Sexualidades poderosas. Amores poderosos.

Texto: Ricardo Rocha Aguieiras

Leio uma entrevista com Marci Bowers, ginecologista e obstetra americana, que tornou-se mulher apenas aos 37 anos, em 1995, quando conseguiu, finalmente, se submeter a uma cirurgia de troca de sexo. Antes, era pai biológico de três filhos, tidos com a mulher com quem era casado. Até , tudo bem, a cada diaainda bem! – teremos mais e mais casos bem resolvidos de operações para troca de sexo e isso não deverá chocar a mais ninguém que lute por um mundo amplo e diversificado.

Mas uma coisa em sua história me "chocou": Depois da operação, ela se separou e relacionou-se com homens e com mulheres, inclusive com um homem que fez o inverso, nasceu mulher e operou. Em 2009, Marci conheceu Allien, outra mulher e vão se casar em breve. Chego à conclusão banalíssima de que o amor está acima de tudo, não?

Na minha academia de ginástica tem uma lésbica que vive anos com uma travesti. Se amam. Então, penso. Na última Caminhada das Lésbicas, 2011, em São Paulo, teve uma pessoa que se identificava como "travesti lésbico". Penso, de novo.
As sexualidades não cabem mais em rótulos. Não, mais. Venceram. Por mais que governos, religiões, estados, igrejas, sociedades e poderosos tivessem tentado - e tentam - controlá-las, as sexualidades venceram. Mesmo confinadas em prisões, presas no enrustimento ou em burcas, ainda assim, vencem. Vencem até mesmo quando o Estado impõe pena de morte ao que sexualmente e amorosamente difere.

No entanto, tem três quesitos importantíssimos, , para que isso ocorra, continue ocorrendo e para que sejamos felizes: Entrega; Coragem e Empatia. Que escrevo em maiúsculo. Sem esses "detalhes", muito pouco seria possível. E, paradoxalmente, eu também me choco com a falta deles no mundo atual, salvo as exceções honrosas. Nunca vi tanto egoísmo, individualismo e negação do próximo como agora. Não enxergamos mais aquele ou aquela que está ao meu lado como igual, com as mesmas dores e os mesmos Direitos. Aliás, será mesmo que eu me importo com a dor dele/ dela?

Sim, o amor é poderoso, vide esses exemplos. O amor nos diz, todas as horas, todos os dias, que nada será possível sem uma entrega. Então, por que não o ouvimos e por que nos protegemos tanto? Até para uma luta política temos que ter entregas. E entrega envolve, sim, sofrimentos. Mas, igualmente, alegrias intensas, radicais, passionais, infinitas. Quem se guarda não ama, não ama nem a si mesmo. Uma vida vivida com medo é uma vida meio vivida. Para que esses exemplos e exceções ocorram eu preciso da entrega, nós precisamos da entrega.

Merci Bowers segue sua exemplar vida lutando ainda, agora pela reconstrução do clitóris em mulheres mutiladas em nome de uma religião ou "cultura" machista. Como é ginecologista, se especializou nisso. Vamos nos espelhar nela, também.

Comentários

  1. Cada ser é seu próprio universo.

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  2. RICARDO AGUIEIRAS20/09/2011, 12:34

    Júlio, fico emocionado e muito agradecido. Essa é uma forma de lutar, a gente chamar a atenção para as coisas que estão em mudança no mundo. Você foi gentil e amigo. Teu blog é bonito, assim que eu solucionar minha internet e volto para ler tudo. Beijos agradecidos,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  3. É isso. A sexualidade humana vai além do corpo físico! Somos seres incríveis, únicos e com sentimentos que somente nós mesmos conhecemos. No final de tudo, o importante é ser FELIZ.

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  4. Sabe porque o autor do Texto se chocou? Pelo simples fato de ele ainda estar preso ao rótulo de "nasceu com 'pipi', é 'mocinho'; nasceu com 'vaguinha', é 'mocinha'". Está mais do que na hora de nossa sociedade - se não todos os integrantes dela ao menos a esmagadora maioria - compreender de uma vez por todas que 'sexo' - e logo 'sexualidade', 'gênero' e 'identidade de gênero' - não estão ligadas à genitália, e que esta última, a 'genitália', não passa de um mero invólucro carnal que atende fins reprodutivos e nos dá prazer na hora da transa, mais nada além disso; 'genitália' não define 'sexo' nem 'sexualidade' nem 'gênero' e nem 'identidade de gênero', isso tudo quem define é a cabeça da própria pessoa, sua forma de ver o mundo, sua forma de SE ver no mundo! Meu 'sexo' quem faz sou eu mesmo, não meu pênis. É como eu sempre digo, "ignorância tem limites", e a nossa espécie já extrapolou por demais os limites desta.

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