Fundamentalismo religioso invade os hospitais brasileiros

Por: Ricardo Rocha Aguieiras

O fundamentalismo religioso esta na ordem do dia, cada vez mais presente no nosso cotidiano e desde a última eleição, com o aval da presidência.

Sou paciente do Instituto Emílio Ribas desde 2005 e sempre admirei a forma como somos tratados lá, a organização, limpeza perfeita e médicos preocupados, estudos avançados e tudo isso acabou tornando o complexo hospitalar uma referência mundial em doenças infectocontagiosas. Mas...

Uma coisa sempre me incomodou lá dentro, são as suas duas Capelanias religiosas , a católica e a evangélica, esta última dirigida pela Igreja Presbiteriana do Brasil, de cunho homofóbico e que considera Diversidade Sexual como pecado e como possessão demoníaca e encaram a Epidemia de AIDS como consequência direta desta "perversão moral". Antes a gente ainda via uns crucifixos em alguns lugares do hospital, hoje bem menos.  Mas vejo as tais "voluntárias" religiosas sufocando pacientes com seus panfletos e imagina você: alguém doente é alguém numa situação de extrema fragilidade e carência, muitas vezes vem de longe, muitos não possuem informação e estudo para se defender e acabam sendo presas fáceis nas mãos de doutrinas oportunistas e sufocantes. Já vi coisas absurdas lá, como tirarem as revistas destinadas aos pacientes dos cestos e colocarem em seu lugar os folhetos e jornais religiosos. São impositivos, outro dia uma delas rangeu os dentes por que eu não quis o folhetinho delas, me xingou baixinho e depois falou o xingo maior: "fica com Deus". Ora, muitas vezes não tem leitos disponíveis para doentes, ainda vão ter que achar espaço para deus?... risos...

A gente brinca, mas o assunto é sério. Ontem me chegou uma denúncia falando que estariam dificultando a entrada das Igrejas Inclusivas , lá, até mesmo para visitas pessoais a um ou outro paciente que já seja dessas igrejas.

Eu fico me perguntando: Se o Estado é laico, cadê as outras religiões atuando lá dentro? Cadê os budistas, cadê os judeus, cadê as religiões de matrizes africanas? E outras? Cadê?  Como pode só essas duas ficarem lá dentro, metidas e poderosas, barrando a entrada de outras? Aliás, como fazem fora, também, dominando e sufocando todos os espaços, inclusive no Senado e no Congresso Nacional. Percebem a gravidade?

Fui voluntário lá mesmo, no Hospital Emílio Ribas , há dois anos. Passamos por dois meses de treinamento antes de visitarmos pacientes internados, para levar livros, revistas, sabonetes e pastas de dente, ver se precisam de algo, avisar familiares e etc. Antes de entrar nos quartos a gente tinha que lavar as mãos na ante sala e ao sair, idem. Passar o gel antisséptico também. Mas eu notava que membros das duas Capelanias não faziam o mesmo...estranho, né? Éramos orientados a não entrar num quarto quando havia enfermeiros, médicos ou outras visitas. Respeitávamos isso. Mas eles, não. Abriam a porta e iam entrando dando glórias a Jesus.  Invasivos desde sempre. Olhem só o que está escrito  no livro da capelã-missionária da Igreja Presbiteriana, que comanda lá no Emílio Ribas, a Eleny Vassão de Paula Aitken: "O desafio continua 'A missão da Igreja Frente à AIDS' de Eleny Vassão A ciência já descobriu que informar a sociedade sobre este mal é uma necessidade básica e urgente. Mas descobriu também que somente a informação não produz transformação de mentes e de hábitos sexuais. E o problema continua, então, crescendo a cada dia. Qual a missão da Igreja frente à AIDS? Nós conhecemos o único meio pelo qual as pessoas que se envolveram em prostituição, homossexualismo, travestismo e drogas podem ter suas hábitos transformados, tornando-se novas criaturas: através do relacionamento com a pessoa de Jesus. À Igreja cabe o papel de contar à população as boas-novas do Evangelho, e assim participar desta batalha contra a AIDS. Amar: Informando, evangelizando e consolando, está é a maneira pela a Igreja demonstra ser a luz do mundo e o sal da terra, impedindo o total apodrecimento.

