Há muitos anos, através de uma amigo, fui apresentado à Turma OK. Um desses espaços divertidos, democráticos e muito agradável. Pairava na época, e acredito que ainda hoje, uma aura de descontração e generosidade contagiante.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção na época, foi o fato de que a maioria dos frequentadores era formada de pessoas maduras, e talvez justamente por isso, o clima amigável e descontraído. Me senti em casa. O clima era tão acolhedor que fiquei emocionado, e mesmo agora, depois de tantos anos, ainda fico, ao lembrar do aconchego e do calor dos sorrisos.
Visitei mais algumas vezes o espaço, mas por muitos fatores, que agora não vem ao caso, deixei de frequentar, mas as lembranças daqueles momentos tão agradáveis me fizeram prestar, aqui e agora, essa singela homenagem. Até para que outras pessoas conheçam, não só o espaço, mas também um pouco da história dessa turma tão generosa e alegre. E para isso, com autorização dos responsáveis, reproduzo a seguir um texto que retirei do próprio site da Turma. Uma turma para lá de OK!
"A Turma OK nasceu, como essas pequenas coletividades, numa das costumeiras reuniões que se realizavam semanalmente ou, no máximo, de 15 em 15 dias, no apartamento de Antônio Peres, no Edifício Varsóvia, situado na rua Almirante Tamandaré. Exatamente no dia 13 de janeiro de 1961.
No início se revezavam e as reuniões eram cada semana no apartamento de um deles.
De 1961 a 1969 a Turma OK funcionou regularmente, as reuniões continuavam sendo nos apartamentos.
Em meados de 1962, houve a incorporação de um grupo de pessoas, quase todas moradoras de Copacabana, que eram carinhosamente chamados de grupo da Zona Sul. Fazia parte desse grupo Carlos Miranda, Agildo Guimarães, Zozô, José de Assis, Sérgio Fernando e outros.
Nesse período as reuniões passaram a ocorrer não só na casa do Peres, mas também na residência do Carlos Miranda, na Rua Ministro Viveiros de Castro, no apartamento do Lisandro de Matos Peixoto, na Rua Marquês de Abrantes e o de José de Assis, na Av. N. Sra. de Copacabana.
Em 1972 um dos antigos sócios reuniu novamente os amigos e abriu as portas de sua casa para as reuniões: a Turma OK voltou a existir.
Naquela época, o tamanho do grupo não permitia mais que as reuniões fossem realizadas em apartamentos. Utilizávamos, então, as dependências do Clube 1º de Maio, em São Cristóvão, por deferência de seu Presidente, Sr. Milton Botelho, ou o Cabaré Casanova, por gentileza de seu proprietário, Sr. Nilson Salgueiro.
Por fim, há 21 anos, acharam um espaço permanente para reuniões, na rua do Resende 43, no Centro da cidade. Um antigo casarão de três andares, onde anteriormente funcionava um espaço cultural dedicado às artes plásticas e fixaram sede desde abril de 1982. Atualmente,(desde 2008), encontram-se na rua do Resende, 42 - Centro - RJ.
Funcionando como um clube, a Turma OK se mantém com contribuições dos associados. Possui um quadro social que não é maior que 200 sócios contribuintes, entre homens, mulheres e recentemente também participam alguns transexuais, todos têm uma carteirinha de sócio, e pagam a mensalidade de 35 reais por mês. Durante o fim de semana, cobram uma entrada para os não-sócios, e faturam também com o bar-restaurante, que funciona à noite durante os shows. Também contribui para sustentar a casa o bingo que lota de pessoas aos domingos. Além de gays, o público do evento é composto principalmente por senhoras, que vem com suas amigas, maridos e filhos. Com esse dinheiro pagam as despesas e montam os espetáculos e as festas.
A Turma OK tem atividades sociais e culturais únicas, que dão um charme especial ao local: shows, festas, concursos de fantasias, espetáculos musicais e de teatro são exibidos nos finais de semana. De segundas às quintas feiras, o espaço é usado para ensaio dos espetáculos, e para um curso de teatro, custeado pela entidade e aberto a quem quiser participar. Aos domingos programam os almoços de confraternização. Neles, quituteiros gays de mão cheia fazem pratos deliciosos, quem já comeu a moqueca de peixe com camarão, seguida de um quindim de bandeja dali, nunca esquece.
