Beijo gay em novela: Por que não?

E lá vamos nós, mais uma vez, ter de atura essas polêmicas em relação a casais gays em novelas. A bola da vez agora será o casal formado por Roni (Daniel Rocha) e Sidney (Felipe Titto) que, segundo jornais e revistas, terão um relacionamento na novela "Avenida Brasil". Será que dessa vez teremos o tão aclamado beijo gay em uma novela da TV Globo? Acho muitíssimo difícil que isso aconteça, mas enfim...

Todas as vezes que tocamos na questão do beijo gay em uma novela, os argumentos contrários são sempre os mesmos, enquanto uns dizem que isso é uma bobagem e que temos coisas mais importantes para nos preocupar, outros dizem que os telespectadores ainda não estão preparados para assistirem tal cena. Ora ora, se é uma bobagem porque não mostrá-lo então? E, como é que as pessoas vão se acostumar com algo que não lhes é mostrado?

A bem pouco tempo atrás, um personagem homossexual em uma novela, também causava um certo espanto, justamente por conta da tal "falta de costume", mas hoje é tão comum que não há uma novela sequer que não tenha, pelo menos um personagem com essa orientação sexual. Essa naturalidade só se deu justamente porque esses personagens passaram a fazer parte do cotidiano novelístico. Aliás, não poderia ser diferente, já que homossexuais existem, e se não me engano, novelas, de um modo geral, tem como objetivo retratar a realidade do nosso dia a dia.

Hoje é extremamente normal um beijo entre um casal hétero, mas nem sempre foi assim. Em 1895 o público ficou bastante chocado com o primeiro beijo da história do cinema, no filme "The Widow Jones", onde a loira May Irving beijava o bigodudo John C. Ricci por... quatro segundos, o escândalo foi tanto, que a cena teve que ser reduzida pela metade na tela. Mas o mais escandaloso mesmo foi o beijo dado pela atriz Grace Kelly em James Stewart, no filme "Janela Indiscreta". Tanto quanto hoje - em relação a um beijo gay - choveram críticas dos moralistas e conservadores da época.

Na novela Insensato Coração, escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares, havia o casal Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo), que aliás, foi tratado de maneira bem realística e digna. Sobre a primeira relação sexual do casal, um dos autores disse na época: "Ficou explícita a iniciação homossexual de Eduardo e nada foi mostrado. Fizemos o antes e o depois da transa de uma forma sutil que agradou a todos. Saio do Projac com o carro abarrotado de presentes e cartas que recebo do público. Eduardo já tocou muita gente". Ora, se houve a tal transa, não seria prá lá de natural que houvesse uma cena de beijo do casal, como acontecem com TODOS os outros casais héteros? E, se a reação do público, como disse o autor, foi bastante favorável, não seria mais justo e óbvio que o beijo entre os dois fosse mostrado?

Enquanto isso na novela "Amor e Revolução", escrita por Tiago Santiago e exibida no SBT, houve o primeiro beijo gay da telenovela brasileira. As personagens Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre), se beijaram por cerca de 40 segundos. Apesar de toda a polêmica, o capitulo em questão marcou uma média de 6 pontos - segundo prévia do Ibope. Apesar da baixa audiência, a emissora foi ousada e corajosa, ao tentar quebrar esse antigo tabu que insiste em poluir a dramaturgia brasileira.

Mais recentemente na novela "Aquele Beijo", a travesti "Ana Girafa", vivida pelo ator Luis Salém, foi "impedida" de viver um romance no fim da novela. O autor da novela, Miguel Falabella, disse em uma entrevista, que resolveu cancelar o namoro da cabeleireira para evitar que a novela fosse reclassificada pelo Ministério da Justiça.

"Eles não deixam tratar desses assuntos nesse horário. Se eu desse um namorado para a Ana Girafa, a novela seria reclassificada. E como essa novela foi tranquila, não deu trabalho, não teve processo, resolvi não criar problema", disse o autor aos risos.

Entretanto, Davi Pires, diretor-adjunto do Departamento de Classificação, Títulos e Qualificação, do Ministério da Justiça, desmentiu o novelista. "O beijo, por si só, é de classificação livre, seja ele dado entre pessoas do mesmo sexo ou não. O que vai alterar a classificação indicativa é o nível de erotização da cena, mas, de novo, independentemente do gênero dos componentes do casal."

Que vergonha Miguel Falabella!

É por essas e outra que, sempre que me deparo com a pergunta: "Porque tem que ter beijo gay em novela?", eu me pergunto: E porque não?

Comentários

  1. RICARDO AGUIEIRAS21/05/2012, 13:30

    Adorei o texto, Julio! Bem completo e assertivo. Minhas dúvidas e percepções são as mesmas, suas...na verdade, não é uma preocupação com o público, não, já que tv vive de Ibope, mas, sim, preconceitos da Rede Globo e sua equipe, diretores e etc.
    Beijo,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  2. Esse miguel falabella é doido o Julinho de tititi teve 2 namorados e nem por isso a novela mudou a classificação.
    Falando nisso pra mim Tititi foi a melhor novela q abordou um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo pq fez isso com respeito e sem esteriótipos.Só faltou o beijo que eu queria tanto ver =(
    Quem quiser ver uma novela com um casal gay sendo tratado igual a um casal hétero eu sugiro Verbotene Liebe uma novela alemã que tem o casal mais fofo das novelas na minha opinião: Christian e Oliver é só jogar no Youtube

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