de gays dançava e
se divertia quando foram abordados por seguranças da festa com o
argumento de que com “aquele comportamento” eles não poderiam permanecer
no local.
O produtor cultural Miguel Macedo, de 32 anos, que é militante do
movimento gay de Niterói, estava entre o grupo e revela a forma
truculenta de como foram retirados da festa. "Eram uns cinco ou seis
guardas que me agrediram com chutes e tapas. O grupo reagiu sem
violência e fomos registrar o caso na 76ª DP, no Centro da cidade. O
processo rola até hoje.", revela.
Niterói ganha centro de referência LGBT
A cidade de Niterói será contemplada nesta terça com o quarto Centro
de Referência da Cidadania LGBT do Estado. As outras três unidades são:
Serrana I, em Nova Friburgo; Baixada I, Duque de Caxias e Capital, no
Rio de Janeiro. O programa é desenvolvido pelo Governo do Estado e toda
população poderá ter acesso a uma série de informações que dizem
respeito à vida de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
O local escolhido para sediar o Centro de Referência, que irá
funcionar de segunda a sexta, de 8h às 18h, é o prédio anexo da Fundação
Leão XIII, no Ingá, na Rua Visconde de Morais, sem número. A equipe do
centro é multidisciplinar e conta com advogados, assistentes sociais,
psicólogos, entre outros.
Os objetivos são atender à população LGBT, familiares e amigos de
vítimas de discriminação e violência homofóbica; orientar LGBTs e
sociedade em geral sobre direitos; esclarecer dúvidas sobre saúde e
serviços sociais; sensibilizar e capacitar gestores públicos e segmentos
da sociedade local sobre homofobia e cidadania LGBT; formar banco de
dados estadual sobre o tema e rede de apoio.
De acordo com Victor De Wolf, que também é diretor da Associação
Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(ABGLT), haverá uma comissão formada por entidades representativas. "As
ações, os números, a relação com as delegacias e reclamações sobre o
atendimento serão avaliadas mensalmente por essa comissão.", afirmou
Victor.
Fonte: O Fluminense
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