Ou seja, somos podres, para eles e Aids, castigo.  Anos e anos lutando para fazer a sociedade ter menos preconceito e destroem tudo, em pouco tempo. Percebem a gravidade?

Comentários

  1. Ótima denúncia e muito pertinentes reflexões, Ricardo. No meu livro 'Em Busca de Mim Mesmo' dedico algumas linhas a esclarecer o que está por trás dessa onversinha piegas de Dna. Eleny Vassão. Essas e outras coisas são as ervas daninhas das liberdades civis nesse país.

    Abraço,
    Sergio Viula
    www.foradoarmario.net

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    1. RICARDO AGUIEIRAS29/01/2012, 04:47

      VIULA,
      Que luxo ter você por aqui! Sou seu fã, faz tempo! Seu brilhantismo me comove e é um alento para nossa luta. Obrigado e sinta-se em casa. Ah, o seu site está lindo, lindo, lindo! Beijo ,
      Ricardo Aguieiras

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  2. por esse motivo eu sempre digo, como seria perfeito um mundo sem religiões, nada causa mais dano a humanidade que elas, além do mais procurar apoio em instituições que usam relatos de 2000 anos (e nisso eu incluo qualquer instituição religiosa dita inclusiva)para homossexuais é como ser um judeu e procurar apoio no nazismo.

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    1. Faço minhas as tuas palavras, eles querem que tenhamos relacionamento com a pessoa de jesus Cristo... Nicrofilia não é pecado?

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    2. Rezo por vcs que desconhecem a Deus, mas Ele em sua misericórdia infinita os alcançará!!!!
      :D

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    3. RICARDO AGUIEIRAS30/01/2012, 13:46

      Eu, espero que ele não alcance...que deixe cada um na sua... risos... o legal desses anônimos daqui é que são grandes piadistas...rsrs

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  3. Revoltante... já me estressei com um grupo de evangélicas num hospital aqui do DF quando uma irmã minha estava em estado grave. Foi um fuzuê, mas pelo menos, elas me deixaram em paz e não importunaram mais a minha mãe rssrsrsrs

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  4. Aharom, passei por situações parecidas quando minha mãe estava internada. É horrível, pq vc está lá tão fragilizado e ainda tem que aturar essas coisas, um horror.

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  5. E o que você tem a dizer contra a igreja Católica, ja que tudo que citou de errado partiu de protestantes ?

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    1. RICARDO AGUIEIRAS28/01/2012, 20:28

      Anônimo,
      não costumo responder a anônimos por que o anonimato só favorece quem o pratica, nunca quem lê, mas vamos lá: Você não leu direito o artigo, por que citei, sim, as duas capelanias, tanto a Católica como a evangélica, com críticas às duas. Está no texto. Critico inclusive o fato de serem só as duas dominando os espaços e impondo suas crenças impositivamente. Leia o texto, por favor. Obrigado,
      Ricardo Aguieiras

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  6. Ricardo

    Parabéns pelo artigo e pelas denúncias, e acredito que seria importante representarmos contra esses abusos junto ao Ministério Público Federal - por se tratar de SUS, onde há verba federal, podemos optar pelo MPF -, já que o Estadual, em minha avaliação, não seria parceiro para um embate desse tipo.
    Podemos dialogar com várias organizações LGBT para avaliarmos essas possibilidades.
    Um abraço,

    Mariante

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  7. Ricardo

    Parabéns pelo artigo e pelas denúncias, que mostram o grau de desrespeito à laicidade do estado e à liberdade religiosa - que tem uma dimensão em ter-se ou não uma religião - numa instituição da rede pública de saúde.
    Tenho algumas idéias de procedimentos que podemos adotar mas vou enviar uma mensagem diretamente para ti.
    Um abraço,

    Mariante

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    1. RICARDO AGUIEIRAS28/01/2012, 20:25

      Oi, Mariante! O Reverendo Cristiano Valério teve ontem uma reunião sobre esse assunto lá na Secretaria de Justiça, mas, claro, estou às ordens para fazermos o que for possível.
      Obrigado pelos seus comentários, é sempre bem vindo aqui.
      Ricardo

