"Eu tenho orgulho do meu filho gay"

Há pouco menos de dois meses a professora aposentada Luci de Carvalho se submeteu a uma cirurgia para implantar uma prótese no joelho. Durante o período pré e pós cirúrgico foi assistida por sua nora, Aline, que é enfermeira e chegou a integrar a equipe cirúrgica. As duas ficaram amigas desde que a enfermeira começou a namorar a filha mais velha de Luci, a promoter de eventos Aline Carvalho.

Quando o bailarino Wesley Batista separou-se de seu primeiro companheiro, Moisés, depois de quatro anos e meio morando juntos, sua mãe, a manicure Eliane Batista, foi quem mais sentiu o baque. "Eu chorei mais que Wesley (risos). Era muito apegada ao Moisés e via ele sofrendo daquele jeito... Ele foi uma pessoa muito importante na vida do Wesley, o primeiro namorado, era um porto seguro. Fiz de tudo para que o casamento deles voltasse, mas não deu certo", lembra Eliane.

Já a gerente de loja Rocélia Melo foi mais prática. Ao ver o DJ Victor Wesley, seu primogênito, insône pela casa, deprimido por conta do fim do namoro com Rafael, ela se dispôs a levar o então adolescente de 17 anos à casa do ex-namorado para tentar uma reconciliação. “Comprei uma caixa de bombons e um cartão para o Victor escrever e fui bater na casa do Rafael com ele. Não dava mais para ver meu filho sofrendo tanto e não fazer nada. Como ele não dirigia, peguei o carro e eu mesma fui”, conta Rocélia.

A comerciária, a professora e a manicure não se conhecem, mas as três partilham de uma mesma atitude. Todas elas lidam tranquilamente com a homossexualidade de seus filhos.

Por causa destas mulheres, nestas três famílias, a diversidade sexual não é razão para distanciamento. "Não tem porque ser diferente. Ser homossexual não é desvio de caráter. Meu filho é gay, não é drogado nem marginal. Amo meu filho agora mais que nunca", declara Eliane.

Luci não fica atrás. Segundo ela, a família ficou muito mais unida depois que passou a conviver harmoniosamente com a homossexualidade de Aline. "Ela é minha filha, não faz diferença se é hétero ou não", pontua.

"Amor de mãe ninguém questiona", dizia Carlos Tuvfesson, na abertura da exposição "Mães pela igualdade", realizada pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual, na Praça Antero de Quental, no Leblon.

Ele fala com conhecimento de causa. Diante da negativa da Justiça para converter sua união estável com o arquiteto André Piva em casamento, foi a mãe do estilista, Glorinha Pires Rebello, quem deu a benção na cerimônia. "Eu, no meu direito de mãe e diante das leis do amor, os declaro casados", disse ela naquele dia.

"Não preparei nada, veio do coração de mãe", lembrava Glorinha, que, graças ao feito, recebeu o prêmio "Triângulo Rosa" do Grupo Gay da Bahia ("mas não me mandaram o troféu até hoje"). Ela sempre foi uma mãe moderna. Separou-se quando Tuvfesson tinha apenas dois meses. "E ninguém fazia isso na época e ele sofreu discriminação na escola por ter pais separados."

Todas essas histórias - e muitas outras - só são possíveis porque essas mães, acima de qualquer coisa, amam VERDADEIRAMENTE seus filhos.

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