Sorodiscordantes: Quando o amor quebra as barreiras

Por: Julio Marinho

Normalmente, quando você encontra a "pessoa ideal" tudo parece lindo e maravilhoso. Melhor ainda se essa pessoa for alguém estável, apaixonada, inteligente, divertida e todos os clichês românticos que se possa imaginar. Isso cria a tal da "química perfeita", se é que ela exista.

Mas, seria essa tal "pessoa ideal" menos valiosa se ela fosse HIV+? Não deveria, mas para muitas pessoas a progressão: AIDS + X anos = MORTE, continua a ser um tabu e é totalmente infundada.

Hoje, graças aos tratamentos e medicamentos antirretrovirais, mais e mais pessoas têm uma qualidade de vida satisfatória, e, quem não leva em consideração a progressão acima, pode se envolver em um relacionamento sorodiscordante, ou seja, onde um é HIV- e o outro HIV+, sem maiores problemas.

Muita gente sequer sabe a sua condição quando começa um relacionamento, mas, depois de algum tempo, pode vir a ser diagnosticado como "positivo". Isto pode levar a uma ruptura e gerar muitas discordâncias. Para essas pessoas, além do drama de serem diagnosticadas como positivas, ainda há o fardo de serem abandonadas. Um cenário desastroso para quem está passando por um dos momentos mais delicados da sua vida, e todos sabemos o peso que o estado emocional tem numa hora dessas. A pessoa tem de ser muito forte e equilibrada para não desenvolver um quadro de depressão profunda numa situação dessas.

No entanto, a despeito dos que normalmente acontece, outras pessoas dão muito mais peso e valor aos seus sentimentos e decidem manter seus relacionamentos. O que se deve levar em consideração é se ambos são emocionalmente estáveis o suficiente para estarem em um relacionamento sorodiscordante. Muitas vezes nos esquecemos que, após a fase da "lua de mel", vem o choque de realidade e as pessoas se dão conta de que, todo relacionamento dá trabalho. E, como qualquer relacionamento, essa é uma via de mão dupla, sujeito a seus próprios desafios.

Em outros casos, pode-se conhecer uma pessoa consciente do seu estado. Este, a princípio, não é obrigado a revelar seu status, como muitos acreditam. Mas devem tomar as medidas preventivas, como qualquer outra pessoa, independentemente de serem ou não positivas. A revelação pode vir depois, quando da necessidade de se consolidar o relacionamento. Uma relação sorodiscordante é tão ou mais interessante do que qualquer outra. Em todos os casos, o diferencial é o amor, não o fato de um ser positivo ou não.

Portanto, há ainda muitas barreiras a serem quebradas em relação a AIDS, e, a simples menção dessa sigla provoca arrepios em alguns, mas com mais informação e menos preconceito, esses tabus tendem a diminuir. O que realmente importa é se há amor no relacionamento. Uma pessoa que ama tem mais condição de superar os obstáculos que a vida te empurra. Um relacionamento inclui cuidados e atenção à pessoa que se ama, independentemente se ela é ou não soropositiva.