Até onde nos levará o discurso complacente?

Me aborrece profundamente essa ideia de que nós - cidadãos LGBTs - temos de ser complacentes com todos que nos atacam. Por que somos sempre nós que temos de usar de um discurso ameno, quando os que nos agridem o fazem de maneira contundente, baixa, desonesta, leviana, estúpida, violenta etc.? Por que sempre temos de ser os polidos, bonzinhos e educadinhos da história, se o que recebemos em troca são apenas ataques e negações?

É bom lembrar que nunca conseguimos nada assim, nunca. Tudo o que conquistamos foi com muita luta e enfrentamento. Ao longo da história, grupos e minorias que saíram do anonimato só conseguiram vez, espaço e voz, quando atuaram com firmeza e sem medir as consequências. Lembrem-se de Stonewall, das Sufragistas e dos Panteras Negras, só para citar alguns. O que mais me espanta, é que parte da militância aderiu a essa postura comedida, que na verdade não passa de ingenuidade. Enquanto agimos com cordialidades e salamaleques, nossos perseguidores continuam a nos demonizar com seus discursos de ódio. Não adianta distribuir flores, enquanto recebemos lampadada, soco, facada, paulada e tiro na cara.

Toda vez que "elevamos o tom" somos acusados de radicalizar e de sermos intolerantes, mas e daí? Não estou nem um pouco preocupado de ser visto assim, não mesmo. Até porque, isso não passa de uma tática perversa de inversão da lógica. E, enquanto caímos nessa esparrela, continuamos a ter nossos direitos usurpados. Somos caçados feito bichos país a fora, enquanto o governo - cúmplice da bancada fundamentalista e raivosa - insiste em negar o que é tão claro e óbvio. Ainda há os que defendem - sabe-se lá por quais motivos - o indefensável.

Enquanto o Congresso - com a anuência do governo - vira palco para proselitismos religiosos, leis a ações anti-homofobia são sumariamente varridas para debaixo do tapete sem o menor constrangimento. Para os teocratas das bancadas religiosas, quem não estiver de acordo com seus dogmas, estará com sua alma perdida e pagará no fogo do inferno eternamente. Estado laico? Onde? Cadê?

Estou cansado de ter de ficar tomando cuidado com as palavras, tendo de usar de eufemismos bobinhos, quando na verdade o que quero é botar a boca no trombone e gritar que estou de saco cheio dessas mesuras. Estou de saco cheio dessa presidenta homofóbica, que conseguiu superar as expectativas mais pessimistas em relação aos cidadãos LGBTs e suas demandas. Estou de saco cheio dessas bancadas religiosas, que infestam como baratas cascudas o Congresso Nacional. Estou de saco cheio da militância vendida, que baba descaradamente o ovo de um governo conivente com a homofobia.

Sabem quando vamos conseguir alguma coisa fazendo concessões? Nunca!

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