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  8. Ou permite toda e qualquer manifestação, ou nenhuma. Achei muito bom, Rick. Abraço grande,
    Du Meinberg

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  9. Rick, ótima postagem, como sempre. Não permitem a entrada de imans, pais de santos, rabinos, etc. Provavelmente também restrinjam qualquer culto individual que se queira fazer, seja do budismo, da quimbanda, do que quiser (além das confissões citadas claro), além de censurarem aquele que se identifica como ateu ou agnóstico. Não sei no ER, mas em muitos hospitais há uma capelinha em algum canto. Mas nunca vi uma mesquitinha, um terreirinho, um centrinho kardecista. Quem não se enfeixar no (suposto)'cristianismo' (sim, por que Jesus não tem nada a ver com este rolo), seria coagido a se converter como remissão dos pecados e posterior salvação? Basta renunciar aos 'demônios'do homossexualISMO, travestISMO, ISMO ISMO ISMO? É capaz da pessoa escutar de um destes pregadores que ela tá doente por que não professa o cristianismo! Ou não teve fé o suficiente! Que Deus pesou a mão! *^%%$$# Assim: ou permite-se TODA e QUALQUER manifestação religiosa ou nenhuma. Concluíndo: ^%*+*&^%$!

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    1. RICARDO AGUIEIRAS29/01/2012, 12:23

      Edu, eu te adoro! Obrigado pela visita e por tuas palavras... provavelmente não ficará mais assim, depois dessas denúncias está sendo acionado algumas coisas, vamos ver o andamento...
      Beijo e carinho.

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  10. Essas visitas de pessoas ditas religiosas só fazem mal à saúde dos pacientes. Há alguns anos minha mãe estava em fase terminal de câncer quando recebeu essas pessoas da pastoral católica de visitas à doentes, mesmo minha mãe sendo católica praticante, fez o seguinte comentário: "Que pessoas sinistras, me senti muito mal com elas aqui".

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  11. Ricardo,
    Seu texto apenas acusa, como paciente há 22 anos, nunca ví ações de homofobia de nenhuma das capelanias, pelo contrario tanto o Padre, como A Senhora Eleny Vassão tem uma postura de respeito as diferenças, prestam serviços de amor, apoio, e acolhimento aos pacientes independente de suas escolha religiosas, ou orientação sexual. Você diz que as pessoas das capelanias não praticam as normas de higiene,perdão isto não é verdade.
    Particularmente acho que alimentar este discurso não produzirá nada, pois o que precisamos e ter uma postura de respeito as pessoas. foi exposto que vivemos em um estado LAICO, e todo o trabalho feito no Emilio sempre respeitou e respeita as diferenças.
    Abraços

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    1. RICARDO AGUIEIRAS29/02/2012, 12:16

      Bom, vamos lá, senhor "Neto". Não costumo responder nem a anônimos, que infelizmente proliferam nesses espaços; nem a "Netos"; "Sobrinhos"; "Filho"; "Júnior", e etc., que, para mim, são a mesma coisa. O anonimato só é vantajoso para quem o pratica, nunca para o leitor. Se eu uso o meu nome completo, me responsabilizando pelo que falo e , portanto, correndo riscos, acho que o meu crítico e interlocutor deveria, no mínimo, fazer o mesmo. São valores como transparência, autenticidade , verdade e etc. E como me identifico, dou ao "acusado" ou interlocutor o direito de se defender, inclusive na Justiça, se achar isso válido.
      Mas, vou dar hoje uma de bonzinho e responder ao "Neto":
      Eu não apenas "acuso" e não vejo nada de mal em "acusar, se o que coloco é verdade, como também me coloco como testemunha. Portanto, fiz o que considero o correto, sem fugir da raia. Se você não viu em 22 anos o que narro, eu vi em 8, outros viram, outros não viram, nem sempre se vê tudo, apesar do fundamentalismo religioso, ainda não somos onipresentes, a despeito de alguns. E, sempre que eu ver algo que eu considero errado, cabe-me denunciar, quem cala consente, né não? Muito melhor que tapar o sol com a peneira para defender uma religião.
      Eleny Vassão de Paula Aitken, que é capelã-missionária da Igreja Presbiteriana do Brasil. Assim entendi o que acontece pois trata-se de uma organização homofóbica que pensa a Diversidade Sexual como pecado e como possessão demoníaca e encaram a Epidemia de AIDS como consequência direta desta “perversão moral”. Senão vejamos no próprio texto da Senhora Eleny, que você defende, chamado "O Desafio Continua":
      (continua)...

