As religiões e a homofobia.

Por: Julio Marinho


A igreja sempre é rápida em anunciar o seu apoio para as vítimas de ataques homofóbicos, mas é ainda mais rápida para absolver a religião de qualquer responsabilidade sobre eles. Segundo os líderes religiosos, a igreja "prega o amor para todos, mesmo para as pessoas com as quais ela não concorda."

Ao mencionar que as instituições religiosas aceitam, mesmo aqueles com os quais elas não concordam, pode-se presumir que os religiosos sustentam que a posição dessas religiões; basicamente o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo;  contra a homossexualidade é correta, e que, essas instituições não são responsáveis pela homofobia, simplesmente porque não apoiam oficialmente a violência.

Ora, o que esses religiosos pretendem ao fazer tal afirmação, na verdade é uma falácia. Na realidade, essas religiões são sim, responsáveis pela homofobia, já que, elas têm grande poder de influenciar as opiniões e as ações daqueles que seguem seus ensinamentos. As doutrinas dessas religiões, são as partes mais importantes na construção da moralidade para seus devotos e, o desprezo desses líderes religiosos pela homossexualidade, pode se manifestar como ódio contra os LGBTs sim. Mesmo que alguns sacerdotes tentem amenizar o discurso em seus sermões, os fiéis sabem que a instituição que seguem é contra a homossexualidade.

Para sugerir que as opiniões religiosas contra a homossexualidade não tenham qualquer ligação com os atos de violência, e não assumir a responsabilidade, líderes religiosos frequentemente oferecem uma solução casuística para o problema do conflito entre a intolerância religiosa e os LGBTs, dizem: "Amamos o pecador, mas odiamos o pecado". Em relação a homossexualidade, esta é uma posição espetacularmente contraditória. A sexualidade é parte inseparável de uma pessoa e, portanto, odiar a orientação sexual de alguém, é o mesmo que odiá-la, fato. As vítimas não são atacadas pelo que fazem, mas sim pelo que são.

Quando a violência homofóbica ocorre, esses líderes religiosos fundamentalistas podem até dizer que apoiam as vítimas, porque os aceitam como indivíduos. No entanto, quando as questões de direitos civis dos LGBTs são discutidas, esses mesmos líderes, estão presentes em todas as oportunidades possíveis para se posicionarem de forma contrária. Essa hipocrisia simplesmente não funciona, essas igrejas não podem ter as duas coisas. Se os líderes religiosos querem ser realmente levados a sério, quando se aproximam das vítimas de tais ataques, eles deveriam mudar suas atitudes em relação aos LGBTs.

Uma religião ou ideologia simplesmente não pode pregar contra um grupo de pessoas durante séculos e, simplesmente se dizer inocente quando tal pregação leva a atos de violência contra este mesmo grupo. Em vez de tentar transferir a culpa para longe da religião, os líderes religiosos deveriam pedir desculpas para os efeitos que esses ensinamentos tiveram sobre os LGBTs e, reconhecer a sua responsabilidade.

Muitos irão interpretar esse texto como um ataque direto aos fundamentos da sua fé, mas não é o caso. Pelo contrário, o objetivo aqui é destacar a hipocrisia dessas igrejas que, tentam usar dois chapéus ao mesmo tempo quando se trata de direitos civis dos homossexuais. Os LGBTs já estão cansandos de ouvir que os cristãos se preocupam com eles, afinal de contas, são essas mesmas pessoas que estão sempre lá, para bloquear qualquer tentativa de igualdade de tratamento.  

Os ataques nunca irão parar, a menos que as igrejas, que atacam a homossexualidade, assumam a responsabilidade por seu papel no incitamento da intolerância e dos atos de violência. E, se comprometam a promover uma mudança na visão da sociedade sobre os LGBTs.

Um dia, o Papa terá que vir a público pedir desculpas pelo tratamento que a Igreja Católica, por exemplo, dá aos homossexuais. Da mesma forma que os pontífices anteriores, tiveram de se desculpar por várias outras atrocidades da Igreja; incluindo a marginalização das mulheres, a conversão forçada dos povos indígenas, a demonização dos negros e o silêncio conveniente durante o Nazismo. Quando esse pedido de desculpas for feito finalmente, os religiosos não terão escolha, a não ser, a  de parar com essa perseguição desumana e irracional. Até então, as religiões que compartilham as mesmas posições sobre a homossexualidade, sempre terão uma enorme parcela de culpa por todos esses episódios de ódio e violência contra os homossexuais.