Esta entrevista da Maria Berenice Dias merece ser reproduzida e compartilhada.
"Inserido no Google, o nome da advogada gaúcha especializada em direito
homoafetivo, Maria Berenice Dias, lidera a presença em matérias sobre a
discussão homossexual. Na TV, no rádio e nos jornais e revistas, a
situação não muda. Nos últimos meses, Berenice foi uma das principais
fontes da imprensa para o tema, principalmente após o Supremo Tribunal
Federal (STF) ter reconhecido a união homoafetiva.
Seu
currículo justifica: ela foi a primeira desembargadora do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, é vice-presidente do Instituto Brasileiro
de Direito da Família (Ibdfam), preside a Comissão Especial da
Diversidade Sexual da OAB, é membro do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social do Rio Grande do Sul e fundou diversos projetos
relacionadas à questão da diversidade sexual.
Entre
tantas atividades e uma agenda apertada, Berenice conversou com o
Portal IMPRENSA sobre a cobertura da mídia brasileira em relação à
questão homossexual e os eventuais equívocos da cobertura. Para ela,
está mais do que clara a importância de falar com jornalistas. "Eu
sempre dou um jeito de não dispensar nenhuma entrevista; a imprensa é
fundamental para o debate".
IMPRENSA - A quais fatores você atribui o aumento que a temática homossexual ganhou no noticiário?
Maria Berenice Dias - Dentre
vários fatores, acredito que o mais significativo tenha sido a mudança
da própria sociedade. O distanciamento entre Estado e Igreja contribuiu
muito para isso. Quando começou a ser construída de fato essa divisão,
um novo conceito de família passou a ser concebido. Obviamente que isso
consiste em um processo e não uma ruptura. Mais recentemente, a decisão
do STF de reconhecer a União Homoafetiva também ajudou.
IMPRENSA - Algum outro?
Berenice -
Também tem o movimento homossexual que se organizou. Outra questão é
que a homossexualidade virou um produto que vende e, por isso, entrou na
mídia. Na novela, por exemplo, essa visibilidade não é só uma
sensibilidade ou uma conscientização, mas um produto que vende e que
está na moda.
IMPRENSA - Isso não é negativo?
Berenice -
Não interessa a causa, o importante é que o tema seja debatido, mesmo
sendo um produto. A novela vai vender mais se tiver um punhado de gays
lá dentro? Não tem problema, desde que isso transforme a sociedade e
contribuía para a discussão.
IMPRENSA - Ainda existem equívocos e estereótipos na abordagem da mídia sobre o assunto?
Berenice -
Em muitos programas de humor temos um problema sério: o uso de
estereótipos negativos e ridicularizados. Isso também é uma forma de
homofobia: tratar de estereótipo vexatório em programa humorístico é
homofobia, pois não correspondente ao perfil da população LGBT. Muitos
desses programas atribuem ao homossexual um fenótipo afeminado e de
gestos exagerados; isso é preconceito, portanto, homofobia.
IMPRENSA - Quais temas relacionados ao assunto você sente falta de ser abordado pela imprensa?
Berenice -
Eu tenho visto pouco comprometimento dos meios de comunicação com a
normatização. Houve uma grande divulgação do julgamento do STF, mas
depois disso as conseqüências estão passando despercebidas e sem a
atenção que merecem. Muitos direitos começaram a ser reconhecidos e nada
foi divulgado. Outra coisa é mostrar o que outros países possuem em
termos de leis relacionadas à homossexualidade. Ainda falta espaço para
isso.
IMPRENSA - Pelo fato de o meio jornalístico ser mais liberal contribui para a discussão? Ou isso é lenda?
Berenice -
Eu acredito que o jornalismo em geral assumiu um compromisso
importante, pois deixou de ser só um meio de comunicação baseado em
fatos, para ser também um meio de formação. Antes, os veículos só
divulgavam fatos em relação à causa gay; hoje, eles parecem assumir uma
responsabilidade maior, como instruir a sociedade sobre o tema.
IMPRENSA - Como foi construída essa relação que você tem com a imprensa?
Berenice -
Muito dos avanços que consegui ao longo da minha vida em relação ao
tema devo aos meios de comunicação. Acredito que não adianta criticar ou
julgar sem se aproximar. Eu fui a primeira juíza do Brasil a ter um
site pessoal, criei faz 15 anos. Acredito que as causas devem ser
publicadas. Meu sonho ainda é ter um programa de rádio e em breve espero
ter.
IMPRENSA
- Não incomoda ver que os veículos dão um grande espaço para uma
notícia sobre uma agressão a um casal gay na Paulista, mas deixam de
falar dos gays de periferia, que diariamente sofrem tais violências? A
temática homossexual também não sofre com a diferença de classes?
Berenice -
Acho que vira notícia quando acontece na avenida Paulista, justamente
porque é emblemático. O que acontece nas periferias de certa forma já
tornou-se comum. Claro, além dos elementos, como o fato de ser o centro
da cidade, uma metrópole... Mas se cada vez que acontecer na avenida
Paulista e sair no "Jornal Nacional", eu acho ótimo."
Fonte: Portal Imprensa
Gosto muito dela, Júlio! Um caso de amor que vai longe....rsrs.... Ela é talentosa e cheia de caráter, um patrimônio nosso.
ResponderExcluirLegal você ter postado isso.
Beijo,
Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br
Parabéns a DrªMaria Berenice Dias por seus esclarecimentos de forma simples e direta. É muito importante que a sociedade veja que os estereótipos criados pelos humoristas pra tipificar os homossexuais não corresponde ao cotidiano das pessoas do grupo LGBT. São pessoas como a DrªMaria Berenice Dias que fazem da luta por nossos direitos um caminho viável... basta união e participação de todos nesta luta desigual
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