Itália censura referência a preservativos em cartilha elaborada pela OMS

O Ministério da Saúde da Itália proibiu referência a preservativos na versão italiana de um folheto elaborado pela OMS, por ocasião da celebração da Euro 2012. Este é o último de uma longa série de incidentes semelhantes e que deixa claro como as autoridades italianas ainda consideram "preservativo" uma palavra proibida. Essa atitude fica por conta das pressões do Vaticano.

A censura ocorreu na versão italiana do folheto que a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu para viajantes que iriam assistir a edição do XIV Campeonato Europeu de Futebol, a ser realizado na Polônia e Ucrânia neste verão. A "Eurocopa 2012-UEFA EURO 2012" acontecerá entre os dias 8 junho a 1 julho, em quatro cidades na Polónia (Gdansk, Poznan, Varsóvia e Wroclaw) e quatro na Ucrânia (Donetsk, Lviv, Kharkiv e Kiev).

O folheto contém um conjunto abrangente de recomendações de saúde e conselhos para os viajantes. Uma recomendação importante, por exemplo, é atualizar a situação vacinal. As autoridades de saúde têm alertado que, desde novembro de 2011, quando um surto de sarampo aconteceu na Ucrânia, foram notificados mais de 5.000 casos da doença, que pode se tornar grave em adultos não vacinados. Na seção sobre doenças sexualmente transmissíveis, o relatório recomenda o uso correto de preservativos como uma ferramenta de prevenção eficaz. Essa referência desapareceu "misteriosamente" da versão italiana.

Após a polêmica, o Ministério da Saúde italiano declarou que ocorreu um erro e ordenou a alteração o texto. No entanto, a realidade é que a anos o governo da Itália evita fazer referências ao uso do preservativo em suas campanhas. Este episódio é apenas o último de uma longa série de incidentes, mais ou menos semelhantes, que têm ocorrido nos últimos anos. Poucos dias atrás, se falou no caso do Hospital Floraspe Renzetti de Lanciano, cujo centro de transfusão distribuía um documento que listava a homossexualidade como um critério de exclusão para a doação de sangue, sem sequer se considerar a possibilidade de sexo seguro. Em março de 2011, um professor (gay) foi demitido por ter apoiado a instalação de uma máquina de camisinha em sua escola. E em dezembro passado, por ocasião do Dia Mundial de combate a AIDS, o diretor-assistente da RAI 1, uma das principais rádios públicas da Itália, recebeu um e-mail onde eles foram orientados a evitar usar os termos "preservativo", "camisinha", "profilático", ou qualquer um de seus derivados, nem tão pouco alguma referência a data em suas transmissões naquele dia (aqui). Dias depois o popular apresentador de TV, Fiorello, teria ridicularizado essa tentativa de censura em seu programa, o que lhe valeu severas críticas de setores católicos.

Em 1995, a apresentadora de TV, Alba Parietti, participou de uma campanha de prevenção ao HIV/AIDS, onde fez um vídeo onde repetia sucessivamente a palavra "preservativo". Parietti disse na época que essa era uma forma de protestar contra a intolerância, o moralismo, e a censura. As coisas parecem não ter evoluído muito desde então...

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