A madrugada desta segunda-feira (16) foi
palco de atos de desrespeito e brutalidade cometidos por policiais
civis contra um militante dos direitos LGBT, em Belém. Beto Paes, membro
do Grupo Homossexual do Pará (GHP) e coordenador de articulação
política do Movimento LGBT do estado, foi humilhado, xingado, espancado e
ameaçado quando saía do Bar Refúgio dos Anjos, point GLS mais conhecido
como Bar da Ângela, no Bairro do Guamá.
Ao se posicionar para os policiais como um cidadão ciente dos seus direitos, porém sem proferir nenhum tipo de ofensa, Paes foi acusado de desacato à autoridade e levado para a delegacia no camburão da viatura policial, ao invés de no banco traseiro do veículo, mesmo sem oferecer nenhuma resistência à detenção. Durante o trajeto para a delegacia e ao longo do procedimento de registro da ocorrência, Beto foi agredido fisicamente, humilhado verbalmente por ser homossexual, privado de seus direitos a um tratamento digno por parte da autoridade policial e ameaçado pelos membros da corporação que o prenderam, os quais insinuavam que ele sofreria retaliações caso fizesse denúncia. Até mesmo a advogada acionada pela família do militante foi agredida e destratada por um policial visivelmente transtornado. O procedimento do registro foi protelado ao máximo, de modo que a grande imprensa, que havia sido acionada e se dirigido à delegacia, desistiu de esperar, impossibilitando o registro e ampla veiculação deste grave caso de violação dos direitos humanos em Belém.
Abaixo, segue o relato do ativista ao Pará Diversidade a respeito dos acontecimentos:
“Os policiais chegaram ao local onde eu
estava, no Bar da Ângela, sem nenhum tipo de identificação nominal. Com a
justificativa de que tinham recebido uma denúncia de que o local era
frequentado por menores de idade, solicitaram documentação dos clientes.
Cerca de 20 pessoas entregaram seus documentos para averiguação, ao que
os policiais puderam constatar que todos ali eram maiores de 18 anos.
Em seguida, eles se dirigiram para o fundo do bar, justamente no momento
em que eu estava saindo do estabelecimento, pois já havia terminado a
festa. Então, lhes informei que o bar já estava fechando e que naquele
momento não havia mais quase ninguém lá. Foi nesse momento que um deles
começou a me agredir verbalmente, dizendo que lá [o bar] era um espaço
de pessoas doentes, sempre utilizando os termos 'viado' e 'sapatão', e
que eu não tinha porque estar defendendo esse tipo de gente. Quando eu
disse a ele 'Olha, senhor, eu sou uma pessoa que atua nos Direitos
Humanos, faço parte do GT de implementação do Plano Estadual de
Enfrentamento à Violência e à Homofobia dentro do Consep [Conselho
Comunitário de Segurança Pública] e o senhor não pode agir dessa
maneira, pois todos nós temos o direito de estarmos aqui e o direito de
ir e vir', ele me perguntou 'Quem tu pensas que tu és?', ao que eu
respondi 'Sou um cidadão'. Nesse momento, ele me deu voz de prisão, me
empurrando para dentro da viatura. Em nenhum momento eu me opus ao fato
de ele me deter, em nenhum momento eu os desacatei; eles simplesmente
não queriam conversa.
Ao ser conduzido à viatura, eu me
direcionei para sentar-me no banco de trás do veículo, ao que o policial
disse que eu não iria ali, e sim no camburão, lá me jogando e me dando
um chute. A partir desse momento, eu fiquei muito nervoso, pois isso
nunca havia me acontecido. Ao chegarmos à Delegacia do Guamá, ele
começou a inventar uma série de fatos, afirmando que eu os havia chamado
de palhaços e os caluniado, sendo que em nenhum momento eu fiz isso,
até tenho como provar que não fiz porque houve diversas testemunhas.
Quando eu disse 'O senhor está mentindo, eu não fiz isso', o policial,
visivelmente transtornado, partiu para cima de mim, me dando vários
socos, chutes e tapas, enquanto eu apenas me defendia, sem reagir. Nesse
momento, começaram a chegar meus parentes, amigos e uma advogada.
Quando fomos fazer o boletim de ocorrência, um dos policiais disse que
ela não podia permanecer na sala e a retirou do local, arrastando-a pelo
braço.
Levaram-me para uma sala e me deixaram
lá esperando, até o momento em que eles voltaram para informar que o
Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) seria feito na Delegacia de
São Brás, pois o sistema da Delegacia do Guamá estava fora do ar.
