Brasília – A escolaridade é um dos fatores que mais influenciam o
nível de preconceito da população em relação a homossexuais: quanto mais
anos de estudo, maior é a aceitação do indivíduo em relação à
diversidade sexual. É o que aponta pesquisa realizada pela Fundação
Perseu Abramo e coordenada pelo professor da Universidade de São Paulo
(USP) Gustavo Venturi. O estudo, com 2 mil entrevistados em 150
municípios, foi feito em 2009 e transformado em um livro que será
lançado em junho.
A pesquisa identificou que um em cada quatro brasileiros é
homofóbico. Foram considerados homofóbicos aqueles que têm tendência –
forte ou fraca - em transformar o preconceito que sentem em relação a
esse público em atitudes discriminatórias. Esse perfil foi detectado a
partir da resposta dada aos participantes a perguntas como "homossexuais
são quase sempre promíscuos", "homossexualidade é safadeza" ou "a
homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada".
Cruzando as respostas obtidas com as características da amostra, foi
possível detectar, por exemplo, que mulheres são menos homofóbicas
(20%) do que os homens (30%) e que a variação de renda não tem grande
impacto nesse comportamento. Já a escolaridade é um dos fatores com mais
peso: enquanto entre os que nunca frequentaram a escola o índice de
homofóbicos é 52%, no nível superior é apenas 10%.
"Esse efeito não é porque o assunto [a homossexualidade] esteja nos
programas pedagógicos. Se estivesse, o efeito seria maior. Mas o
simples fato da convivência com a diversidade nas escolas faz com que
isso se reflita em taxas menores", explica Gustavo Venturi.
A pesquisa também entrevistou cerca de 500 homossexuais para
investigar de que forma eles são vítimas de preconceito. Metade (53%) já
se sentiu discriminada e os colegas de escola aparecem como segundo
autor mais frequente dessa prática, depois de familiares. Quando
perguntados sobre a primeira vez em que foram discriminados, a resposta
mais frequente é "na escola".
"Há uma tolerância na sociedade com a discriminação de LGBTs [lésbicas, gays,
bissexuais e travestis], ela se sente mais a vontade para falar que não
gosta, diferente do que acontece com os negros", compara o pesquisador
ao lembrar que estudos feitos pela Fundação Perseu Abramo sobre
preconceito contra outras minorias apontaram taxas menores de
discriminação.
A religião também influencia na aceitação da população LGBT. Entre
os evangélicos, 31% têm tendência a comportamentos homofóbicos, contra
24% dos católicos, 15% dos praticantes do candomblé e 10% dos
kardecistas. Além do acesso a informação e da frequência a escola,
Venturi aponta como estratégia importante para o combate a homofobia uma
legsilação específica que coiba esse comportamento, como já existe com o
racismo.
"Quando a legislação vem, já reflete uma maturidade da sociedade.
Depois, ela vai atuar de forma preventiva entre aqueles mais
resistentes. Mesmo que digam que a pessoa não vai mudar seu pensamento,
ela só vai se preocupar em não ser punida, isso do ponto de vista da
reprodução do preconceito é importante. Para ser reproduzido, o
preconceito precisa ser dito e se você diminui os espaços sociais para
que isso ocorra ele vai ter uma reprodução menor e tende a diminuir",
diz.
Fonte: Agência Brasil
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