Há 6 anos, os Okeis criaram um surpreendente Talk-Show, que acontece sempre no segundo domingo do mês, quando convidam uma celebridade gay friendly para uma entrevista. É apresentado um espetáculo em homenagem ao artista, recriam suas cenas da TV ou dublam suas músicas. Gilles comanda este projeto. Desse evento já participaram um elenco de celebridades e artistas de tirar o fôlego: Scarlete Moon, Claudia Raia, Natalia Thimberg, Marlene, Luis Salém, Simone, Christiane Torloni, Sandra de Sá, Silvia Pfeiffer, Emilio Santiago, Leda Nagle, Ari Fontoura, Lucinha Lins, Araci Balabanian, Ivana Domênico, Jorge Aragão, Berta Loran, Adelaide Chiozzo, Elza Soares, Cláudio Lins, Luma de Oliveira, entre outros.
Mas a grande curtição dos sócios da Turma OK são os shows de dublagem. Hoje em dia esse tipo de show não tem para as novas gerações a importância que teve para os fundadores da Turma OK. No início dos anos 60, não existia qualquer tipo de manifestação cultural dentro da comunidade homossexual brasileira.
Não havia militância gay, nem um gueto livre com bares, boates, saunas. Não era possível encontrar uma leitura disponível como jornais e revistas gays, nem eram feitos filmes ou séries de televisão com temática (pró) homossexual. Ninguém imaginava que um dia iria existir a internet e as pessoas poderiam, com facilidade, entrar em contato umas com as outra em qualquer parte do mundo.
Estavam todos emparedados. E a única expressão cultural gay possível eram esses shows de dublagem. Hoje quando os Okeis homenageiam os ídolos como Carmem Miranda, Bette Middler ou Madonna, estão celebrando a cultura gay e afirmando sua própria inserção dentro da sociedade. A dublagem é uma tradição cultuada pelo grupo.
Só que no caso deste clube, os espetáculos são super produzidos. Num pequeno palco acontecem coisas de deixar o público boquiaberto. Isso acontece por uma simples razão: o time dos que trabalham nestes espetáculos conta com grandes profissionais do show business e da TV, que participam gratuitamente, só pelo prazer de fazer um espetáculo muito bacana.
Pessoas como Elísio Filho, ator, faz a coreografia, e juntamente com Zé Carlos inventa a bela cenografia. Luis Gaya, cabeleireiro da Globo, é ator performático. Gilles, um dos mais importantes profissionais de make-up do Brasil, ajuda na produção do visú. Os espetáculos são dirigidos por Márcio Azevedo, assistente de produção de elenco da Globo, que monta com talento todos os shows, além de ser um Cult DJ, capaz de desencavar as referências mais remotas da cultura musical gay brasileira e internacional e tocá-las para o público dançar.
A sede hoje localiza-se na Rua do Resende, 43 – sobrado, no Corredor Cultural da Lapa. Há um salão de estar que funciona como recepção, tem em suas paredes fotos e diplomas que contam a história da Turma OK e a secretaria. Conjugado há o salão de festas composto de um bar, espaço para mesas e cadeiras, tendo a discoteca e o palco que se torna o centro das atenções da casa e, contínuo, um camarim. Na atualidade, contam com o TBOK – Teatro Bar OK – que em épocas passadas sem essa denominação apresentou várias peças e montagens, com diversos diretores e artistas: Osmar Flores – “O sábio de Siracusa”, “Xeque Mate Mamãe”, “O Sagrado e o Profano”, “Solidão Bar Solidão”; Aristeu Ladeira – “O Homem com a Flor na Boca”, de Luigi Pirandello – Hélio Fonseca – “Feliz Ano Novo”, “A Cama”; José Rodrigues – “Bastidores”, “Tudo em Volta da Mesa”.
Não posso deixar de citar um dos grandes diretores teatrais criados dentro da Turma OK, Dom Carlos, que dentre outros projetos dirigiu “Bastidores”, que foi encenado no Teatro Gonzaguinha – Centro de Artes Calouste Gulbenkian. Ele, Dom Carlos, foi grande baluarte das artes da Turma OK, onde promoveu grandes festas, tendo se destacado como grande apresentador e personalidade ímpar inserido em nossa associação.
Hoje o palco da OK retomou a arte teatral realizando Oficinas de Teatro que já revelou atores e atrizes promissores e vem realizando no campo das artes cênicas peças teatrais. Com a formação do CTOK – Companhia de Teatro OK, recentemente tivemos “Chá só para as tias” de J. A. Santa Rosa, e “O Noviço” de Martins Pena, com a direção do professor Luiz Oswaldo Cunha, que também faz parte do quadro social da Turma OK."
Fonte: Turma OK
Muito obrigado a Bharoum e vera rodrigues Pela atenção!
Galera, fica a dica, visitem a Turma OK. Vale muito a pena!
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