Durante o trajeto de uma delegacia a outra, fui exposto a momentos
terríveis de tortura psicológica. Entre os absurdos proferidos dentro da
viatura, eles disseram que nós (LGBTs) não tínhamos direito a nada, que
nós éramos seres humanos de segunda classe, que nós não éramos
criaturas de Deus, que nós não tínhamos direito nem de achar que
tínhamos direito e que, na opinião deles, nós não deveríamos nem
existir. Além disso, fizeram ameaças do tipo 'Olha, nós sabemos onde tu
moras, os espaços que tu frequentas. Tu sabes que pra gente não pega
nada, mas pra ti pode pegar muita coisa, pois a corda sempre arrebenta
do lado mais fraco'. Além das ofensas morais e ameaças, propositadamente
eles passavam com toda velocidade pelas lombadas do trajeto, para eu
bater minha cabeça no teto do veículo, visto que eles estavam com cinto
de segurança e eu não. O tempo inteiro, eles diziam que iam me pegar se
acontecesse alguma coisa para eles.
Chegando à Delegacia de São Brás, eles
apresentaram a versão deles, eu apresentei a minha e solicitei o
encaminhamento para o Instituto Médico Legal (IML) para a realização de
exame de corpo de delito, pois ficaram marcas no meu corpo por conta das
agressões físicas sofridas. Eles ainda tentaram resistir a este
procedimento, mas a advogada que me acompanhava insistiu e disse que eu
tinha todo o direito.
O delegado, Dr. Pedro da Silva Monteiro,
que estava acompanhando o caso, sequer olhou em meu rosto, e ouviu
apenas a versão dos policiais. A todo momento, tentava criar
circunstâncias para que eu me descontrolasse e eles pudessem me
enquadrar em alguma coisa. No entanto, sei dos meus direitos e deveres e
em nenhum momento agredi física ou verbalmente nenhuma das autoridades
policiais que ali estavam. Quando percebi a insistência em me provocar,
notei que se tratava de uma atitude corporativista do delegado,
tentando a todo custo proteger a má conduta dos dois policiais civis.
O coordenador de Livre Orientação Sexual
da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Samuel Sardinha,
apesar de ter comparecido ao local logo após eu ter ligado para
informá-lo do ocorrido, infelizmente não me acompanhou e se limitou a
dizer que ia ficar “muito feito” para o estado se a denúncia fosse
feita, uma vez que seria a imagem do Pará que seria comprometida por
conta do ocorrido. Nesse momento, respondi ao coordenador que eu levaria
o caso às últimas consequências, pois o meu direito individual também
se reflete no direito de uma comunidade inteira. Me mostrei surpreso com
o posicionamento do coordenador, pois a função da Coordenadoria de
Livre Orientação Sexual é justamente fazer a relação com as outras
secretarias do estado para que esse tipo de coisa não aconteça.
Mesmo com todas as ameaças, resolvi não
me omitir e denunciar, pois, como ativista dos Direitos Humanos, não vou
fugir dessa luta, pois assim como aconteceu comigo, pode acontecer como
qualquer pessoa LGBT, e ninguém merece ser tratado dessa forma.
Principalmente por se tratarem de representantes de um órgão que deveria
respeitar e garantir a segurança do cidadão, e não cometer atos de
violência como esse. Para isso, eu pretendo acionar a Corregedoria da
Polícia Civil, fazer uma denúncia ao Centro de Referência e Combate à
Homofobia da Defensoria Pública do estado e vou registrar o que
aconteceu junto ao Consep, pois isto não deve ficar impune. As pessoas
devem saber que a lei existe e é para todos, inclusive para a polícia,
pois ela não pode ser a principal agressora dos direitos das pessoas,
pelo contrário, tem que salvaguardar o direito do cidadão. Isso tudo
aconteceu simplesmente porque o bar é um espaço frequentado por LGBTs e
isso não pode mais acontecer".
Fonte: Pará Diversidade
Fonte: Pará Diversidade
Posso publicar no @NoGhetto?
ResponderExcluirMax, acho que sim, mas cite a fonte que é o Pará Diversidade, ok?
ExcluirFatos terríveis, mas deste país se pode esperar tudo... Vamos ver o andamento. Espero que ele, Beto Paes, se cuide e peça segurança para a proteção de sua vida e corpo....
ResponderExcluirRicardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br