O Cabaret Casanova foi uma das casas mais antigas da Lapa, fundada em 1939 e localizada na Av. Mem de Sá nº 25, Lapa, Rio de Janeiro. A casa foi um marco de resistência e descontração para o público LGBT.
Lembro bem da primeira vez que entrei no Casanova, era como se tivesse sido transportado no tempo, ali estava a Lapa dos áureos tempos da boêmia, um verdadeiro Cabaret, com suas mesas e cadeiras de madeira e meia-luz de um tom avermelhado onde a fumaça dos cigarros - ainda não proibidos em ambientes fechados - produziam sombras dramáticas. Não sou do tipo saudosista, mas fiquei realmente triste, apesar de há muito tempo não frequentar a casa.
Sempre amei aquilo tudo, ali me sentia em casa e era como se eu estivesse num daqueles clássicos filmes "Noir". Nessa minha primeira vez estava só, mas não me senti deslocado, pelo contrário, estava em meu habitat natural. Em parte pela capacidade de me adaptar bem a qualquer ambiente, e por outro lado, havia um clima amistoso e gentil, sem aqueles olhares desconfiados que fazem parte de boa parte dessas casas.
Naquela época todas as casas do gênero tinham como atração principal os Shows de dublagem, precursores dessa arte no Brasil e que, no Casanova, eram comandados pela divertida transformista Meime dos Brilhos. Mas o charme não se resumia aos shows, tudo era uma delícia, desde a cerveja geladíssima, o repertório musical pra lá de eclético e culminando na diversidade da "fauna".
A mistura era total, todas as possibilidades estavam ali. Não existia um público alvo, o alvo era justamente essa mistura democrática. E isso era bom demais!
Ao final da noite, melhor dizendo, começo do dia, o clima não era de "final de festa", não, era de dever cumprido. O dever sagrado de ter se divertido muito.
O Casanova foi, sem sombra de dúvidas, um espaço histórico e de inegável resistência da comunidade gay no Rio de Janeiro. Numa época em que não se falava em direitos civis dos cidadãos LGBTs, lá estava o velho Casanova transgredindo padrões de comportamento, isso em plena ditadura militar.
Talvez o grande mérito do Cabaret tenha sido justamente o fato de ter sobrevivido a uma Lapa ainda marginal, uma Lapa de uma malandragem perigosa, mas meio inocente diante do que conhecemos hoje. Uma Lapa que era visitada, ao final da noite, pelos velhos camburões que, observavam com atenção, o público bêbado e feliz da vida, que saía da casa.
Uma pena que essa casa tão antiga e eclética tenha se acabado. Perderam os LGBTs, que tinham ali uma boa opção de balada, e principalmente perde o Rio de Janeiro, afinal de contas, o Cabaret Casanova era um marco histórico da cidade.
Foi ali no Casanova onde se formou o ainda embrionário "Dzi Croquetes", ali o lendário Madame Satã fez suas últimas incursões pela "sua" Lapa boêmia e onde artistas do porte de Carlos Machado e Alcione se apresentaram. "Cantei muito no Asa Branca, tenho ótimas lembranças de lá. E atualmente a Lapa ferve. Só lamento que tenha acabado o Cabaré Casanova, onde também me apresentei. É uma pena. Eu adoro cabarés! Afinal, trabalhei no Beco das Garrafas." Lamenta Alcione.
Suburbanos, como eu, se misturavam com intelectuais, artistas, músicos etc. Foi ali onde eu, e muitos outros, puderam desfrutar de um Rio que já não há.
Havia também, nessa época, um outro espaço muito significativo e igualmente democrático, o famoso "Boêmio", mas essa é uma outra história. Quem sabe eu não a conto outro dia?
eu tambem adorava o cabaret casa nova na lapa, era ótimo !!!!!!!!!!!!!!1
ResponderExcluireu tambem adorava o cabaret!!!!!!!!!!!!
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