A homofobia na África

Por: Julio Marinho

A perseguição aos cidadãos LGBTs na África está se intensificando assustadoramente. Impulsionada por pregadores fundamentalistas intolerantes e políticos homofóbicos que usam a religião e o poder econômico como forma de repressão. No berço mais antigo da civilização, os LGBTs não têm mais acesso aos cuidados de saúde, são presos, torturados e mortos.

A crescente onda de homofobia na África acontece num momento em que LGBTs vem se expressando mais abertamente, solicitando maior atenção da mídia e mais debates sobre a homossexualidade. O rápido crescimento do islamismo e do neopentecostalismo, que tanto defendem pontos de vista conservadores sobre o que eles consideram como "valores da família" e do "casamento tradicional", têm persuadido os africanos de que a homossexualidade não deve ser tolerada em suas sociedades.


"Nunca foi tão difícil para gays e lésbicas no continente", disse Monica Mbaru, coordenadora da
International Gay and Lesbian Human Rights Commission, com base na Cidade do Cabo. Segundo ela: "A homofobia está em ascensão." Temendo por suas vidas, muitos ativistas estão escondidos ou fugiram de seus países.

Em Uganda, um projeto de lei apresentado no Parlamento no ano passado (aqui), iria estabelecer a pena de morte, ou prisão perpétua para as relações entre pessoas do mesmo sexo. Além disso, jornais locais incitam a população para atacar homossexuais (aqui), dizem os ativistas. Um dia depois que o artigo de um jornal disse que os gays "deveriam ser enforcados", Sheila Mugisha Hope, outra ativista dos direitos LGBTs, se tornou um alvo. Segundo Mugisha, a medida que ela se aproximava de casa, os meninos do bairro jogavam pedras e gritavam: "Você é gay". Mugisha foi obrigada a ficar trancada dentro de casa por vários dias. "Aqui, a homossexualidade é encarada como se você tivesse matado alguém", disse.

Ativistas americanos enviam dinheiro para tentar ajudar a comunidade LGBT africana. Os governos ocidentais, incluindo os ativistas, têm veementemente criticado o projeto de lei e denunciam constantemente o tratamento dispensado aos gays.

Isso tem irritado os pastores conservadores africanos, muitos dos quais são influenciados pelos grupos cristãos anti-gays americanos e políticos, que dizem que os valores africanos estão sob ataque por atitudes ocidentais. Só não explicam que valores são esses, já que, valores cristãos e islâmicos, só fizeram parte da cultura africana após as colonizações. E foram justamente essas colonizações as responsáveis pela aculturação africana. Eles dizem que seu objetivo é mudar o comportamento sexual dos gays, para não prejudicá-los fisicamente. Falam como se sexualidade fosse uma escolha, algo passível de ser reorientado.

"Em Uganda, olhamos para a homossexualidade como uma abominação. Não é normal", disse Nsaba Butoro, ministro de Uganda - que é um ferrenho defensor do projeto de lei -, falando sobre o que ele considera ética e integridade. "Você está falando de um choque de culturas a questão é: Que cultura é superior, a Africana ou o Ocidental?". O problema aqui é que, Nsaba está justamente fazendo um julgamento moral totalmente ocidental, influenciado pelos valores cristãos. Ele tenta defender a "cultura africana", mas na verdade esta defendendo valores cristãos. Até porque, a homossexualidade, segundo o professor e ativista Luiz Mott, já estava presente na África antes da colonização, portanto, sem "influência" ocidental. Além disso, a homossexualidade estava presente em outras culturas, por que na África seria diferente?

Mais de dois terços dos países Africano têm leis que criminalizam a homossexualidade. Em maio, um juiz do Malawi estabeleceu uma pena de prisão máxima de 14 anos de trabalhos forçados em um casal gay condenado por "atos não naturais", por conta da realização de uma cerimônia de noivado. O presidente do Malawi perdoou o casal após a condenação internacional, particularmente da Grã-Bretanha, o maior doador do Malawi.

Gays também foram atacados este ano no Zimbábue, Senegal e seus túmulos foram profanados. Gays no Camarões foram atacados pela polícia e alvo da mídia. Em Gâmbia, o presidente Yahya Jammeh, prometeu expulsar os gays do país e exortou os cidadãos a não alugarem casas para eles.

Triste realidade do lugar mais miserável do mundo, onde a fome e a pobreza são flagelos que parecem eternos. Terra rica, população vivendo em extrema pobreza, como explicar? Talvez (aqui) possamos entender um pouco mais os porquês.

Comentários

  1. Onde há pobreza há ignorância, onde há ignorância há homofobia. Simples assim!

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  2. Os Judeus fazem a mesma coisa com os palestinos em Israel por decadas, no Egito, os muçulmanos fazem o mesmo com qq um que não seja da crença há muito tempo, nem por isto vcs estão preocupados. É muito fácil reclamar quando algo ocorre com o seu grupo. A discriminação é global e por qualquer motivo, raça, classe social, porte ou defeitos físicos, crença, etc, e há muito tempo. Não entendo o pq da indignação com o que ocorre na africa agora.

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