Estamos sim, sendo caçados!

Por: Julio Marinho

Sim, há medo espalhado no ar. E a pergunta que não quer calar é: Qual será a próxima vítima? Qual de nós será o próximo a levar uma lâmpadada na cara, ter uma orelha arrancada, ou uma estaca enfiada no ânus, por ser - ou "parecer ser" - gay? Até quando seremos tão vulneráveis? Estamos diante de um massacre, uma onda de extermínio em massa que, de mãos dadas com uma teocracia emergente, nos empurra de volta pros armários da vida. Os mesmos que lutamos tanto para sair.

Ou fazemos algo já, ou estaremos fadados, em breve, a queimar em plena praça pública. Exagerado eu? Pode ser, mas como não sê-lo, diante das centenas de cidadãos LGBTs desse país(?), que morrem continuamente, apenas porque ousaram assumir que amaram/amam alguém do mesmo sexo?

Somos sim, as novas bruxas do pedaço. Estamos sim, sendo caçados, e não apenas metaforicamente, mas no sentido literal mesmo. É verdade que os números que comprovam isso não são assim tão precisos, visto que são coletados de forma precária, mas nem por isso deixam de ser sintomáticos. Vale destacar a corajosa e elogiosa iniciativa do GGB (Grupo Gay da Bahia) que coleta esses dados, mesmo que os métodos não sejam considerados oficiais. Além disso, por vergonha e preconceito, ao prestar seus depoimentos algumas famílias deixam de relatar que seus parentes eram homossexuais. Se isso não acontecesse, os números seriam ainda mais alarmantes.

Isso tudo me assusta, e muito. Me assusta o fato de que algumas entidades religiosas queiram legislar sobre o país e nossas vidas. Eu até acho razoável que alguns escolham pautar suas vidas pelo aspecto religioso, mas o problema é quando transferem isso para o campo jurídico. O recado é claro: ou você vive de acordo com os ditames e dogmas cristãos, ou você estará sujeito as sanções imposta pelos mesmos. Eles, os fanáticos religiosos, estão tão preocupados com a "moral e os bons costumes", que acabam usando isso como desculpa para incitar o ódio e propagar a homofobia. Para esses, a religião virou salvo-conduto para toda sorte de arbitrariedade e barbárie.

Nos últimos dois dias fui obrigado a escrever sobre dois assassinatos e um estupro. Todos justificados por conta da homossexualidade das vítimas. Enquanto isso, em todo o mundo, vários adolescentes dão cabo de suas próprias vidas, por não suportarem tanto assédio moral. Talvez façam isso por preverem o futuro que lhes reserva essa sociedade cruel e hipócrita, onde se julga a sexualidade, não o caráter. Mundo estranho esse, onde pessoas são mortas por amar, e amadas por matar!

Além desses gravíssimos casos de violência explícita, existem aqueles casos mais velados, onde cidadãos LGBTs são recusados numa vaga de emprego, são impedidos de receberem uma promoção, são atendidos em locais públicos (comércios, repartições públicas e hospitais), de forma "diferenciada", são retratados de forma caricata pela mídia em geral, aumentando assim ainda mais os estigmas que já carregam.

Mas, quero deixar bem claro que, nós não vamos nos calar, não mesmo. Não vamos fazer como o governo brasileiro que finge que nada está acontecendo. Nem vamos compactuar com os imbecis que insistem em jogar a culpa nas vítimas. Nós vamos continuar denunciando, gritando e escrevendo enquanto pudermos. Vamos a luta, sempre!

Comentários

  1. eu já venho cantando essa pedra: que há uma guerra, um massacre, onde as vítimas são, preferencialmente, gays, lésbicas, transe e afins

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  2. Putz, falou o que tava engasgado!! Ótimo texto!!
    "...onde se julga a sexualidade, não o caráter. Mundo estranho esse, onde pessoas são mortas por amar, e amadas por matar!"
    Ednilson Garcia Blanco

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  3. Amigo, parabéns e obrigado pelo texto.
    Uma dessas vitimas, o Zezinho, era um irmão pra mim. Nos conhecemos na faculdade e era uma das pessoas mais generosas que conheci.
    Sinceramente, não sei onde vamos parar. Tô muito doido, triste, me sentindo impotente no meio disso tudo.
    Escreva! Continue escrevendo. Denunciando.
    Quem sabe, um dia - e que não demore muito - poderemos viver com mais segurança, independentemente dos nossos "quereres".
    Beijo.

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  4. Sérgio, antes de mais nada, meus sentimentos pela sua perda. Além da dor imensa pela morte de uma pessoa, me vem essa revolta de ver o quanto as pessoas são crueis. Vc não imagina a quantidade de comentários, que evidentemente não aceito publicar, em que pessoas debocham e colocam a culpa na própria vítima. Um absurdo sem tamanho. De qualquer forma, muito obrigado pelo comentário e vamos continuar lutando sim!

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  5. Sem a sua autorização - desculpa... - pus um trecho do que vc escreveu, com credito, e com o link pra cá.
    Obrigado mesmo.

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  6. Desculpar? Para mim é uma grande honra!

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  7. Para mim, a melhor defesa é o ataque! temos que aprender a nos defender e sair nas ruas sem medo.

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  8. RICARDO AGUIEIRAS02/02/2012, 16:49

    Lindo texto... pena eu estar sem condições, por hora de divulgar. Texto muito bom mesmo, que revela toda a tragédia que estamos passando. O grande problema é que, além da extrema homofobia aqui no país, temos uma militância totalmente desunida e só preocupada com questões partidárias... então, não posso ser otimista sem uma Lei efetiva que criminalize a homofobia.... não tem como discutir com religiosos fundamentalistas, mas com o Poder Público, que tem que fazer algo urgente, sim...
    tristemente,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  9. Prezado Julio:

    Sua angústia me remete ao meu filho, e tenho medo por ele.
    Acabo de postar no meu blog este texto perfeito.
    Fraterno abraço.

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  10. É, amigo Júlio Marinho, a sociedade precisa urgente tomar uma atitude, pessoas não podem continuar sendo assassinadas e nem constrangidas a ponto de tentarem o suicídio. Ao menos não devido apenas sua orientação sexual ou identidade de gênero. E desculpe pelo termo ofensivo, eu me obrigo a ser sincero: Após todos esses anos sendo vítima e vendo outros serem vítimas dessa homofobia, e vendo nosso poder público, em parte oriundo de fundamentalistas, fanáticos e prosélitos religiosos, em parte, oriundo de Martas Suplicys que nada mais querem além de palanque e festa, a vontade que me vem à mente é a de mandar todo esse povo tomar no cu! Ah, se eu conseguisse um espacinho na mídia, mesmo que pequeno, iria tomar a atitude mais inesperada, uma atitude que iria chocar até mesmo minha própria família (sim, eu tenho parentes ultra-conservadores, dos dois lados, tanto paterno quanto materno, e me envergonho por ter parentes assim). O único jeito será usar, enquanto a fama como músico não vem, esse poder que a internet me dá, de criar um blog e expressar através de postagens nele o meu livre-pensamento. Amplexos sinfônicos do amigo músico Jonathan 'Hamelin' Malavolta.

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