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    2. RICARDO AGUIEIRAS29/02/2012, 12:16

      ""O desafio continua
      A missão da Igreja Frente à AIDS" de Eleny Vassão
      A ciência já descobriu que informar a sociedade sobre este mal é uma necessidade básica e urgente. Mas descobriu também que somente a informação não produz transformação de mentes e de hábitos sexuais. E o problema continua, então, crescendo a cada dia. Qual a missão da Igreja frente à AIDS? Nós conhecemos o único meio pelo qual as pessoas que se envolveram em prostituição, homossexualismo, travestismo e drogas podem ter suas hábitos transfomados, tornando-se novas criaturas: através do relacionamento com a pessoa de Jesus.
      À Igreja cabe o papel de contar à população as boas-novas do Evangelho, e assim participar desta batalha contra a AIDS.
      Amar: Informando, evangelizando e consolando, está é a maneira pela a Igreja demonstra ser a luz do mundo e o sal da terra, impedindo o total apodrecimento.”"
      Ou seja, além de usar termo ultrapassadíssimos e repudiados mesmo pela Comunidade Médica - Emílio Ribas é um hospital - como "homossexualismo"; "travestismo" ela linka em seu texto diretamente às drogas e ao "apodrecimento", que ela chama de "apodrecimento total"... risos... desculpe-me, mas conheço bem esse discurso fundamentalista... E, como eu não sou covarde, não temo o que falo, estive junto no dia l7 de fevereiro perante a diretoria do Emílio Ribas, acompanhado da Secretária de Justiça para assuntos LGBT's, da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo e mais o reverendo da inclusiva ICM - Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo, que defende os Direitos Gays e dos LGBT's, que narrou também suas dificuldades em fazer um trabalho lá dentro e denunciou a homofobia da tal capelania evangélica, referendado pelos textos de quem você aqui defende... portanto...
      E por último, fui voluntário lá, visitava os doentes e sei o que vi. Sou paciente de lá a menos tempo que você, mas tempo nada têm a ver com isso, injustiças e ferir a Constituição podem ocorrer com qualquer pessoa ou paciente. Falo o que vejo. Falo o que presencio e percebo. E, inclusive, não sou maniqueísta, também falo sobre o que há de bom e reconheço valores. Em tempo, se quiser responder, identifique-se completamente. Direitos iguais, certo? Ou nem terá resposta mais, prefiro falar diretamente com quem interessa e isso foi feito. Obrigado,
      Ricardo Rocha Aguieiras
      aguieiras2002@yahoo.com.br

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  12. Ricardo, brilhante seu texto! E por favor, SE ESTRESSE SIM com esses covardes que adotam uma porra de um nick qualquer ou se escondem atrás do anonimato! Como sempre digo, "apelidos" e "anonimato" só servem a dois tipos de pessoas:
    1 - Aquelas que são testemunhas oculares de algum crime grave, homicídio por exemplo, e temem por sua própria vida se forem depor;
    2 - Os covardes, bunda-moles ou qualquer outro adjetivo que usamos para representar lindamente aqueles que têm rabo preso com alguma instituição ou com alguém.

    (a) Jonathan 'Hamelin' Malavolta, músico - RG 27.642.293-4

    PS ao "Neto" - Aí, chefia, não reclama pelo nome de meu blogspot não ser o registrado em minha certidão de nascimento pois fui além de simplesmente comentar, coloquei meu nome civil (o artístico entre o prenome e o sobrenome) e para facilitar mais ainda minha identificação, incluí meu RG. Por que você não faz o mesmo?

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