O atentado no Arizona e a retórica da violência.

No último sábado, dia 08/01, o atirador Jared Laughner, 22, que já está sob custódia,  fez vários disparos em um evento político em Tucson no Arizona. Seis pessoas morreram, entre elas uma menina de 9 anos e um Juiz Federal, outras 14 ficaram feridas, entre elas Gabrielle Giffords, deputada que representa o Estado do Arizona, e que era o principal alvo do ataque. As últimas notícias sobre o estado de saúde da deputada, dão conta de que ela já respira sem a ajuda de aparelhos. Segundo os médicos, Gabrielle além de já respirar sem aparelhos, está acordada e respondendo a estímulos. Especialistas do Centro Médico Universitário de Tucson afirmam que Giffords está em estado crítico, mas "consegue se comunicar". O projétil atravessou seu cérebro do lado esquerdo, entrando por trás da cabeça e saindo pela frente, mas sem passar de um hemisfério do cérebro para outro, o que é considerado positivo. Graças a rápida intervenção das equipes de emergência, a deputada foi operada apenas 38 minutos depois do ataque.

Giffords defende pesquisas com células-tronco, reforma nas leis de imigração, energia sustentável, direitos humanos e LGBTs. Após a vitória para a Câmara dos Representantes em 2006, Giffords agradeceu a Human Rights Campaign (HRC), a maior organização nos EUA de defensa dos direitos LGBT, e a comunidade LGBT em geral pelo seu apoio. "Eu defendi a igualdade no Arizona, e estou grata a HRC e a comunidade LGBT que apoiaram a nossa campanha durante as primárias e as eleições gerais. Nós podemos fazer muito pelas nossas famílias, quando trabalhamos juntos. A justiça é um valor essencial americano, e quando defendemos a justiça, podemos conquistar vitórias decisivas, mesmo nas áreas mais competitivas do Congresso."

O presidente da HRC, Joe Solmonese, afirmou-se chocado com o tiroteio. "Estamos chocados e tristes com os acontecimentos envolvendo a representante Giffords e nossos corações estão com ela e as outras vítimas desta terrível tragédia", Gabby Giffords é uma defensora da igualdade LGBT e uma líder de princípios para o Arizona. Desejamos-lhe uma rápida recuperação e os nossos pensamentos e orações estão com a sua família, bem como com as famílias de todos aqueles tocados pelo terrível violência de hoje."

Em relação ao atentado, o Xerife Clarence Dupnik, encarregado do caso, denunciou o clima "ácido" da política norte-americana, responsabilizando claramente a extrema-direita e sua retórica que estimula "o ódio e a paranóia". O prêmio Nobel de Economia (2008) Paul Krugman escreveu em sua coluna do New York Times que "estava esperando algo assim", dado o clima de vingança da extrema direita contra os democratas e contra o recém aprovado projeto de reforma da saúde. Veio também a tona, a existência de um relatório do Departamento do Interior (encarregado da segurança interna) de abril de 2009, que dizia  estar em ascensão "o extremismo de direita".

No meio disso tudo está Sarah Palin, líder do Movimento Tea Party, de extrema-direita, nos Estados Unidos, motivo: em sua página no Facebook, ela havia colocado um mapa dos Estados Unidos com "alvos" a serem "atingidos". Entre os alvos, no Arizona, estava o nome de Gabrielle. Abaixo o mapa:



Sarah Palin teve seu pedido atendido, claro que ela está tentando tirar o seu da reta, mas, contra fatos não há argumentos. Ela não só está sendo apontada por democratas e gente mais a esquerda como "mentora" do clima psicologicamente adverso e virulento, mas inclusive republicanos e partidários de sua possível candidatura a presidência em 2012, contra Barack Obama, se mostraram insatisfeitos com suas atitudes e reações. Entre os republicanos tradicionais há uma certa resistência a Palin e seu grupo Tea Party, vistos como parceiros incômodos pelo seu extremismo. Quanto aos correligionários, alguns mostraram-se insatisfeitos dizendo que Palin não se saiu bem do episódio. Ela retirou o mapa do ar, mas já era tarde demais, agora ele já está amplamente divulgado na internet e em vários canais de TV. Além disso, ela manifestou "pesar", enviou "condolências". Não sei se alguém irá acreditar em Sarah, até porque, "pesar" e "condolências" não irão apagar o que aconteceu. O melhor a fazer agora é tentar rever toda essa retórica de violência e intolerância que, aliás, não são exclusividades dos extremistas americanos.

Esses políticos sabem que, sempre haverá um maluco pronto para cometer esse tipo de atrocidade. É justamente com isso que eles contam, eles jogam esses discursos no ar na esperança de que isso possa incentivar pessoas como Jared a cometer esses crimes de ódio. Depois esses mesmos políticos posam de coitadinhos e fingem que não sabem por que esse tipo de coisa acontece. Qualquer pessoa que tenha o poder de formar opinião e utiliza essa retórica de ódio e intolerância, na verdade está incentivando e validando ações violentas e absurdas como esse atentado.

Comentários

  1. As pessoas estão ficando mais intolerantes, só espero que ela se recupere.

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