A questão das prioridades

Sempre que nós, cidadãos LGBTs, buscamos o reconhecimento dos nossos direitos, na verdade uma simples e óbvia igualdade de direitos, hordas conservadoras criticam essas discussões na agenda parlamentar e chocam-se que tal atitude seja tomada. Afinal de contas, para eles, já existem tantos problemas mais prementes a serem resolvidos, como desemprego, condições de vida e de trabalho precárias, problemas na saúde e educação públicas... problemas sociais por resolver é que não faltam neste país.  Mas será que temos mesmo que esperar que todos esses problemas sejam resolvidos, se é que um dia eles serão, para que possamos lutar por nossos legítimos direitos?

O perigo do argumento das prioridades é que há sempre qualquer coisa que qualquer pessoa pode apontar como sendo mais urgente. Mais importante do que o quê? E para quem? Todas as questões são importantes... sobretudo quando se trata de direitos que deveriam ser os mesmos para todos. Esse argumento de "prioridades" é sempre uma má desculpa para não se fazer algo. Até porque, normalmente, em relação a essas tais prioridades, também não se faz absolutamente nada.

Não aceito de forma alguma, que se use isso como desculpa - esfarrapadíssima aliás -, para se determinar qual direito deve ou não ser cobrado, e, em qual momento. Será mesmo que um governo não pode tratar de várias questões ao mesmo tempo? Acho que sim né? Temos estrutura suficiente para analisar e votar vários projetos, não há a necessidade de se focar em apenas um ou outro, e se o fazem, é tão somente por uma questão de leviandade, preguiça e má vontade.

Não é de hoje que vemos o descaso com que os parlamentares tratam a questão dos direitos dos cidadãos LGBTs. E não vejo qualquer sinal de que isso vá mudar, não a curto prazo. Mas vamos continuar lutando, até fazê-los entender que esta é uma questão de direitos humanos fundamentais e de cidadania. Uma questão que pode determinar até que ponto somos realmente democráticos. Conceder direitos iguais aos LGBTs irá acabar com a humilhação de uma parcela enorme da população que ainda é legalmente discriminada por conta da sua orientação sexual. Trata-se finalmente de afirmar que, LGBTs não são, como muitos tentam nos empurrar goela abaixo, cidadãos de segunda classe.

Comentários

  1. RICARDO AGUIEIRAS06/02/2012, 09:36

    Lembro-me que a esquerda sempre fez isso com a gente: Ela considera a "luta de classes" como uma "Luta Maior" e a luta das "minorias" como "Luta Menor". Era assim desde a época da ditadura militar e isso continua. As próprias Conferências LGBTs deste ano de 2010 tiveram esse lema, em primeiro lugar o combate à pobreza. E nem adiantava reclamar, isso já estava formatado e padronizado. Eu me considero um cara da esquerda, sim, ma medida em que luto e lutarei, sempre, por um mundo melhor, mais justo e igualitário para tod@s. Mas acho que as lutas podem caminhar juntas e ninguém tem o direito de definir "prioridades" em cima da dor alheia. A fome sempre será usada e reusada pelos governantes e poderosos para negarem direitos. "Primeiro, o combate à fome!" , é o que sempre falam... só que , se formos esperar a fome acabar no mundo para termos nossos Direitos, nunca os teremos. Isso é triste e trágico,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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